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"Sou médico e sou homossexual. Queira alguém explicar-me a 'anomalia'?"

Médico Gentil Martins classificou homossexualidade como uma “anomalia”. Homem homossexual e também médico responde, num texto sentido.

"Sou médico e sou homossexual. Queira alguém explicar-me a 'anomalia'?"
Notícias ao Minuto

08:15 - 18/07/17 por Goreti Pera

País Reação

O reputado cirurgião Gentil Martins gerou uma onda de indignação pelas declarações que proferiu, numa entrevista concedida ao semanário Expresso, sobre homossexualidade. A classificação desta orientação como uma “anomalia” levou inclusivamente a Ordem dos Médicos a abrir um inquérito.

Dias depois da polémica, multiplicam-se nas redes sociais mensagens de apoio e manifestações de orgulho por aqueles que admitem a sua homossexualidade sem pudor. Bruno Maia é exemplo disso mesmo.

No seu perfil no Facebook, o neurologista no Centro Hospitalar de Lisboa Central teceu uma implícita e dura crítica ao colega de profissão Gentil Martins, enfatizando que “a anomalia não está no indivíduo mas sim na sociedade” e que “o sofrimento não vem de dentro, vem de fora”.

Sou médico e sou homossexual. Cresci com um pai e uma mãe. Maravilhosos, esforçados. Também existiram avós, tios, primos e primas e se alguma coisa toda esta gente me ensinou foi o que era o amor e o que significa ter uma família. Tive a sorte de não conhecer nenhuma das realidades do abuso – o físico, o sexual, a negligência... Fiz todo o meu percurso desde o 1.º ano de escolaridade até à obtenção do grau de especialista em Neurologia sem perder um único ano. Na adolescência decidi contar sobre a minha homossexualidade a alguns amigos – fui apoiado e protegido. Já a estudar medicina decidi contar a todos os amigos. Continuei apoiado e protegido. Quando revelei à família, nada de novo – apoiado e protegido!”, começou por escrever o homem de 35 anos.

No longo texto partilhado por mais de duas mil pessoas e com perto de oito mil gostos, o utilizador responde diretamente às declarações de Gentil Martins: “Já tive amores e desamores. Paixões intensas, outras fugazes. Já namorei e fui feliz, já fui abandonado e também já abandonei. Já partilhei casa e o resto da vida com um grande amor e já conheci o gosto amargo da separação. Nunca sofri de doença mental. Nunca fui diagnosticado com nenhum desvio da personalidade. Nunca tive nenhuma dificuldade de adaptação a ambientes diferentes. Nunca precisei de terapia ou acompanhamento psicológico. A minha homossexualidade nunca foi um fator de sofrimento para mim”.

Além de praticar desporto com rapazes homossexuais e heterossexuais, de trabalhar no Serviço Nacional de Saúde e de partilhar com os colegas e amigos informações sobre a vida familiar, Bruno Maia garante que “nada é tabu” e questiona: “Queira alguém explicar-me a ‘anomalia’ na minha vida? Alguém me aponta critérios de diagnóstico para desvio da personalidade? Devo fazer ‘terapia de reconversão’? Para mudar o quê exatamente? Se para a medicina, a anomalia implica sofrimento (caso contrário é apenas uma variante), onde está o meu sofrimento?”

A anomalia, explica o utilizador, “reside no facto de toda esta minha história ser pouco frequente” – porque “para a maior parte dos homossexuais ou pessoas transgénero, não existe uma história de ‘felicidade’ e ‘integração’” – e de existir sofrimento, “mas esse sofrimento não vir de dentro, vir de fora, dos outros. De famílias destruídas pela homofobia e pela transfobia”.

A rematar o sentido texto, Bruno Maia faz uma referência aos EUA, dizendo que “esta onda de revanchismo contra os direitos dos seres humanos foi o rastilho de pólvora que se acendeu e que culminou na eleição de um presidente chamado Donald Trump”.

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