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Pedrógão Grande: "Isto não foi um incêndio, foi um furacão de fogo"

Paula Alves insistiu em ficar na sua habitação numa aldeia de Castanheira de Pera, quando as chamas avançaram, e acredita que o que viu não foi um incêndio, mas "um furacão de fogo".

Pedrógão Grande: "Isto não foi um incêndio, foi um furacão de fogo"
Notícias ao Minuto

12:27 - 19/06/17 por Lusa

País Sobreviventes

A fuga da habitação nunca foi uma hipótese para Paula e o seu marido. "A morrer, morríamos ao pé do que é nosso", vinca a habitante de Sarzedas de São Pedro, em Castanheira de Pera, um dos concelhos do distrito de Leiria afetados pelo incêndio que começou no sábado em Pedrógão Grande.

Fora de casa e com uma mangueira que deitava pouca água. Foi assim que Paula enfrentou as chamas que galoparam da Serra do Vermelho até à aldeia onde vive há 17 anos num espaço de minutos.

"Não tínhamos ninguém. Era eu e o meu marido, o meu vizinho e o pai e a mãe dele. Só nós e Deus", conta a habitante da pequena aldeia.

As fagulhas eram tantas, que se teve de encostar à sua casa, e o vento era tão forte que pensava que o telhado "ia pelo ar".

"Apenas pensei: "Meu Deus ajuda-nos, porque não temos mais ninguém", conta à agência Lusa Paula Alves, que garante que tomou a decisão certa.

Os que fugiram, "se tivessem ficado nas suas casas, estavam vivos e as habitações intactas", sublinha, recordando que, quando o fumo já não deixava ver mais do que a palma da sua mão, viu um carro a passar e a bater contra um castanheiro.

"Ficaram todos carbonizados. O fumo era tanto que nem viam por onde iam", refere.

O vizinho Flávio Pires confirma: "vi-os a passar e o senhor ia todo atrapalhado, saiu a direito na curva".

No sábado, assim que viu o incêndio, procurou logo tentar tirar a sua mulher e filho pequeno para a vila de Castanheira de Pera, onde moram os seus pais.

A meio caminho, fez sinal para seguirem e decidiu voltar para trás, "porque não ia deixar" os vizinhos sozinhos.

Já em casa, deparou-se com os seus pais que vinham para prestar auxílio. Como já era tarde para ir para trás, o seu pai pensou: "já que não conseguimos sair, vou aqui ficar. A morrer, morro com o meu filho".

Seguiram-se momentos "muito complicados", realça Flávio.

Uma labareda enorme entrou diretamente para o outro lado da estrada, o calor não permitia olhar para a chama e o vento fazia voar "bocados de carvão incandescentes, paus a arder e folhas".

"Foi tudo muito rápido", diz à Lusa Flávio, que só duas horas depois de o incêndio passar, é que conseguiu encontrar a sua mulher e o seu filho sãos e salvos em Castanheira.

Quando viu a imensa bola de fogo a avançar em direção à sua casa, apenas pensou que nunca mais ia ver o filho.

"São sentimentos complicados de gerir. É uma região em luto. E se Castanheira já está quase morta, não sei se isto não foi mesmo o fim do concelho. Além das vítimas mortais, há as pessoas, que não têm nada, que ficaram sem nada. As pessoas vão comer o quê agora?", pergunta.

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