Colômbia vive hoje a sua "Revolução dos Cravos"
O Presidente colombiano disse hoje que a Colômbia está a viver "a sua Revolução dos Cravos", após o acordo de paz com as FARC, e que, tal como fez Portugal, pode tornar-se um exemplo de convivência.
© Reuters
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Juan Manuel Santos falava em Lisboa no decorrer de uma cerimónia na Universidade Nova, que hoje lhe concedeu o título de Doutor Honoris Causa.
No final do ano passado, o governo colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) assinaram um acordo de paz que pôs fim a mais de 50 anos de guerra civil no país. O acordo contemplava, entre outros pontos, o desarmamento completo das FARC e a sua extinção enquanto movimento de guerrilha, passando a existir como movimento político.
"Alegra-me vir hoje como representante de uma nova Colômbia, que por fim respira o ar vivificante da paz. (...) Quero fazer um paralelo com Portugal, porque vocês também viveram -- à vossa maneira e por muitas décadas -- a dor e o atraso causados pelo conflito entre filhos de uma mesma nação", disse o chefe de Estado colombiano, numa referência ao período da ditadura em Portugal.
"Mais de 7.000 homens das FARC entregaram todas as suas armas a representantes das Nações Unidas, o passo mais transcendental de qualquer processo de paz. (...) De certa maneira, vivemos nestes dias a nossa própria Revolução dos Cravos", realçou Juan Manuel Santos, num discurso que fez levantar em aplauso o público no auditório da Nova e o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, a seu lado no palco.
O próximo desafio, disse, será o da convivência entre os colombianos que querem paz e perdoar e aqueles que preferem a vingança para as famílias das vítimas das FARC. Também aqui, a Revolução dos Cravos que Portugal viveu em 1974 pode ser um exemplo.
"Hoje [vocês] são uma nação exemplo de tolerância, de espírito pacifista, de abertura e de tolerância. Por isso me alegra tanto vir a Portugal para recordar que os povos, mesmo depois dos mais duros conflitos, podem sarar feridas e avançar juntos rumo ao futuro", sublinhou.
O chefe de Estado colombiano recordou ainda um episódio que liga a sua família a Portugal e à luta contra o fascismo, contando que o seu avô, Henrique Santos Montejo, foi nomeado embaixador em Lisboa no início dos anos 1960.
"No entanto, quando chegou a Lisboa confrontou-se com um sistema que estava contra as suas convicções democráticas e, sobretudo, contra a sua formação filosófica liberal. Ele que, como jornalista, tinha sofrido a censura da única ditadura que a Colômbia teve no século XX, sentiu reviver, em solo português, os problemas que tinha sentido na sua própria pátria", contou o Presidente colombiano.
O então embaixador colombiano ajudou dois opositores do regime de Salazar a obter asilo diplomático, o que não terá agradado ao governo português.
"Devido a essa conduta teve de renunciar [ao cargo], sem cumprir nem dois meses. Mas preferiu fazê-lo, em vez de conviver com um regime que desprezava a liberdade, um valor que ele considerava o primeiro de todos e que eu, o seu neto, também considero", concluiu.
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