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"Se o dinheiro das doações estivesse no meu bolso já havia obra feita"

Ágata, um dos nomes incontornáveis da música portuguesa, está agora a dar os primeiros passos no mundo da política, razão pela qual é a entrevistada do Vozes ao Minuto de hoje.

"Se o dinheiro das doações estivesse no meu bolso já havia obra feita"
Notícias ao Minuto

08:20 - 13/09/17 por Patrícia Martins Carvalho

Política Ágata

Simples, humilde e com muita vontade de ajudar. Foi assim que encontrámos Ágata, a candidata a vice-presidente da Câmara de Castanheira de Pera, um dos concelhos mais devastados pelas chamas que assolaram o país este verão.

Número dois da lista independente ‘Todos Por Castanheira’ – que conta com o apoio do CDS – garante que o seu único objetivo é ajudar as pessoas que perderam tudo na tragédia do passado mês de junho, algo que, aliás, já começou a fazer. “Vendi a minha casa na Ericeira e doei tudo o que tinha”. 

Ser cantora e vice-presidente da autarquia ao mesmo tempo é algo que não a assusta pois, assegura, a sua missão é a de "arregaçar as mangas" e trabalhar. O que também não a melindra é o facto de ter trocado o nome da líder do CDS numa publicação no Facebook. "Toda a gente se engana", diz em sua defesa, ao mesmo tempo que refere que ainda há pessoas escrever mal o seu nome e que, às vezes, passa por 'Águeda' e não se chateia por isso.

Como é que surgiu o convite para ser candidata à vice-presidência da Câmara Municipal de Castanheira de Pera? Alguma vez tinha considerado entrar no mundo da política?

Nunca considerei envolver-me na política, mas depois de tudo o que aconteceu em Castanheira de Pera ajudei com algumas coisas e acabei por criar um núcleo de amigos. Então, surgiu a possibilidade de fazer parte desta lista independente que, à época, eu não sabia que iria ser apoiada por um partido.

Se não tivesse ocorrido esta tragédia a Ágata não estaria na política por esta altura?

Provavelmente, não. A verdade é que as pessoas sabem que eu pertenço à música, embora também saibam que sou uma pessoa muito solidária que abraça muitas causas.

Vendi a minha casa na Ericeira e doei todo o recheio às pessoas que tinham perdido tudoDisse que ajudou com “algumas coisas”. Pode concretizar?

Eu vendi a minha casa na Ericeira e doei todas as minhas coisas, todo o recheio, às pessoas daquela zona que tinham perdido tudo.

A Ágata vive em Chaves. Vai mudar-se para Castanheira de Pera?

Não preciso de ir viver para Castanheira de Pera para estar onde quero. Tenho carro e desloco-me frequentemente entre Lisboa, Porto e Coimbra.

E, no caso, como vai conciliar a vida política com a vida artística?

Vai ser fácil porque só canto ao fim de semana. E não serei, em caso de vitória, a presidente. O presidente é que tem de se preocupar com isso. Tenho os meus afazeres profissionais ao fim de semana e, se eventualmente, tiver de tirar um dia da semana tirarei. Não estou preocupada com isso.

Como é que encontrou as pessoas depois da tragédia?

Encontrei-as muito fragilizadas porque perderam os seus bens, os seus carros, as suas casas, os seus objetos de trabalho… Já para não falar nas famílias que morreram. Estamos a falar de uma tragédia imensa que realmente deixou toda a gente abalada. Foram muitas as pessoas que morreram naquela estrada…

Tem recebido o apoio da população?

As pessoas ficaram surpresas por ter abraçado esta causa, mas, sim, recebo muitas mensagens. As pessoas estão com muita expetativa e como sabem que sou uma pessoa de bem não duvidam daquilo que eu quero fazer.

E o que é quer fazer?

O que eu tenciono fazer é o melhor possível e tudo o que estiver ao meu alcance para ajudar estas pessoas. Tudo aquilo que eu puder fazer, faço.

