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Trump assinala segundo aniversário da eleição a pensar na próxima corrida

Donald Trump assinala dois anos da sua eleição como Presidente dos EUA na quinta-feira, num cenário de fortes divisões políticas e de radicalização de discurso, mas a pensar na reeleição.

Trump assinala segundo aniversário da eleição a pensar na próxima corrida
Notícias ao Minuto

11:51 - 07/11/18 por Lusa

Mundo Estados Unidos

Na véspera das eleições intercalares de terça-feira, um jornalista televisivo perguntou a Donald Trump de que mais se arrependia nos dois anos iniciais de mandato presidencial.

Trump hesitou uns segundos antes de responder: "O tom. Gostaria de ter utilizado um tom mais suave".

A verdade é que estes dois anos na Casa Branca foram de um tom muito inflamado, em comícios, em declarações aos jornalistas ou nos milhares de Tweets que o presidente dos EUA utilizou para comunicar diretamente com os cidadãos.

Contudo, não tem sido apenas o tom que tem dividido a perceção dos eleitores sobre a Presidência de Donald Trump, mas também muitas das medidas políticas: na área dos cuidados de saúde, na forma de lidar com imigração, ou nos cortes dos impostos.

Dois anos após a eleição, Trump tem baixos níveis de popularidade e o Partido Republicano perdeu a hegemonia no Congresso, nas eleições intercalares, mas o presidente não esconde que pensa na reeleição, em 2020.

Em março passado, Donald Trump elogiou o facto de o Congresso chinês ter eliminado os limites temporais para a reeleição do presidente Xi Jinping: "Uma boa medida. Talvez um dia tentemos isso aqui".

Esta declaração animou os adeptos do presidente dos Estados Unidos da América (EUA), que se entusiasmam com os sucessos da Casa Branca, e preocupou muito os adversários que temem que Trump tente prolongar o seu mandato indefinidamente.

Por essa altura, no início da segunda primavera do mandato de Trump na Casa Branca, perante índices económicos dos EUA muito positivos, o presidente falava publicamente sobre as suas ambições de reeleição e o Partido Republicano intensificava as ações para recolher fundos para essa missão.

Mas no mês seguinte, em abril, quando se tornaram conhecidas as investigações judiciais ao gabinete de Michael Cohen, advogado de Trump e um dos seus mais próximos assessores, com revelações comprometedoras para o Presidente, foi a vez de os Democratas alimentarem esperanças num processo de 'impeachment' que afastasse Trump do poder, ainda para mais com as sondagens a darem as primeiras indicações de que os Republicanos poderiam perder o controlo de uma das câmaras do Congresso.

Esta dupla e radicalmente oposta avaliação do exercício de funções de Donald Trump resume bem a tendência para extremismos que se tem consolidado na política americana.

O resultado das eleições intercalares de terça-feira - que deram uma maioria Democrata na câmara de representantes, mas consolidou a maioria Republicana no Senado -- não vai atenuar as divergências, nem unir o país.

Estas eleições dividem a meio o mandato de Donald Trump, que a partir de agora terá um ambiente político mais combativo, com a maioria Democrata dos congressistas a exigir mais investigação ao trabalho do Presidente e a dificultar a agenda legislativa dos Republicanos.

Donald Trump foi eleito após uma campanha plena de promessas arrojadas: um "fantástico" corte fiscal, a construção de um muro na fronteira com o México, rasgar os acordos comerciais internacionais e controlar a imigração de países árabes.

Dois anos depois, o balanço feito pela base de apoio de Trump é muito otimista: o presidente conseguiu travar os testes nucleares da Coreia do Norte, colocar fortes sanções ao Irão, levar as bolsas a bater sucessivos recordes, renegociar o acordo comercial na América do Norte, eleger juízes conservadores para o Supremo Tribunal.

Do outro lado da barricada, a perspetiva é substancialmente diferente: o presidente está longe de atingir o ritmo para cumprir a promessa de criação de 25 milhões de novos empregos numa década, não foi capaz de reverter o programa de assistência social Obamacare, o muro na fronteira com o México está ainda na fase de protótipos, a reforma fiscal ficou a meio caminho.

A promessa eleitoral de colocar a América em primeiro lugar ("America first") continua a ser um 'slogan' do presidente, elogiado pelos que apreciam o esforço protecionista de Trump, por exemplo, refletido nas fábricas que começam a beneficiar de taxas na importação, mas criticado, por exemplo, pelos agricultores que têm mais dificuldade em exportar os produtos para a Europa e para a China devido à guerra comercial que, entretanto, se vai agravando.

E quando a sua base de apoio no interior rural se queixa, Trump faz sobressair os sucessos no campo diplomático e militar, seja pela derrota do grupo extremista Estado Islâmico, na Síria, seja pelas sanções ao Irão, ou pela capacidade de negociar com o líder da Coreia do Norte para impedir testes com mísseis nucleares capazes de atingir território americano.

Esta "estratégia ziguezagueante" para procurar apoio eleitoral, como lhe chamava um recente editorial do jornal The New York Times, confunde os seus adversários políticos (como já reconheceu um congressista democrata, relativamente a decisões de Trump na área fiscal, em contra-mão com o que tinha prometido à ala mais conservadora do Partido Republicano), bem como os seus aliados internacionais (o presidente francês, Emmanuel Macron, estava convencido de ter conseguido influenciar o homólogo americano, até perceber que Trump não desistira da intenção de ficar de fora do acordo sobre o Clima).

Trump chega ao final do segundo ano após as eleições com índices de popularidade muito baixos, acusando os jornalistas de manipularem a perceção dos americanos (com o que ele chama de "fake news") e sem dar sinais de mudar de estratégia (nos comícios para as eleições intercalares, repetiu os mesmos 'slogans' da campanha presidencial de 2016).

E diz não compreender as críticas da oposição, chamando a atenção para os índices económicos muito favoráveis e para as promessas eleitorais cumpridas.

O especialista em política americana Nuno Gouveia aponta mesmo a eleição dos juízes conservadores para o Supremo Tribunal, como a grande vitória política de Trump, neste início de mandato, em contraste com a incapacidade de abolir o Obamacare, que seria o seu maior desaire, aproveitado como bandeira dos Democratas.

"Hoje o Obamacare é popular e Trump, ao ter tentado e fracassado acabar com a reforma, colocou os republicanos na defensiva neste assunto", conclui o investigador português.

No início do fim do seu mandato, a questão é saber como Trump se poderá comportar, com um Congresso mais hostil e perante sinais de que a sua base eleitoral de apoio está a mudar.

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