Meteorologia

  • 23 ABRIL 2024
Tempo
15º
MIN 13º MÁX 24º

Participação portuguesa em França "foi um desastre político"

O historiador António José Telo defende que a participação do Corpo Expedicionário Português (CEP) na Primeira Guerra foi "um desastre político" e que as tropas portuguesas em França foram abandonadas por Lisboa e sacrificadas pela Inglaterra.

Participação portuguesa em França "foi um desastre político"
Notícias ao Minuto

05:00 - 09/11/18 por Lusa

País António José Telo

Segundo o historiador, o CEP foi imposto ao Exército britânico que desconfiava de uma força militar, que considerava "uma multidão indisciplinada", tendo adiado, sucessivamente, a entrega aos portugueses de um setor na frente de batalha em França.

"Os militares britânicos têm imenso medo deste Corpo Expedicionário Português. Não aceitam a ideia de lhes dar um setor da frente que possa ser atacado em força pelo inimigo porque receiam que a força portuguesa se desfaça e se abra uma brecha, que era o grande pesadelo desde o início da guerra de trincheiras", disse.

O CEP recebe em França um setor, em outubro de 1917, com a Inglaterra a assumir abertamente os receios de que, perante um ataque inimigo, a força "se desfaça" e com a intenção de retirar os soldados portugueses da frente na primavera.

"O ataque do inimigo dá-se e a segunda divisão portuguesa, que tinha ordens para ser substituída precisamente nesse mesmo dia, ainda lá está. Tudo indica que a Inglaterra, desconfiando fortemente que a Alemanha ia atacar naquele sítio, no dia 09 de abril, não o diz a Portugal e coloca as suas reservas por detrás do setor português", defende António José Telo.

Para o historiador, tratou-se de "uma situação politicamente envenenada criada pelos radicais contra os militares portugueses, contra a opinião dos militares britânicos em que os britânicos sacrificam o CEP para aguentar o embate de um ataque esperado".

António José Telo sublinha o sentimento de abandono que prevalecia entre os militares portugueses, sobretudo entre os oficiais, que não acreditavam na guerra como um projeto nacional, mas como um projeto radical com o qual não concordavam.

"Ninguém ajudou os portugueses na primeira linha, aguentaram sozinhos o embate de uma força pelo menos três vezes superior, motivada, bem treinada e bem equipada. Os portugueses estavam muito mal equipados, não tinham artilharia pesada, passavam horrores com aquele uniforme que não estava adaptado ao inverno francês", apontou

"Toda a participação portuguesa em França foi um desastre político", sublinhou o historiador, adiantando que os militares "diziam em voz alta que o inimigo estava em Lisboa".

Também em África, nomeadamente em Moçambique, a participação militar portuguesa foi, segundo o professor da Academia Militar, "um desastre absoluto", com a nomeação por "razões políticas" dos "piores comandantes".

"O que aconteceu em Moçambique é ainda hoje uma imensa vergonha para a instituição militar portuguesa. Morre-se por incompetência, por desleixo, morre-se por doença. Em Moçambique há mais mortes do que em França no Exército, mas mais de 95% são por doenças perfeitamente evitáveis", disse.

O historiador fala de uma máquina militar "extremamente rígida e desorganizada", onde grassava a corrupção, e que acabou afastada pela força britânica.

"Muitos dos medicamentos dados aos soldados contra das doenças tropicais eram farinha, por isso apanhavam as doenças. Esta corrupção, esta incompetência e incapacidade de se adaptar é que provoca o desastre em Moçambique", disse.

"A Guerra em África é muito importante para a inovação da arte militar, mas uma vez mais África mostra bem [...] a forma como aquele regime destruiu a máquina militar portuguesa, a mesma máquina que tinha feito campanhas vitoriosas antes em Moçambique", concluiu.

Portugal participou na Primeira Guerra com cerca de 100 mil militares ao lado dos aliados, enviando soldados para a frente de batalha em França (1917 - 1918), Angola (em 1914-1915) e Moçambique (1914-1918).

Para assinalar os 100 anos do fim da Primeira Guerra Mundial mais de 60 chefes de Estado, incluindo o Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, participam domingo, em Paris, no Dia do Armistício.

Recomendados para si

;
Campo obrigatório