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Incêndios: Em Álvaro, "horta ambulante" da Junta ajuda quem tudo perdeu

A manhã começa em Álvaro com o presidente da Junta de Freguesia a distribuir hortícolas às populações que ficaram com as hortas queimadas no incêndio que há um mês atingiu o concelho de Oleiros, Castelo Branco.

Incêndios: Em Álvaro, "horta ambulante" da Junta ajuda quem tudo perdeu
Notícias ao Minuto

10:00 - 15/11/17 por Lusa

País Reportagem

"Chegou o merceeiro!". Assim se anuncia o autarca a quem já o espera, enquanto estaciona uma carrinha de caixa aberta carregada de legumes.

Na horta ambulante conduzida por José Nunes, há tomate, alface, couve-flor, curgete, alho francês, abóbora, brócolos e repolho, entre outros frescos que desapareceram das encostas de Álvaro desde que o fogo consumiu hortas, olivais e vinhas.

Nova remessa fica prometida para os próximos dias. O autarca de 47 anos, que deixou Lisboa em 2009 com a mulher e o filho para se instalar na terra do pai, segue para o armazém onde se guardam os bens doados à população.

À semelhança do quem tem acontecido no resto do concelho, a Junta de Freguesia tem contado com a ajuda de voluntários para transportar e triar roupas, mobílias, loiça, alimentos e pequenos eletrodomésticos.

Entre os voluntários tem estado um casal de arquitetos alemães que "deixou tudo" para se instalar em Álvaro, onde comprou duas casas. "Há um mês, perderam tudo", conta o autarca, enquanto mostra o armazém à agência Lusa e vai testando um aquecedor a óleo para levar a um dos habitantes da aldeia.

Aqui há também alimentos não perecíveis. O que sobrar vai para a Loja Social, em Oleiros.

Álvaro tem menos de 200 habitantes e foi das freguesias onde o fogo deixou marcas maiores. É dos locais mais emblemáticos do município, pela história, pelo património religioso e natural. A povoação está integrada na Rede das Aldeias de Xisto.

A Capela da Misericórdia (século XVI), que apenas abre na Páscoa e no Dia de Santa Isabel, ainda cheira a fumo. Na Igreja Matriz, as flores que adornam os altares são hoje de plástico. "Ardeu tudo", justifica Raquel Freire, a funcionária da Loja de Xisto, que é também guardiã dos templos: "Só no Santíssimo é que não são de plástico, dizem que não é bom".

O incêndio destruiu a casa dos pais, com 80 anos, e da tia (86), como tantas outras que parecem ter sido alvo de um bombardeamento: "Foi uma grande tragédia o que aconteceu aqui. Choro todos os dias".

Enquanto vai puxando lenços de papel, confessa que o maior desejo é ver as casas refeitas. "A Câmara diz que vai fazer depressa, mas ainda não sei quando. Têm sido muito nossos amigos, mas demora tudo muito tempo", lamenta.

"Os bombeiros quando cá chegaram perguntaram se estávamos vivos, pensavam que já estava tudo morto em Álvaro", recorda. "Não é difícil ver isto todos os dias, é horrível".

Na vila de Oleiros, onde as chamas não chegaram a entrar, o comércio ressente-se, do cabeleireiro à florista, passando pelo hotel e o posto de turismo.

"As pessoas estão sem autoestima, tudo o que tiverem agora é para recuperar o que perderam", diz Ana Fernandes, cabeleireira natural da terra, que se orgulha de conhecer bem o povo. "Estamos a sentir uma quebra [no negócio] e vamos sentir ainda mais, não tenho dúvidas".

Dália Simão, florista no centro de Oleiros, partilha a mesma realidade. "Sabe que a época dos finados é a melhor do ano para uma florista e este ano a quebra foi bastante grande. Há pessoas que ficaram sem nada, portanto, não vão gastar dinheiro em flores", diz, conformada.

"São coisas que não são de primeira necessidade, acho que ainda vamos sentir mais. Temo que daqui a meia dúzia de anos não haja ninguém nestas aldeias", receia.

Os habitantes destas localidades são também confrontados com as visitas dos animais selvagens às hortas e galinheiros, depois de os habitats terem sido destruídos pelo fogo.

Dália perdeu 14 galinhas num ataque de raposa, durante a noite: "Os animais bravos que ficaram por aí também têm de comer alguma coisa, não é?".

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