Críticas há em todo o lado. Jesus Cristo não agradou a todos e, no entanto, era uma pessoa especialTambém recebe críticas?

Críticas há sempre em todo o lado. Jesus Cristo não agradou a todos e, no entanto, era uma pessoa especial. Nós temos é de banir esse tipo de energia das nossas vidas.

O facto de ter uma carreira musical pode desvirtuar a imagem que quer passar no mundo da política?

As coisas não se misturam, são coisas diferentes. Tenho uma carreira muito longa e vou continuar com a minha carreira. A verdade é que eu abracei uma causa, não uma bandeira ou um partido.

Do que já viu no terreno quais acha que devem ser as primeiras medidas a tomar?

Isso tudo vai ser definido em grupo, em reunião. Já tivemos algumas conversas e, acima de tudo, o nosso objetivo é satisfazer as pessoas. As prioridades são essas.

Pode concretizar algumas destas prioridades?

As prioridades são aquelas que afetam as pessoas e, por isso, têm de ser postas à frente de qualquer coisa. Após a tragédia as pessoas ficaram com muitas e grandes necessidades que têm de ser resolvidas.

O que posso dizer é que a nós não nos entregaram nada e para o meu bolso não foi de certezaEstando no terreno teve noção se o dinheiro angariado já começou a ser distribuído pelas vítimas dos incêndios?

Isso não sei porque não faço parte de nenhuma associação que gere esse dinheiro. O que posso dizer é que a nós não nos entregaram nada e para o meu bolso não foi de certeza. Alias, se tivesse ido, pode crer que já tinha visto muita coisa feita.

Teve oportunidade de estar e conversar com os bombeiros?

Sim, mas foi por pouco tempo. Todos eles foram guerreiros que puseram em risco as suas vidas para defender o povo e um, pelo menos, morreu. Outro ainda está internado no hospital…

Considera que os bombeiros têm os meios necessários e recebem o apoio suficiente tendo em conta os riscos que correm?

Acho que deviam ser mais apoiados e deviam ter condições para trabalharem. Tenho noção de que eles passam dificuldades, porque, muitas vezes, faço espetáculos para ajudar as mais diversas corporações do país, para eles conseguirem fazer algum dinheiro.

Esse maior apoio devia passar pela alimentação? Tendo em conta a polémica que houve há pouco tempo com a comida que é dada aos bombeiros…

Esse é um grande erro. Alguém se devia preocupar em arranjar meios para fazer chegar, às pessoas que estão a combater incêndios, bebidas e comida para se manterem. Deviam ter um apoio maior…

Devia passar pelo Governo esse apoio?

Não sei de onde essa ajuda deve partir ou quem é que tem a obrigação de ajudar os bombeiros. Mas a verdade é que o povo português é muito solidário e ajuda sempre que é preciso e sempre que pode.

Levar um puxão de orelhas por causa de um nome? Há tanta gente que se engana em tanta coisa… O CDS ficou de alguma forma incomodado com o facto de ter chamado Conceição à líder centrista, Assunção Cristas?

Olhe, enganei-me porque toda a gente se engana. Mas levar um puxão de orelhas por causa de um nome? Há tanta gente que se engana em tanta coisa… Eu enganei-me, é certo, mas retifiquei logo de seguida, não sei onde está o problema. Aliás, muitas vezes escrevem mal o meu nome e eu não me chateio por isso.

O melhor então é desvalorizar.

Levo tudo na desportiva. É o melhor porque, como deve calcular, as pessoas são muito, muito más. Gostam de denegrir, gostam de julgar sem conhecerem e nós não podemos absorver esse tipo de energia.

Estou aqui para arregaçar as mangas e trabalharEstá pronta para, em caso de vitória, ter de lidar com críticas ao seu trabalho e ao do presidente?

Estou pronta para fazer parte de um processo do qual não me venha a arrepender. Estou pronta para encontrar formas e meios de ajudar as pessoas. Não estou nada receosa. Estou aqui para arregaçar as mangas e trabalhar nesse sentido.

*Pode ler a segunda parte desta entrevista aqui.

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