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Sara é realizadora e dá cartas lá fora: "Começa-se tarde em Portugal"

Sara Eustáquio ainda é menor de idade mas já tem um currículo de ‘gente grande’. A jovem realizadora portuguesa já conseguiu mais de uma centena de prémios com apenas duas curtas-metragens e encontra-se, neste momento, nos Estados Unidos a estudar cinema na CalArts (California Institute of the Arts). Ao Notícias ao Minuto diz que não se quer desiludir a si mesma.

Sara é realizadora e dá cartas lá fora: "Começa-se tarde em Portugal"
Notícias ao Minuto

08:30 - 16/12/17 por Anabela de Sousa Dantas

Cultura Sara Eustáquio

Sara Eustáquio, natural de Torres Vedras, iniciou o seu percurso como realizadora com a curta-metragem ‘4242’, uma história baseada numa colega de turma, Cristina Caldararu, uma romena em pleno processo de adaptação a um novo país. O sucesso desta primeira aventura na realização levou Sara até à CalArts (California Institute of the Arts), em Los Angeles, onde vive desde agosto.

O talento precoce de Sara chamou a atenção da Fundação Disney, na Califórnia, que ofereceu à portuguesa uma das dez bolsas anuais para aquela instituição.

Entretanto, e também no âmbito académico, Sara já lançou ‘Mirror’, a sua segunda curta, e tem um guião para uma terceira, ‘Neverland’. ‘Mirror’ é um thriller de apenas três minutos, rodado em Nova Iorque, como projeto final de um curso intensivo de realização cinematográfica na New York Film Academy (NYFA), que concluiu em 2016.

As duas micro-curtas já passaram até à data por mais de 300 festivais de cinema em cerca de 40 países, conseguindo um total de 122 prémios. Em entrevista ao Notícias ao Minuto, Sara explica que tenta não se focar em outras pressões que não a de encontrar “a sua própria linguagem cinematográfica”.

Como surgiu a  paixão pela realização? Isto é, quando descobriu que ia ser o seu futuro?

Desde pequena que tenho uma paixão por vídeo e por editar pequenos projetos. No entanto, só comecei a pensar no cinema como uma possível profissão para mim, aos 14 anos. Tive de fazer um projeto para a escola em vídeo, que acabou por ter muitas visualizações no YouTube e muitos elogios por parte de amigos e familiares. A partir daí, fiquei com mais vontade em explorar a realização e quis fazer um projeto mais a sério para conseguir perceber se de facto era do que mais gostava. Foi assim que também surgiu o ‘4242’.

Já ganhou mais de uma centena de prémios com duas curtas. É um fator de pressão?

Acaba por ser um fator de pressão mas acho que a maior pressão que sinto vem de mim própria. Sei do que sou capaz e estou sempre à espera de melhorar. Portanto, mesmo que os prémios causem alguma pressão, tenho mais receio de me desiludir a mim mesma.

Fez um curso da NYFA e agora está a estudar na CalArts. Já teve oportunidade de aprender com alguém de quem é fã?

Há pouco tempo, a CalArts trouxe o Tom Cross, que editou os filmes ‘Whiplash’ e ‘La La Land’, à escola. Foi bastante interessante principalmente porque foi numa sala com poucas pessoas e o ambiente intimista criou bastante descontração não só pela parte do Tom Cross, mas também das pessoas presentes. Ele falou da sua carreira e do que é fazer filmes em Hollywood, o que foi bastante enriquecedor. Para além disso, algo menos sério, vivo nos dormitórios da minha universidade e graças a isso conheci um rapaz que trabalhou no departamento de costume designer de filmes de terror como ‘Annabelle 2’ e ‘IT’, dos quais sou fã.

‘Neverland’ tem vindo a ser adiado. Qual é o tema do filme e quando espera concluir o projeto?

O ‘Neverland’ era para ter sido filmado no ano passado mas como é um projeto mais ambicioso não tem sido fácil calendarizar uma boa altura para as gravações, principalmente devido à minha mudança para os Estados Unidos, sendo que é um projeto que quero filmar em Portugal. É uma curta-metragem que aborda a contradição de sentimentos que se vive na adolescência, principalmente quando se começa a transição para a vida adulta. Escrever o guião para o ‘Neverland’ foi uma maneira de eu própria compreender os meus sentimentos e de tentar mostrar esta fase da adolescência contada pela visão de uma adolescente que estava a viver nesse turbilhão de emoções.

‘4242’ é sobre a experiência de uma jovem numa nova realidade a que tem de se adaptar e 'Mirror' é sobre uma jovem em conflito entre realidade e ficção. Foram temas causais ou é importante para si levar ao ecrã os conflitos internos e as vivências na perspetiva de uma mulher?

As minhas duas curtas-metragens acabam por ser um bocado a reflexão de mim mesma. Enquanto há pessoas que escrevem, desenham ou fazem música para expressar as suas emoções, eu faço-o através de filmes. Tanto o ‘4242’ como o ‘Mirror’, embora tenham linguagens cinematográficas completamente distintas, acabam por ser uma reflexão das minhas emoções e é isso que tento levar ao ecrã. Algo com que me relaciono e com que alguém se possa também relacionar eventualmente.

Como surgiu a bolsa da Fundação Disney?

A CalArts atribui bolsas através da Fundação Disney pelo mérito dos portfólios dos alunos. Na altura em que me foi atribuída a bolsa, também recebi um email do departamento de Film and Video a elogiar o ‘4242’, a curta-metragem com que me candidatei.

Começa-se muito tarde em Portugal. O ensino secundário não oferece formação na área do cinemaGostava de trabalhar em Portugal?

Neste momento estou mais concentrada nos Estados Unidos, principalmente porque é o local onde estou a estudar, mas também não me importava de vir a trabalhar em Portugal um dia, fazer alguns projetos.

A sua formação tem sido muito no estrangeiro. Qual é a sua opinião sobre as oportunidades para jovens ao nível da formação, em Portugal, em realização?

Começa-se muito tarde em Portugal. O ensino secundário não oferece formação na área do cinema. Nos Estados Unidos, um jovem realizador tem menos de 18 anos, porque a partir daí começa a profissionalizar-se. Além de que, mesmo havendo depois várias oportunidades de formação em Portugal, ao nível do ensino superior, falta tudo o resto. As escolas de cinema não têm equipamentos e está tudo dependente dos financiamentos, dos subsídios. E isto cria uma ideia errada de como deve funcionar esta indústria. Pela minha experiência aqui nos Estados Unidos, é tudo muito pragmático. Se não há meios financeiros então tem de se ser criativo e tentar ir por outros caminhos e nunca cruzar os braços.

O que gostava de trazer ao cinema português, quando tiver oportunidade?

Ainda não pensei nisso. Neste momento estou mais focada em conseguir encontrar a minha própria linguagem cinematográfica.

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