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"A diabetes não dói. O que dói são as complicações da doença"

É uma doença silenciosa, mas perigosa. A diabetes afeta, atualmente, 13% da população portuguesa e estima-se que 44% das pessoas com diabetes estejam ainda por diagnosticar. Naquele que é o Dia Mundial da Diabetes, o Lifestyle ao Minuto falou com Joana Louro, assistente hospitalar de Medicina Interna/Unidade integrada de Diabetes do Centro Hospitalar do Oeste – Caldas da Rainha para perceber o que está a falhar na prevenção e controlo da doença.

"A diabetes não dói. O que dói são as complicações da doença"
Notícias ao Minuto

12:20 - 14/11/17 por Daniela Costa Teixeira

Lifestyle Joana Louro

A realidade melhorou, mas os números continuam a ser assustadores. Nos dias que correm, entre dez a 12 portugueses morrem a cada dia à boleia da diabetes, uma doença silenciosa que afeta mais de um milhão de pessoas em Portugal.

Os dados foram esta terça-feira apresentados pela Direção-Geral da Saúde (DGS) num documento que revela que 13% da população portuguesa sofre de diabetes e que se estima que 44% das pessoas com diabetes estejam ainda por diagnosticar.

Mas, o que é que está a falhar? A prevenção. Ao Lifestyle ao Minuto, Joana Louro, assistente hospitalar de Medicina Interna/Unidade integrada de Diabetes do Centro Hospitalar do Oeste – Caldas da Rainha, falou da importância de mudar os hábitos diários e de educar a população para um estilo de vida mais saudável e ativo.

E essa educação começa, em parte, nos mais novos. "Nos últimos tempos, o diagnóstico de diabetes tipo 2 em pessoas mais jovens, adolescentes e até mesmo crianças, tem estado a aumentar, mostrando uma nova e dramática dimensão do problema", alerta.

Digo muitas vezes que a diabetes não é do doente, é da família

Fala-se muito da diabetes e quase todas as pessoas conhecem alguém mais ou menos próximo que padeça da doença, mas o número de diabéticos continua a aumentar. O que é que está a falhar?

A prevenção! E nesta entrevista falarei apenas da diabetes tipo 2. Porque existem outros tipos de diabetes (como a tipo 1) que não se podem prevenir. A prevalência da diabetes tem estado a aumentar a grande ritmo nas últimas décadas, em paralelo com a incidência da obesidade e o envelhecimento da população. Existem cerca de 415 milhões de pessoas com diabetes, 60 milhões de pessoas na Europa. E 90-95% têm diabetes mellitus [DM] tipo 2. Mais de 70% dos casos de Diabetes tipo 2 poderiam ser prevenidos através de mudanças comportamentais no estilo de vida. Mas a prevenção da diabetes parece ser cada vez mais difícil, na medida em que combater a obesidade no mundo atual é uma meta cada vez mais inalcançável. Porquê? Isso daria um tratado! Mas de uma forma muito resumida, exigiria uma profunda mudança de paradigma sociológico, um grande investimento educacional, uma tremenda vontade política e uma rutura com muitos interesses económicos.

É possível estimar o impacto da diabetes na saúde a nível nacional?

Segundo os dados do Observatório Nacional da Diabetes (dados de 2015), a prevalência estimada da diabetes na população portuguesa, com idades compreendidas entre os 20 e os 79 anos, foi de 13,3%: 7,7 milhões de indivíduos. Números preocupantes, mais ainda quando sabemos que em 44% destes indivíduos a diabetes ainda não tinha sido diagnosticada. E estou a excluir os números de pré-diabetes e de diabetes gestacional. O impacto destes números não se traduz apenas nos custos diretos da medicação, mas também no elevado consumo de recursos de saúde, número de consultas, número de internamentos, número de cirurgias… que traduzem não só o seguimento convencional da doença, mas também as descompensações e complicações. Segundo o Observatório, em 2015, a Diabetes em Portugal representou um custo de 1,936 milhões (1% do PIB Português, 12% das despesas em saúde). 

A diabetes não tem cura. É uma doença crónica, para a vida toda. Não é possível reverter, mas é possível controlar

Quais são os principais grupos de risco e a que sinais devem as pessoas estar atentas?

Potencialmente todas as pessoas com uma vida sedentária, uma alimentação inadequada, com excesso de peso ou obesidade estão em risco de vir a sofrer desta doença. A idade é um importante fator de risco, e por isso a diabetes está associada ao envelhecimento. Mas nos últimos tempos, o diagnóstico de diabetes tipo 2 em pessoas mais jovens, adolescentes e até mesmo crianças, tem estado a aumentar, mostrando uma nova e dramática dimensão do problema.

