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Greve fecha Escola Portuguesa de Luanda e deixa alunos à porta

A Escola Portuguesa de Luanda (EPL) ficou esta terça-feira de portões fechados, no primeiro dia de greve dos professores, com a adesão generalizada dos docentes a deixar centenas de crianças no exterior, perante a indignação e apreensão dos pais.

Greve fecha Escola Portuguesa de Luanda e deixa alunos à porta
Notícias ao Minuto

10:52 - 17/04/18 por Lusa

Mundo Ensino

Segundo informação reunida pela agência Lusa junto da EPL, o protesto dos professores, com dias de greve interpolados a 17, 18 e 19 de abril, 8, 9 e 10 de maio, e 8, 19 e 27 de junho, passa por reivindicações salariais, nomeadamente devido à desvalorização, superior a 30%, do kwanza para o euro, desde janeiro.

Os salários em kwanzas, reclamam os professores, estão indexados ao euro, mas a recusa dos pais e encarregados de educação, em março, em aprovar um orçamento retificativo para 2018, com aumento da propina mensal, levou à convocação da greve, à qual aderiram hoje praticamente a totalidade dos 133 professores, deixando os 2.000 alunos (em dois turnos) sem aulas.

"Estamos todos aqui na incerteza. Fomos todos aconselhados, no sábado, a trazer os meninos, porque não se sabia quem ia aderir e quem não ia aderir à greve e hoje chegamos aqui com os meninos e somos confrontados com o portão fechado. São 7h30, tocou o sino e nós também temos de ir trabalhar, não sabemos como é que fica", reclamou Engrácia Jesus, em declarações à Lusa.

A caminho do trabalho, esta mãe ainda não tem solução para os filhos, que frequentam o sexto e o nono anos de escolaridade na EPL: "Pode ser que algum professor dê aula, não sei".

Pouco depois, sempre com os portões da escola fechados, surgia a confirmação, através de um aviso, sobre o encerramento definitivo, devido à adesão dos professores à greve.

"Vou ter que os deixar em casa, tenho de ir trabalhar. Acredito que os professores estejam no direito deles, mas nós pagamos todos os meses as nossas propinas, não é justo", disse Engrácia.

"Não estávamos à espera que a escola não abrisse os portões e não prestasse os serviços mínimos. Foi um grande transtorno para a maioria dos pais. E preocupação", explicou por sua vez à Lusa Inês Monteiro, que têm três filhos a estudar na EPL e o quarto a caminho, no próximo ano letivo.

"Nove dias sem aulas. Estamos a falar do terceiro período, o período que tem mais peso na avaliação dos alunos. Isto vai ter impacto, como é óbvio", reclamou, apreensiva com a situação em que a EPL se encontra.

Por cada um dos três filhos, esta emigrante portuguesa paga de propina mensal (10 meses) 112.200 kwanzas (416 euros), valor que a Cooperativa Portuguesa de Ensino em Angola (CPEA), entidade sem fins lucrativos e que gere a EPL, tentou aumentar, em março, para 130.000 kwanzas (480 euros) por mês e atualização ao câmbio do banco ao dia 20 de cada mês e em função da inflação.

O objetivo era dar resposta às reivindicações dos professores, mas os pais e encarregados de educação, num universo de 1.500 cooperantes efetivos, chumbou a proposta, em assembleia-geral extraordinária, depois de sucessivos aumentos e alterações ao modelo de pagamento nos últimos meses.

"Direitos, todos os têm. O que nós pedimos é que nos façam prova de que há necessidade financeira real", contestou Inês Monteiro, que dá voz à indignação dos pais.

"Só pedimos transparência na gestão desta escola", apontou.

Do pré-escolar ao 12.º ano de escolaridade, a EPL segue o currículo e calendário escolar de Portugal, tendo sido construída pelo Estado português em terrenos no centro de Luanda cedidos pelo Governo angolano.

A CPEA, para a sua gestão, recebe um subsídio anual do Estado português, que em 2017 ascendeu a 776.000 euros, neste caso para garantir a manutenção, cabendo o pagamento dos professores ao valor arrecadado com as propinas.

Para os pais, é tempo, 30 anos depois, de a escola "passar ser gerida pelo Governo português".

"Isto chegou a um limite. Os pais não têm capacidade para fazer face ao que nos está a ser exigido e não nos prova que é necessário", desabafou ainda Inês Monteiro.

Já em cima da 08:00, Jandira Rodrigues, outra mãe, desiste e é tempo de seguir para o trabalho. Com dois filhos a estudar na EPL, na primeira classe e no quinto ano, distribuídos pelo turno da manhã e da tarde, ambos vão ter de ficar em casa.

"A situação é um pouco confusa na escola, os professores têm os seus problemas e os pais também. Mas a direção tem de resolver a questão, porque nós pagamos e estamos quase em fase de testes", contestou.

De portões fechados desde as primeiras horas, a situação permaneceu sem alteração durante a manhã, reforçando a indignação dos pais.

"Pelos vistos, a escola é que está em greve. Está toda fechada. E nós questionamos exatamente isso. São os professores que estão em greve ou são os funcionários, as vigilantes, o pessoal administrativo que está em greve? Nós também queríamos saber isso", criticou Tânia Frutuoso.

Pouco depois, à semelhança dos restantes pais, leva o filho, que frequenta a terceira classe, de novo para casa.

"Numa situação normal a escola devia estar aberta", desabafou, já a caminho do carro.

PVJ // VM

Lusa/Fim

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