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Crianças residentes na área de Chernobyl passam férias em Portugal

Trinta crianças residentes na área de Chernobyl, no norte da Ucrânia, chegaram este domingo a Portugal para passarem cinco semanas, que acrescentam dois anos à sua esperança de vida, disse à agência Lusa Fernando Pinho, coordenador da iniciativa.

Crianças residentes na área de Chernobyl passam férias em Portugal
Notícias ao Minuto

18:44 - 16/07/17 por Lusa

País Notícias

Intitulada 'Verão Azul', a iniciativa acontece pelo nono ano consecutivo, permitindo às crianças ucranianas que residem na área afetada pelo acidente na central nuclear de Chernobyl, em abril de 1986, estar de férias em Portugal até ao dia 20 de agosto.

"Estas crianças residem na zona limite, moram a 50 quilómetros da central", precisou Fernando Pinho.

Fernando Pinho, residente no Porto, vai receber pela segunda vez Diana, e recebeu em anos anteriores outra menina, Carina, que este ano não veio.

"A Carina sofre de paralisia mental, e está muito ligada à mãe, mas gostou muito de estar cá", referiu.

As crianças distribuem-se por várias regiões do país -- "do Alentejo a Braga" -, "chegam cabisbaixas, mas há uma diferença colossal entre a chegada e a altura da partida".

Fernando Pinho afirmou à Lusa que, segundo um estudo realizado por uma universidade francesa, e entregue no Fundo das Nações Unidas para a Infância e Juventude (UNICEF), "as cinco semanas que as crianças passam em Portugal, com alimentação adequada, ar livre e atividades, corresponde a acrescentar-lhes um a dois anos de vida".

"E isso é o nos motiva mais a continuar este projeto", acrescentou, referindo que o estudo foi publicado na revista National Geographic.

'Verão Azul' é uma iniciativa da seguradora Liberty, no âmbito da responsabilidade social da empresa, e nesse sentido conta com a sua congénere na Ucrânia. As crianças ucranianas são escolhidas a partir do que as famílias portuguesas pretendem receber, nomeadamente a idade e sexo, e são sinalizadas pelo contacto da seguradora na Ucrânia. Em novembro, Fernando Pinho desloca-se à Ucrânia para conhecer as crianças e respetivas famílias, e também conhece "uma a uma as famílias portuguesas que as recebem".

"Temos de ter muito cuidado, não há nenhuma família que não conheça, que não vá a casa dela, e tentamos saber quem é, tiramos informações, porque não vamos entregar uma criança a qualquer pessoa", disse.

As crianças que chegam "não fazem ideia sequer do desastre [acontecido em 1983], agora os pais, sim, estão na casa dos 30/40 anos e já começam a ter os malefícios de respirar aquele ar", disse Fernando Pinho, referindo a existência de doenças respiratórias, vários tipos de cancros, nomeadamente de pele e na tiroide.

"Estas crianças, ainda não têm qualquer problema, mas são os candidatos para o amanhã", disse.

As crianças mantêm ligação com as famílias de acolhimento, como contou Rui Nicolau, de Gulpilhares, nos arredores de Vila Nova de Gaia, que afirmou que, "após uns dias de sol, regressam radiantes e contentes".

A Mariana, de dez anos, sobrinha de Rui Nicolau, disse à Lusa que interage através de gestos, com a menina ucraniana que vai receber, referindo que esta prefere as atividades ao ar livre, como saltar à corda, brincar na rua, andar de bicicleta. "Eles não têm os mesmos brinquedos que nós", disse Mariana.

Isabel, mulher de Rui Nicolau, afirmou que as crianças que chegam "sentem-se encantadas, estranham alguns costumes, principalmente os hábitos de higiene, pois temos de os relembrar, mas adaptam-se muito bem e gostam muito das nossas casas, admiram-se de termos televisões tão grandes".

Graça Marto, de Matosinhos, vai receber uma criança ucraniana pela primeira vez. Trata-se de uma menina, Anastasya, de 10 anos, e incentivou uma ucraniana, sua vizinha, a receber também uma outra criança.

Em declarações à Lusa, Graça Marto afirmou que foi a vontade de "fazer bem e ajudar" que a levou a querer participar no projeto, mas também inspirada por uma senhora de quem é amiga, que, durante a II Grande Guerra (1939-1945), recebeu duas crianças austríacas, irmãos, com as quais ainda hoje mantém o contacto e a visitam.

"Dona Antonieta tem 100 anos, vive em Oliveira de Frades [no distrito de Viseu], recebeu duas crianças austríacas, que depois regressaram aos seus pais, mas mantiveram o contacto, e ainda hoje, o rapaz, que tem perto de 70 anos e fala português, a trata por 'querida mamã' e telefona-lhe diariamente", contou.

Enquanto esperavam as crianças que viajam desde as 03.00 de madrugada de hoje, via Roma, para Lisboa, as famílias, no átrio do edifício aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, trocaram contactos, sugestões e projetaram idas à praia juntos e piqueniques.

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