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HPV afeta 80% das mulheres. E "rapazes também deviam ser vacinados"

Acredita-se que 80% das mulheres sexualmente ativas tenham contacto, em algum momento da sua vida, com o Vírus do Papiloma Humano. Em entrevista ao Notícias ao Minuto, Carlos de Oliveira, ginecologista, recorda que a vacinação dos rapazes contra esta infeção não está prevista no Plano Nacional de Vacinação, mas deveria.

HPV afeta 80% das mulheres. E "rapazes também deviam ser vacinados"
Notícias ao Minuto

08:30 - 29/10/17 por Notícias Ao Minuto

País Infeção

O HPV, ou Vírus do Papiloma Humano, é responsável por um elevado número de infeções que, na maioria das vezes, são assintomáticas e de regressão espontânea. Esta é, de facto, uma das infeções de transmissão sexual mais comuns a nível mundial.

De acordo com dados epidemiológicos, o vírus do Papiloma afeta 20% das mulheres entre os 18 e os 64 anos. Apesar de este não ser um problema de saúde exclusivamente feminino, estima-se que o vírus “possa afetar até 80% das mulheres sexualmente ativas em algum momento das suas vidas”, explica Carlos de Oliveira, médico ginecologista e presidente do Núcleo Regional Centro da Liga Portuguesa Contra o Cancro.

A infeção por HPV pode originar lesões benignas, como verrugas e condilomas – no colo do útero, na vagina, na vulva, no pénis e no canal anal – e, em situações menos frequentes, pode evoluir para cancro do colo do útero, o segundo mais frequente na mulher em todo o mundo. Esta é, efetivamente, a doença mais relevante associada à infeção por HPV, especialmente quando não detetada precocemente. Já nos homens, a forma mais invasiva da infeção manifesta-se no cancro do pénis e do canal anal.

Na opinião de Carlos de Oliveira, “em cerca de 100 mulheres infetadas a probabilidade de uma delas ter um cancro é pequena. Em mais de 98 ou 99% dos casos as infeções regridem sem que surjam lesões”.

'Cancros que podem ser prevenidos'

A Liga Portuguesa Contra o Cancro acaba de lançar uma nova campanha digital, subordinada ao tema ‘Cancros que podem ser prevenidos’ e esta tem como objetivo “educar e sensibilizar a população para as doenças associadas à infeção pelo HPV e para a prevenção”. Através do website www.hpv.pt, jovens e adultos poderão aceder a informação completa e detalhada sobre o que é o HPV, os tipos de cancro e doenças provocadas pelo vírus, sintomas, grupos de risco e formas de prevenção.

Apesar de se tratar de uma campanha recente, “este é já um projeto antigo que começou em 2008, tendo-se prolongado até à atualidade. Surgiu na altura em que também apareceu a vacina contra a infeção do HPV e as organizações da sociedade civil e as sociedades científicas pretendiam sensibilizar o Governo para a introduzirem no Plano Nacional de Vacinação. Todos nós, face aos dados científicos que existiam na altura, entendemos que devíamos pressionar o Governo nesse sentido”, revela o ginecologista.

Com efeito, esse esforço deu resultados e foi “um êxito. A decisão do Ministério da Saúde de incluir a vacina contra a infeção por HPV no Plano Nacional de Vacinação foi muito bem tomada porque se trata de um problema de saúde pública. E, graças a esta intervenção, Portugal é dos países do mundo com maior cobertura pela vacina contra a infeção por HPV”.

De acordo com o Programa Nacional de Vacinação de 2017, aos dez anos de idade recomenda-se a administração de “duas doses da vacina contra infeções por vírus do Papiloma Humano de nove genótipos - HPV9 (esquema 0, 6 meses), administradas apenas a raparigas”.

Carlos de Oliveira explica, neste contexto, que “existem vários tipos de HPV’s, sendo que uma parte deles não tem grande importância porque não conduz a lesões graves; são HPV’s de baixo risco. Os mais frequentes são os HPV-16 e HPV-18 e as primeiras vacinas introduzidas no mercado cobriam não só esses tipos como também os responsáveis por lesões benignas, nomeadamente verrugas”.

Mas, neste momento, “a vacina que está a ser utilizada cobre nove vírus, os mesmos quatro da vacina precedente, e mais cinco de grupo de vírus de alto risco”.

Para os jovens do género masculino a vacina não é comparticipada. Questionado sobre esta realidade, o ginecologista refere que “esta é uma decisão do Governo porque as jovens do sexo feminino estão vacinadas. Mas, sobretudo nesta altura em que as fronteiras deixaram de existir, nada impede que os rapazes portugueses se envolvam sexualmente com raparigas de outras nacionalidades onde a cobertura da vacina é menor e estão, por isso, sujeitos a contaminação. Neste sentido, acredito que os rapazes também devem ser vacinados”.

O ginecologista crê ainda que, “ao fim de tantos anos a falar sobre o assunto, já é relativamente fácil abordar o tema com mulheres e homens sobre esse vírus e o risco da sua transmissão. Aliás, mantendo em Portugal o mesmo ritmo da vacinação das jovens, e com a introdução desta nova vacina, o cancro do colo do útero, dentro de 15 a 20 anos, não digo que desapareça na totalidade, mas ficará reduzido a muito pouco. Acredito que a percentagem desses tumores será a10 a 15% dos valores que são hoje registados. E este é um avanço notável da ciência, da saúde pública e da nossa sociedade”.

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