Os três países tornaram-se atores decisivos no país do Médio Oriente, devastado por um sangrento conflito iniciado em 2011 e onde intervêm diretamente, beneficiando de uma quase ausência da influência de Washington e aliados.
Em janeiro de 2017 os três países desencadearam o processo de Astana, excluindo os Estados Unidos e promovendo um diálogo paralelo às negociações conduzidas no quadro da ONU.
Este processo resultou designadamente num acordo sobre a criação na Síria de quatro "zonas de desescalada" que permitiu a diminuição da violência em diversos setores. Mas a busca de uma resolução do conflito sírio permanece num impasse, também devido aos interesses contraditórios de Moscovo, Ancara e Teerão.
A generalidade dos observadores reconhece que estes três países são as principais forças em presença na Síria e permanecem dispostos em utilizar os seus recursos militares para influenciar o conflito. Deste modo, a Síria está dividida em diversas zonas de influência que refletem a presença militar de cada um dos três países intervenientes.
Após terem apoiado grupos da designada oposição "moderada" contra o regime de Damasco, os Estados Unidos, que lideram uma coligação internacional 'anti-jihadista', concentraram-se no combate ao grupo Estado Islâmico (EI), apoiando no terreno as milícias curdas do norte sírio, agora alvo de uma ofensiva do exército de Ancara.
Washington parece ter perdido a capacidade política em influenciar uma resolução do conflito, e o Presidente norte-americano, Donald Trump, afirmou na passada sexta-feira que as suas tropas vão deixar a Síria "em breve", após ser anunciada a derrota total do grupo 'jihadista'.
Moscovo e Teerão são os principais apoios do regime do Presidente sírio, Bashar al-Assad, e contribuíram de forma decisiva para que recuperasse metade do território sírio.
A Turquia afirma por sua vez ter "garantido a segurança", com a ajuda de grupos rebeldes sírios, de "2.000 km2" no norte da Síria, no decurso de uma operação militar entre agosto de 2016 e março de 2017.
Em janeiro, Ancara desencadeou uma nova ofensiva contra as Unidade de Proteção Popular (YPG), uma milícia curda aliada de Washington na guerra contra o EI e que Ancara considera "terrorista". O bastião curdo de Afrine foi tomado pelo exército turco em 18 de março, provocando o êxodo de dezenas de milhares de civis.
O processo de Astana é assim encarado como uma forma de Rússia, Turquia e Irão gerirem o conflito e servirem os seus interesses. Ancara procurará instalar junto às suas fronteiras os grupos rebeldes que tem apoiado e garantir o controlo do norte da Síria, que lhe dará poder negocial. Já Moscovo estará interessado em proteger as suas bases navais e aéreas no Mediterrâneo.
O Presidente turco manifestou em março a intenção de prosseguir a sua ofensiva na Síria até Minbej, uma cidade na posse do YPG e onde estão estacionados militares norte-americanos. Mas esta intenção poderá agravar as sérias tensões entre Washington e Ancara, dois Estados-membros da NATO, e beneficiar a estratégia da Rússia, e do Irão.
Devido a estas contradições, e atendendo às perspetivas de observadores citados pela agencia France-Presse, devem ser aguardados poucos resultados concretos da cimeira de quarta-feira na capital turca entre os presidentes turco, Recep Tayyip Erdogan, russo, Vladimir Putin, e iraniano, Hassan Rouhani.