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"Lutamos pela capacidade de não ter as nossas vidas consumidas por Trump"

O escritor norte-americano Teju Cole argumenta que a recusa é algo fundamental nos tempos que correm, em que há uma luta pelo espaço e pela capacidade de não ser consumido pela figura do presidente norte-americano, Donald Trump.

"Lutamos pela capacidade de não ter as nossas vidas consumidas por Trump"
Notícias ao Minuto

09:35 - 16/09/17 por Lusa

Mundo Teju Cole

Em entrevista à agência Lusa, no Porto, onde esteve no âmbito da Feira do Livro da cidade, Teju Cole - que recentemente afirmou que a atualidade pede resistência e recusa, mas também "subtileza, ambiguidade e complexidade" - sublinhou que "o espaço da subtileza e daquilo que é oblíquo é importante porque é exatamente por isso que se está a lutar, pela capacidade para suster esse espaço".

"A capacidade de não ter a minha vida consumida por Donald Trump. Isso é que o ele quer. Não estou interessado nisso. Então, haverá alturas em que vamos estar nas barricadas e haverá alturas em que vamos estar a manter uma prática que é um direito de qualquer ser humano: pensar o que queremos e fazer o que queremos. E isso é parte da recusa, também. A recusa em ser claro", afirmou Cole, que, na semana seguinte à eleição de Trump para a Casa Branca, assinou um artigo de opinião no New York Times intitulado "Um tempo para recusar".

Para Cole, nascido nos Estados Unidos e educado na Nigéria, a defesa da ambiguidade é "particularmente importante enquanto pessoa negra na América ou enquanto pessoa negra no mundo".

"As minorias estão constantemente a ser interpeladas para que se expliquem. Então, o ato de recusar explicar torna-se numa afirmação de ti. O mestre pode sempre chamar o escravo e afirmar 'agora diz-me em que pensas'. Mas não sou um escravo, digo-te o que quero. Não tenho de te dizer tudo em que penso sobre tudo. É aí que a ambiguidade entra", disse o autor de "Todos os dias são bons para roubar" (Quetzal, 2015).

Durante uma sessão de debate, no fim de semana passada, ao longo da qual explicou várias vezes que não existe uma "literatura africana", Cole viu-se questionado sobre esse termo em vários momentos. Instado a dizer o que considera necessário para que tal noção de "África como um país" seja ultrapassada, o escritor salientou que se trata de "um sistema algo complexo com muitas partes diferentes que estão dependentes umas das outras".

"Se queres ser igual a alguém, queres reconhecer que são iguais a ti, então tens de ser específico acerca deles. A curiosidade deve estender-se a grandes especificidades, de modo a que, quando eu te pergunto e tu me respondes que és do Algarve, eu não tomo qualquer posição. Se te mantiver em abstrato então és branco. És branco. Mas para que é que isso contribui?", perguntou o escritor.

Teju Cole reforçou também a necessidade de não se "sobrexplicar", ou seja, se alguém diz que fala português, não é preciso acrescentar que "é uma língua do sul da Europa".

"Quando alguém te diz que já viajou por todo o mundo e foi a Londres, Paris, Japão, África, que tipo de lista é esta? Qual é o significado? E é a frase mais comum. Porque se alguém te diz: 'Tenho viajado muito, sabes, Europa, Hokkaido, Luanda', dirias que é uma frase estranha. Onde na Europa? Onde em África?", afirmou.

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