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"Assembleia" teatral em bairros de Marvila chega ao palco do Maria Matos

O trabalho que o encenador e dramaturgo Rui Catalão desenvolveu em bairros da zona de Marvila, em Lisboa, deu origem a "Assembleia", uma experiência teatral que será apresentada de sexta-feira a domingo, no Teatro Maria Matos.

"Assembleia" teatral em bairros de Marvila chega ao palco do Maria Matos
Notícias ao Minuto

12:00 - 23/02/17 por Lusa

Cultura Lisboa

Esta experiência teatral é feita em dois blocos, um "completamente gasoso, que vive da improvisação e da relação com o público", e um outro durante a qual é contada uma história criada por Rui Catalão, em conjunto com Solange Ferreira e Pedro Henriques, dois jovens que conheceu em Marvila.

Rui Catalão organizou uma série de reuniões de trabalho em vários bairros dentro de Marvila.

"Na primeira sessão no Armador conheci o Pedro e, na primeira sessão na biblioteca de Marvila, conheci a Solange e houve três coisas que me chamaram a atenção: o olhar deles, a voz, que para mim são elementos determinantes para o teatro, e os corpos", recordou em declarações à Lusa.

No palco do Teatro Maria Matos, onde fica também a plateia, serão recriadas essas reuniões de trabalho, as "assembleias", mas desta vez os intervenientes serão pessoas do público, em vez dos habitantes dos bairros de Marvila.

"É óbvio que tenho uma série de temas preparados, mas depende muito da dinâmica que eu criar com o público. Se for uma dinâmica fraca vai ter uma característica, se tiver uma dinâmica forte vai ter outra. Não quer dizer que seja melhor ou pior, são dinâmicas diferentes, em que sigo mais um guião de enunciados, em que ficas com uma série de temas na cabeça, e outra em que o público investe em fazer comentários em dar determinadas respostas que vão gerar uma dinâmica de diálogo coletiva", referiu Rui Catalão.

Nas reuniões tanto eram discutidos temas sociais e políticos como da intimidade. "Fui auscultando a comunidade através dos grupos que reuni nos diversos bairros, tentando perceber que tipo de tema podia englobar tudo o que foi falado no processo", afirmou, referindo que acabou por decidir ter "a coabitação como ponto de partida".

"Partilhar o espaço em que vives (quarto, casa, andar, prédio, bairro, cidade, país) é sempre o mesmo problema, mas com diferentes escalas. Sinto que estive sempre a abordar este tema, mas era preciso ir por outro lado e percebi que a infância era uma boa maneira de entrar nas pessoas", disse.

O segundo bloco de "Assembleia" "cola com o primeiro" e surge do trabalho "feito diariamente com o Pedro, a Solange e o Luís" - Luís Mucauro, assistente nesta peça e intérprete de "E agora nós!" e "Medo a Caminho", ambas de Rui Catalão.

No trabalho com os três atores, Rui Catalão levou as assembleias "ainda mais longe" e acabou por criar com os dois primeiros uma história que mistura ficção e realidade.

"Mas deixamos para quem assistir à peça perceber e interpretar", disse Pedro Henriques. Solange deixa descair que a história "é mais baseada" nas vivências de Pedro, mas "quando se fala em infância", é um pouco dela que está em palco.

"O meu papel é mais de médium, saber o que as pessoas pensam de mim, delas próprias", contou.

Trabalhar com Rui Catalão "tem sido uma experiência interessante" para Pedro Henriques, já que o encenador "trabalha de uma forma pouco comum e isso abre novas maneiras de ver o teatro e de pensar o teatro".

A opinião é partilhada por Solange Ferreira. "Tirou-me da minha zona de conforto, estou habituada a ter um guião, a decorar texto e aqui é completamente diferente. É eu adaptar-me ao modo de ele trabalhar", afirmou.

Pedro Henriques admite que "estar num limiar" em que não podem deixar se ser eles próprios e uma personagem, ao mesmo tempo, "torna as coisas mais complicadas".

"É uma maneira de trabalhar que eu desconhecia e desde o início que estou muito empolgado com este trabalho", confessou.

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