Costumo de dizer aos meus doentes que um dos grandes problemas desta doença é que 'não dói'! O que 'dói' são as complicações da diabetes, que aparecem numa fase muito mais tardia da doença. Por isso, na maioria dos casos, não existem 'sinais de alerta' e o diagnóstico é feito com base no rastreio laboratorial. Este é um dos motivos de existir um número tão elevado de diabetes não diagnosticada. Por isso, as pessoas devem é estar atentas e centradas em manter estilos de vida saudáveis e no controlo do peso. De qualquer maneira, o emagrecimento marcado, muita sede, fome e aumento do debito urinário serão são os 'sintomas major' da hiperglicémia, que só acontecem numa fase evoluída da doença, quando já existe falência pancreática. Pretende-se que o diagnóstico seja muito antes do aparecimento destes sintomas.

Notícias ao MinutoJoana Louro, assistente hospitalar de Medicina Interna/Unidade integrada de Diabetes do Centro Hospitalar do Oeste – Caldas da Rainha© DR

Em que se baseia o tratamento da doença e que cuidados devem ter os pacientes durante o processo?

O tratamento da doença baseia-se em pilares fundamentais como uma alimentação saudável, exercício físico regular e terapêutica medicamentosa, que pode ser comprimidos ou insulina, segundo a fase da doença. Para que este equilíbrio seja conseguido, é prioritário a educação terapêutica, da pessoa com diabetes, mas também de toda a família e ambiente envolvente. Digo muitas vezes que a diabetes não é do doente, é da família. A pessoa com diabetes não deve comer diferente da restante família. É a família que deve mudar os hábitos alimentares e, no fundo, o estilo de vida. Isto é um caminho diário, em que nós profissionais de saúde somos parceiros de caminhada… porque educar não é apenas informar… é ensinar, é responsabilizar, é ajudar, é dar ferramentas para o auto-controlo da doença… É um caminho que se faz caminhando, cada dia, numa parceria doente/família/profissional de saúde verdadeiramente desafiante e, por isso também tão estimulante… E partilhamos as vitórias e as desilusões também.

As mulheres serão sempre um elemento chave na prevenção da diabetes tipo 2 no seio das suas famílias e na promoção da sua saúde e de todos o que dela, direta ou indiretamente, dependem

É possível reverter a diabetes?

A diabetes não tem cura! É uma doença crónica, para a vida toda! Não é possível reverter, mas é possível controlar! E estando controlada, é possível evitar as complicações micro e macrovasculares, essas sim têm um verdadeiro impacto na qualidade vida e na mortalidade, como o AVC, o enfarte do miocárdio, as amputações, a cegueira ou a doença renal muitas vezes com necessidade de hemodialise.

Este ano, a Organização Mundial da Saúde centra as atenções nas mulheres. Que diferenças existem entre o risco e impacto da doença nas mulheres e nos homens?

Sim, este ano a OMS lançou o desafio: A mulher e a Diabetes. E é muito desafiante trabalhar este tema, porque pode ser visto de muitas perspetivas. O enfoque será seguramente diferente segundo a região do planeta em que nos encontrarmos. O direito das mulheres à igualdade e à acessibilidade nos cuidados de saúde e educação é um dos objetivos da OMS. Mas talvez não faça muito sentido explorar este aspeto em Portugal, sendo seguramente fundamental em muitos outros países.

Por outro lado, apenas a mulher pode ser afetada por um tipo particular de diabetes – a diabetes gestacional – que é diagnosticada pela primeira vez durante a gravidez e que em Portugal também tem estado a aumentar. Outra dimensão do problema é a mulher com diabetes tipo 1 (um tipo que tenho falado muito pouco nesta entrevista) que tem um risco aumentado de complicações durante a gravidez.

Mas se tivesse de escolher 'a forma' de abordar este tema, gostaria de me centrar no papel fundamental da mulher na estrutura familiar e social. A mulher é o pilar nas escolhas familiares e um agente preponderante na adoção de estilos de vida saudáveis. Recusando qualquer tipo de feminismo, numa grande maioria das casas, é a mulher quem decide a alimentação, faz as compras no supermercado e tem um poder decisório determinante nas atividades e no tempo de lazer em família. Por tudo isto, serão sempre um elemento chave na prevenção da diabetes tipo 2 no seio das suas famílias e na promoção da sua saúde e de todos o que dela, direta ou indiretamente, dependem.

Mais de 70% dos casos de Diabetes tipo 2 poderiam ser prevenidos através de mudanças comportamentais no estilo de vida

O que pode e deve ainda ser feito para travar a diabetes?

Tanta coisa… Mas sempre prevenir! E prevenir implica educar, formar! Palavras simples, mas de uma grande complexidade prática. E educação não é sinónimo de literacia. Mudar hábitos, mentalidades, estilos de vida é muito difícil. E fazê-lo estruturalmente no indivíduo e na comunidade ainda mais. Implica uma abordagem transversal, política, social, educacional, económica… Falei dos custos da doença em Portugal, a nível mundial prevê-se que chegue aos 802 bilião de dólares em despesa pública… É muito dinheiro. Dinheiro no controlo da doença e no tratamento das complicações. Parece que está tudo ao contrario. Um bom investimento na prevenção e em programas de intervenção para mudança de comportamentos de risco, pela promoção da alimentação saudável e da atividade física seria incomparavelmente mais barato e verdadeiramente custo-efetiva para os sistemas de saúde. Poupava-se dinheiro e ganhava-se saúde.

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