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Museu da Música deve ter "amplas e condignas" instalações em Lisboa

A etnomusicóloga Salwa Castelo-Branco, investigadora e ex-vice-reitora da Universidade Nova de Lisboa, defendeu a instalação do Museu Nacional da Música (MNM) em amplas e condignas instalações no centro de Lisboa, lamentando a suspensão do Arquivo Sonoro Nacional.

Museu da Música deve ter "amplas e condignas" instalações em Lisboa
Notícias ao Minuto

09:15 - 15/11/17 por Lusa

País Investigador

A proposta governamental, adiantada à agência Lusa pelo gabinete do ministro da Cultura, no início do mês, de dividir o MNM em dois polos -- nos palácios Foz, em Lisboa, e no de Mafra -, foi qualificada pela investigadora como "preocupante".

Quanto à possibilidade de instalação em Mafra, apesar de "se terem de criar as condições necessárias", Salwa Castelo-Branco, que coordenou o Departamento de Ciências Musicais da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova, considerou, em declarações à Lusa, que se "perderia uma das vocações importantes [do museu] que é a ligação à população, nomeadamente os turistas".

"Não se põe em questão a importância de Mafra enquanto instituição musical, mas pôr lá a coleção [do MNM] é isolá-la da cidade e da possibilidade de ser trabalhada e estudada com a intensidade que poderia ter", argumentou a fundadora do Instituto de Etnomusicologia Centro de Estudos em Música e Dança, da Nova.

Outra componente do MNM, que qualificou como "essencial", é uma biblioteca musical e arquivo de partituras, disse à Lusa.

"É uma grande pena dividir a coleção tão interessante e valiosa do Museu Nacional da Música, que merecia estar em instalações condignas e amplas no centro da cidade [de Lisboa], com espaço para expor tudo o que se encontra nas reservas", defendeu.

"O que vemos na estação de Metropolitano [do Alto dos Moinhos, onde está instalado o MNM] é uma pequena amostra da enorme e valiosa coleção do museu", acrescentou a investigadora, que também esteve na vice-presidência do Conselho Internacional de Música Tradicional da UNESCO.

"Ficou em suspenso o projeto importantíssimo para o país de criação de um Arquivo Sonoro Nacional, integrado no MNM, ou noutra instituição ou até, eventualmente, como instituição independente", recordou.

Salwa Castelo-Branco explicou à Lusa que "o arquivo sonoro seria uma infraestrutura que permitiria as condições tecnológicas para preservar e disponibilizar 'online' e presencialmente o património fonográfico de Portugal, e até, eventualmente lusófono".

A investigadora, que coordenou a "Enciclopédia de Música em Portugal no Século XX", qualificou como "muito preocupante" ter ficado em suspenso este arquivo, depois de ter sido feito "muito trabalho" pelo Instituto de Etnomusicologia, em colaboração com o Museu do Fado, na digitalização e disponibilização do espólio que foi adquirido por Portugal ao colecionador inglês Bruce Bastin.

A etnomusicóloga, que fez parte do corpo de investigadores do Centro de Estudos da Universidade de Colômbia, em Nova Iorque, realçou ainda o facto de haver em Portugal "pessoas formadas e com experiência para fazer o trabalho", e que "a tecnologia [necessária] não é assim tão cara". E, quanto ao espaço, não é necessário um edifício, mas "um espaço laboratorial para se poder trabalhar".

"Há muitos países europeus que têm museus da música, que têm uma visão ampla do que é um museu da música, uma instituição ampla que integra domínios musicais diversos, [com] instrumentos musicais, mas também espólios de outra natureza", afirmou.

A investigadora defende que "uma solução em Lisboa seria muitíssimo melhor e daria continuidade e capacidade de desenvolvimento de uma instituição da maior importância para a música no país".

A tutela, que deverá fazer o anúncio oficial da divisão do museu em dois polos na sexta-feira, em Mafra, disse à Lusa que, até ao final de 2018, pretende transferir o espólio do barroco dos séculos XVII/XVIII, das atuais instalações do MNM, em Lisboa, para o Palácio Nacional de Mafra, onde também deverá criar um setor dedicado às bandas filarmónicas e militares. O espólio posterior, do romantismo, deverá ficar no Palácio Foz.

O MNM encontra-se instalado num espaço provisório cedido pelo Metropolitano de Lisboa, no Alto dos Moinhos, desde 1994.

Antes, o acervo esteve no edifício do Conservatório Nacional (1946-1971), de onde seguiu para o Palácio Pimenta (1971-1975), acabando por ser depositado na Biblioteca Nacional (1980-1991), em Lisboa, onde foi inventariado.

De 1991 a 1994, as coleções estiveram armazenadas no Palácio de Mafra, onde permaneceram empacotadas até à sua exposição ao público, com a abertura do MNM, em 26 de julho de 1994.

O Museu da Música detém "uma das mais ricas coleções da Europa", de acordo com a sua apresentação, contando com cerca de 1.400 instrumentos, entre os quais o cravo de Joaquim José Antunes (1758), o cravo de Pascal Taskin (1782), o piano Boisselot, que o compositor e pianista Franz Liszt trouxe a Lisboa, em 1845, e o violoncelo de Antonio Stradivari, que pertenceu ao rei D. Luís.

Espólios documentais, acervos fonográficos e iconográficos, como os de Alfredo Keil, autor do Hino Nacional, fazem também parte do MNM, além de doações que de forma regular tem recebido.

A agência Lusa procurou ouvir outras entidades, associações e investigadores, que preferiram aguardar pela apresentação do projeto, prevista para a próxima sexta-feira.

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