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Ilha onde nasceu Moçambique faz anos e UNESCO quer acelerar preservação

A preservação do património da ilha de Moçambique está a avançar, mas as Nações Unidas pedem mais rapidez nalgumas intervenções, de acordo com o último relatório anual global do Comité para o Património Mundial da Humanidade.

Ilha onde nasceu Moçambique faz anos e UNESCO quer acelerar preservação
Notícias ao Minuto

10:15 - 15/09/18 por Lusa

Mundo 200 anos

A ilha completa 200 anos de elevação a cidade com festejos que arrancam hoje e que se prolongam até à data da celebração, segunda-feira, 17 de setembro.

Em 1991, a ilha foi declarada Património Mundial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), organismo que há dois meses pediu às autoridades moçambicanas que terminem "prontamente" a atualização do plano de gestão da ilha, entre outras medidas regulamentares.

Da mesma forma, é pedida com "celeridade" a redefinição da "zona tampão", permitindo a "proteção de património arqueológico subaquático", assim como obras "de emergência" no antigo hospital, a par do arranque de ações de manutenção regular dos edifícios públicos.

Uma equipa da UNESCO visitou a ilha em março e, no relatório final, diz ter ficado satisfeita ao ver algumas obras de requalificação a avançar, assim como a realização de um inventário patrimonial e um registo do tipo de construção - recomendado que venha a incluir também os imóveis tradicionais.

"O Estado tem feito progressos face aos desafios colocados", no entanto, "combinar iniciativas privadas de conservação com necessidades locais continua a ser um desafio", refere o documento, destacando a necessidade de "especialistas aconselharem o Estado a encontrar um uso apropriado para a Fortaleza de São Lourenço", depois de as autoridades terem rejeitado a conversão em hotel.

No aspeto imaterial, a UNESCO alerta para desigualdades crescentes e recomenda que haja melhorias "urgentes" nas condições de vida dos bairros tradicionais da ilha, por forma a "adequarem-se ao estatuto de valor histórico para a humanidade" da ilha e educando a população como seus guardiões.

O historiador moçambicano Aurélio Rocha disse à Lusa que é necessário "um projeto de requalificação que tenha pernas para andar", respeitando a "dimensão antropológica do espaço".

"É preciso olhar para as pessoas que vivem na Ilha" que podem "não entender muito bem a razão pela qual se está a valorizar o património de pedra e não se está a dar atenção às comunidades", observou o docente universitário.

Vasco da Gama chegou ali em 1498 e estabeleceu uma escala na rota comercial entre Portugal e a Índia, naquele que se tornaria um importante entreposto de escravos.

Ocupando uma área de 245 quilómetros quadrados, a ilha foi a primeira capital de Moçambique, permanecendo de pé diversos monumentos históricos, como a Fortaleza de São Sebastião.

Aurélio Míria, antropólogo e também docente universitário, entende que Moçambique precisa de repensar a importância da Ilha, que é "o mais emblemático de todos os monumentos que o país possui".

"Nós podemos colher experiências de vários países para reabilitar a ilha. Os ganhos provenientes do turismo, embora poucos, podem servir para gerar alguma receita para compensar o investimento aplicado", observou.

A adoção de conteúdos sobre a ilha nos currículos escolares é também apontada pelo académico como uma solução, tendo em conta que há "um forte desconhecimento sobre a importância histórica da ilha".

Portugal tem sido um dos parceiros das autoridades locais com intervenções no âmbito da preservação e reabilitação do património histórico e cultural, gestão e ordenamento territorial e urbanístico, formação profissional e ensino pré-escolar e sua ligação ao ensino primário na região.

O Cluster da Cooperação Portuguesa na Ilha de Moçambique incluiu um orçamento de um milhão de euros para a segunda fase de implementação (período 2015-2018).

No âmbito das comemorações do bicentenário como cidade, Portugal organizou um total de sete exposições, na Ilha e em Maputo, ao longo do ano e está projetar organizar outros dois seminários, além de dois documentários e mais sete atividades ligadas à cidadania e a boas práticas.

"A ilha é de uma riqueza patrimonial única e este é o nosso contributo para esta celebração. Continuarmos com vontade de cooperar com as autoridades para a valorização deste local histórico, tanto para Moçambique, como para Portugal", disse à Lusa, Patrícia Pincarilho, conselheira para a cooperação na embaixada de Portugal em Moçambique.

A partir de hoje, as autoridades locais vão interditar a entrada e circulação de viaturas particulares na ilha para permitir a livre circulação de pessoas para as comemorações do bicentenário de elevação a cidade - haverá transportes públicos especiais.

O número de camas disponíveis nas unidades hoteleiras ronda as 300, escreve a Agência de Informação de Moçambique (AIM), que prevê que o número possa subir ligeiramente: os organizadores das comemorações estão a encorajar os residentes "a apetrecharem os seus alojamentos".

O programa das festas serve de prova de que a ilha é um local onde as culturas sempre se encontraram ao longo da história.

Tufo, N'sope e Nsirriputi são três dos estilos de danças a ser interpretados no espetáculo de abertura marcado para hoje à noite, com 11 grupos de dançarinos dirigidos pela coreógrafa e bailarina moçambicana, Pérola Jaime.

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