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Casal que dirige a Nicarágua contestado nas ruas

Um é o ex-guerrilheiro admirador de Fidel Castro, a outra, uma poetisa excêntrica que se comporta como mãe do povo: Daniel Ortega e a esposa, Rosário Murillo, governam a Nicarágua, quando esta assiste a manifestações com vários mortos.

Casal que dirige a Nicarágua contestado nas ruas
Notícias ao Minuto

22:20 - 23/04/18 por Lusa

Mundo América Central

Os críticos comparam-nos a Frank e Claire Underwood, o duo impiedoso da série norte-americana 'House of Cards', ou designam-nos como 'Lord e Lady Macbeth', denunciando a deriva autoritária deste casal que governa o país sem partilha e gere cuidadosamente a sua imagem.

Sem surpresa, 'El Comandante', hoje com 72 anos, obteve um quarto mandato nas eleições presidenciais de novembro de 2016, das quais foram afastados os principais partidos da oposição.

A sua esposa, que tem 66 anos, que dirigia até então a comunicação e a agenda do executivo, passou a acumular a vice-presidência.

E os seus filhos ocupam postos importantes na política, na economia e na comunicação social, o que faz despertar más recordações neste país habituado às dinastias familiares.

A partir de 1936, a Nicarágua viveu sob a ditadura da família Somoza, cujo último representante, Anastasio, foi derrubada em 1979 pela revolução sandinista, dirigida pelos irmãos Ortega: Daniel, eleito presidente, e Humberto, que veio a ser o chefe dos militares.

Com o passar do tempo, o ex-guerrilheiro mudou, trocando o marxismo por uma gestão mais pragmática do poder.

O líder de esquerda aplica agora escrupulosamente as recomendações do Fundo Monetário Internacional (FMI), cujo projeto de reforma da segurança social foi o detonador da cólera popular na semana passada.

Uma coisa porém não mudou: o homem do bigode espesso, que abandonou o camuflado, apoia-se constantemente em Rosário Murillo, designada 'a bruxa' pelos detratores.

Os dois "são maquiavélicos no sentido onde (para eles) os fins justificam os meios", comentava no final de 2016 Gioconda Belli, antiga camarada de luta, tornada escritora e oposicionista do governo, denunciando uma "monarquia" no poder.

Poetisa omnipresente ao seu lado, Rosário, antiga militante sandinista, exerceu consecutivamente os papéis de primeira-dama, porta-voz ou ainda o de diretora de campanha, criando com Daniel 10 filhos.

"Vivemos tempos abençoados de prosperidade e sucesso. Daniel saúda-vos, abraça-vos", afirma, com um tom maternal, na televisão. Todos os dias, ela aqui repreende funcionários ou lê poemas.

À vontade no Inglês, como no Francês, ela impõe as suas escolhas para decorar a capital com dezenas de "árvores da vida", gigantes metálicos iluminados de noite a custos exorbitantes, que foram agora derrubados pelos manifestantes em cólera.

Nascido em 11 de novembro de 1945, no seio de uma família com seis filhos, Daniel Ortega abandonou os seus estudos de Direito para se juntar à Frente Sandinista de Libertação Nacional, antes de passar sete anos na prisão, onde foi torturado.

Durante o seu primeiro mandato, este admirador de Fidel Castro aplicou um programa inspirado na União Soviética: estatização da economia, nacionalização, expropriações, alfabetização.

A sua política valeu-lhe um ódio tenaz dos EUA de Ronald Reagan, que impõem um bloqueio económico, que provoca penúria alimentar, e organizam a contrarrevolução.

Derrotado nas urnas em 1990, ganha as presidenciais em 2006, tomando-lhe o gosto. Apesar de uma interdição constitucional, obtém do Supremo tribunal, de maioria sandinista, a autorização para disputar um segundo mandato consecutivo.

Negociador confirmado, consegue tranquilizar os meios empresariais, descansar as organizações internacionais, ao mesmo tempo que privilegia Hugo Chavez, cujos dólares e ofertas em género alimentam os programas sociais do governo.

Em 2014, fez modificar a Constituição para ter a possibilidade de voltar a concorrer.

Este hábil homem político, descrito como frio, pragmático e desconfiado, governa recluso numa residência em Manágua, objeto de forte vigilância.

Detestando tanto as viagens, como as conferências de imprensa, permanece popular entre as classes mais desfavorecidas, beneficiárias dos seus programas sociais, mas perdeu o apoio de antigos companheiros de luta, que o acusam de traição aos ideais revolucionários, autoritarismo e clientelismo.

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