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Residências do Magalhães Lemos ajudam doentes mentais a ser autónomos

O Hospital Magalhães Lemos, no Porto, dispõe de quatro residências para, atualmente, ajudar 24 doentes com problemas de saúde mental no processo de reabilitação e reintegração na sociedade.

Residências do Magalhães Lemos ajudam doentes mentais a ser autónomos
Notícias ao Minuto

11:25 - 10/06/18 por Lusa

País Porto

São 24 os utentes que hoje vivem nas residências da Afua - Associação Familiares, Utentes e Amigos do Hospital Magalhães Lemos - fundada em 1999, com o objetivo de apoiar, no período pós-internamento, os doentes do hospital, a maioria com esquizofrenia.

Luís, Jorge e Vitor são três dos utentes com problemas do foro mental. Estão clinicamente estáveis, pois só assim são considerados aptos para realizarem o processo de reabilitação e reintegração na sociedade.

Já passaram nove anos desde que Luís, 56 anos, entrou para o Hospital Magalhães Lemos. A doença trocou-lhe as voltas, mas a Afua "esticou-lhe a mão".

Esteve internado durante um ano e meio, pensando que nunca mais "na vida voltaria a tocar guitarra". Mas voltou e acredita que foi graças à associação que a sua "postura perante a vida mudou".

"O meu percurso foi a consequência de tudo o que passei. Foi difícil, mas vivi sempre com perseverança e fui buscar forças a Deus e à música, pois são a melhor terapia", contou Luís, músico desde os 18 anos.

O trajeto de reabilitação do Luís continua a ser delineado, todos os dias, pelos técnicos que o acompanham. Hoje, vive numa das residências, já fora do hospital, mas o seu próximo passo é viver na sua própria casa.

A Afua dispõe de quatro residências, uma no hospital e as restantes em Matosinhos. O propósito destas habitações é "permitir que os doentes façam um processo transitório" e que treinem "competências que lhes permitam viver autonomamente", explicou Cristina Santos, assistente social na Afua há dez anos.

No entanto, apesar dos casos de sucesso, isso nem sempre acontece. Cristina Santos acredita que são vários os motivos, mas que na maioria das vezes se prendem "com a falta de apoio familiar ou restrições de ordem financeira".

A história de Jorge, 61 anos, é um pouco diferente. Há oito anos que a vida se encarregou de o levar até à Afua. Sempre viveu nas residências e, há quatro anos, tornou-se voluntário no bar do hospital. Há quem diga que as sopas que faz são as melhores e Jorge confessa que com "boa vontade e empenho as coisas não custam".

Durante o ano, ainda consegue estar com a família, mas durante a última ida a casa, diz que se sentiu "estranho".

"Senti que a minha família já não me diz nada. Já não tenho ligação afetiva, mas cá [na Afua], tenho ligação com toda a gente. A minha família é esta", desabafou.

Já Vítor, 38 anos, não se lembra do momento em que chegou ao hospital. Acredita que isso já "não importa" porque o que mais deseja é tornar-se "completamente autónomo" e considera que só assim estará "preparado para enfrentar o futuro".

Depois de uma carreira dedicada à hotelaria, agora a sua grande ambição é voltar a fazer o que mais gosta: "trabalhar em hotéis da cidade" do Porto.

As histórias destes três homens cruzaram-se na Afua e todos acreditam que a associação, "que não olha a passados, nem faz perguntas" é "uma mais-valia para os que têm problemas", porque "ajuda a superar todos os receios" derivados da doença que os "marginaliza".

Apesar de a doença mental fazer, cada vez mais, parte do debate público e existir uma maior consciência para o problema, o presidente da Afua, Afonso Santos, confessou ser difícil manter a associação "sustentável e independente", devido "à falta de ajuda".

O próximo objetivo, revelou, passa por "criar mais uma residência para dar resposta à lista de espera, cada vez maior".

Para a terapeuta ocupacional, Cláudia Oliveira, é preciso "consciencializar a sociedade", pois acredita que "a reabilitação é a pedra essencial do processo" e que a grande vitória é que um dia todos os que passam pela Afua consigam recuperar a autonomia e sejam capazes de ter a sua própria casa.

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