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'Classes Populares' alerta para desigualdades extremas em Portugal

O livro 'As Classes Populares' indica que existe uma "enorme" concentração de riqueza em Portugal acentuando níveis de desigualdade "extremamente elevados", disse à Lusa Francisco Louçã, um dos autores da investigação.

'Classes Populares' alerta para desigualdades extremas em Portugal
Notícias ao Minuto

13:26 - 20/04/17 por Lusa

País Livros

"Dois terços da população portuguesa -- As classes populares -- ou seja, os que não têm propriedade no sistema produtivo, têm propriedade simbólica e uma subordinação cultural forte", disse à Lusa Francisco Louçã, um dos autores do livro que vai ser lançado na próxima segunda-feira.

O livro 'As Classe Populares -- A produção e a reprodução da desigualdade em Portugal' tem como autores o sociólogo João Teixeira Lopes, o ex-deputado do Bloco de Esquerda Francisco Louçã e a socióloga e antropóloga Lígia Ferro.

'As Classe Populares' articula-se com 'Os Burgueses', uma investigação anterior assinada por Francisco Louçã, João Teixeira Lopes e Jorge Costa.

Segundo o ex-dirigente do Bloco de Esquerda, 'A Classes Populares' analisa, entre outros aspetos, as desigualdades económicas que afetam os extratos mais desfavorecidos da sociedade portuguesa.

"Os estudos mais recentes, de instituições como Credit Suisse, UBS e outros, dizem que em Portugal haverá menos de mil pessoas que têm, cada uma acima de 22 milhões de euros. Há uma enorme concentração de riqueza. O topo da sociedade tem mais de 60 por cento da riqueza nacional", explica Francisco Louçã.

Deste modo, em 2016, o número de pessoas cuja declaração de rendimentos (IRS) estava acima dos 250 mil euros eram 1.968 portugueses.

"Mesmo presumindo que haja evasão fiscal, isto significa que há uns poucos milhares de pessoas - e à volta deles um grupo relativamente grande de funcionários, diretores, administradores - que representam essa pequena parte da sociedade portuguesa que tutela a grande maioria (dois terços) e que são as classes populares", refere Louçã.

O coautor do livro frisa que a sociedade portuguesa é "extremamente" estratificada e que a desigualdade só se compara com o México e com a Turquia (no âmbito dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico).

"Não há nenhum outro país, com os quais nos comparamos, que se aproxima destes níveis de desigualdade e isso explica muito as formas de incorporação da hierarquia, de subordinação, de obediência e de violência - que teve muita presença durante o Império Colonial e na ditadura. Tudo isto explica os investimentos simbólicos em que se fez a modernidade portuguesa: formas de subcultura popular que promovem a aceitação da desigualdade e uma espécie de crença no milagre do elevador social que pode iluminar alguma princesa com sorte", refere Louça.

A investigação foi feita a partir de estatísticas, de dados demográficos, da história contemporânea, da economia e de estudos concretos sobre "a forma como a escola diferencia as classes sociais", o sistema de alimentação, habitação, as práticas culturais, músicas, discursos e as representações da pobreza.

O livro estuda também a forma como a literatura portuguesa aborda as classes populares e inclui um capítulo sobre a maneira como as classes populares foram representadas na imprensa no período entre os dias 25 de abril e 1 de maio de 1974, no contexto da "turbulência revolucionária".

"A nossa ideia é combatermos a imagem folclórica que está associada ao povo e recuperarmos o debate da Revolução Francesa (1789) em que o povo correspondia à parte de baixo, oprimida e explorada. Estudámos o povo como classe, como grupo sociocultural: as clivagens e a evolução, incluindo os discursos sobre a vida e a desigualdade, numa sociedade de grande polarização", conclui Louçã.

O livro 'As Classes Populares -- A produção e a reprodução da desigualdade em Portugal' (Bertrand Editora) de João Teixeira Lopes, Francisco Louçã e Lígia Ferro vai ser apresentado no dia 24 de abril, em Lisboa.

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