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Casa do Artista: A morada que acolhe depois dos adeus aos palcos

Demorou 20 anos a passar da ideia à realidade. O sonho, o que fundou a ideia, vem ainda de mais longe. Hoje alberga dezenas de artistas, retirados ou não dos palcos, conhecidos ou a quem poucos conhecem o rosto. Este é o primeiro capítulo da história de quatro artistas e uma casa, "uma casa onde nunca se envelhece".

Notícias ao Minuto

08:30 - 18/12/17 por Marina Gonçalves e Sérgio Abrantes

País Grande Reportagem

"Tínhamos conhecimento de que muitos colegas morriam sozinhos num quarto alugado, com pensões miseráveis, porque era tudo miserável. Nós tivemos sorte… Tínhamos conhecimento dessas realidades, dessas tristezas, desses episódios dramáticos que viviam os nossos colegas. E pensámos… talvez agora seja possível”.

As palavras são de Manuela Maria. Atriz reconhecida do grande palco, da televisão e de uma luta pela dignidade da arte e do artista em Portugal. Acutilante, sem ‘papas na língua’, Manuela Maria explicou-nos como nasceu o projeto para a casa que hoje alberga dezenas de ex-artistas. Foram 20 anos de ‘luta’, ao lado de muitos que se juntaram para ajudar a construir um lar para os que elevam a arte e levam o nome de Portugal mundo fora.

“Ainda hoje quando falo disto me rio de todas as solas gastas. Uma vez trocaram o projeto dos telefones pelo da eletricidade. Estive três meses à procura do projeto. Estava nos correios do Rato. Fi-lo sempre com um sorriso. (…) Faria tudo de novo. Valeu muito a pena. Não dou o tempo por mal empregue”.

A ideia chegou a Portugal ‘importada’ do Brasil. O sonho era arranjar uma última morada para todos aqueles que não tinham onde passar, com conforto e liberdade, os seus dias. Nasceu em 1966, mas demorou mais de 10 anos a sair do papel. As lutas foram variadas.

“O Raul Solnado trouxe a ideia em 1966. Antes de nós, alguns colegas, nos anos 30, tentaram e não conseguiram. Nós achámos que era uma ideia utópica. Foi um sonho que se concretizou. Mas só depois da Revolução. Nessa altura dissemos: ‘vamos tentar agora’. De 1966 a 1976 ficou a ideia de que havia algo no Brasil…”, começou por contar a atriz.

A calmia depois da Revolução trouxe o ambiente propício para lançar a semente e... a árvore foi crescendo. Primeiro o terreno, depois o anteprojeto, depois o projeto, e em 1999 a inauguração. Na declaração inicial de abertura de portas, Armando Cortez sumariou todo o percurso de forma ímpar: “O tempo obrigou a que uma obra começada por relativamente novos, para relativamente velhos, fosse acabada por velhos para relativamente novos!”.

“Foi uma batalha que demorou 20 anos. Andámos 20 anos com um ar alegre e feliz. Como se compreende, com grandes percalços. (...) Passou na Assembleia Municipal com o voto não de um determinado partido, com abstenção de outro, mas felizmente dois partidos disseram: ‘vamos lá fazer isto’. Tudo isto demorou muito tempo”, afirmou Manuela Maria, elucidando que é ao público que deve tudo.

“Em Portugal há muito pouco respeito pelos artistas por parte dos governantes. Se o público não gostasse… não tínhamos trabalho. Sem público não somos nada. Estamos aqui pelo público”, defendeu.

E foi o público, o palco e os bastidores que preencheram a vida das quatro histórias que vamos trazer durante os próximos dias.

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