Turquia revela que Trump vai deixar de armar curdos. Pentágono desconhece
O ministro dos Negócios Estrangeiros turco, Mevlut Cavusoglu, afirmou hoje que o Presidente norte-americano disse ao seu homólogo turco que os EUA iam deixar de fornecer armas aos combatentes curdos sírios.
© Reuters
Mundo Síria
Cavusoglu disse que Donald Trump divulgou a sua decisão durante uma conversa telefónica com o presidente turco, Recep Erdogan. Cavusoglu disse que esteve presente no gabinete durante a chamada telefónica.
Os dirigentes turcos consideram os combatentes curdos sírios, organizados nas Unidades de Proteção do Povo (YPG, na inicial em Curdo), como terroristas devido à sua filiação com os ilegalizados rebeldes curdos que há três décadas protagonizam uma insurgência na Turquia. O YPG tem sido um aliado dos EUA na luta contra o grupo que se designa por Estado Islâmico, na Síria.
"Trump afirmou de forma clara que tinha dado instruções claras e que o YPG deixaria de receber armas (dos EUA), e que este 'nonsense' já deveria ter acabado há muito tempo", disse Cavusoglu, numa conferência de imprensa na capital turca.
Não houve reação imediata dos EUA.
Mas o anúncio turco pareceu ter apanhado desprevenidos o Pentágono e o Departamento de Estado norte-americano.
Dirigentes destes departamentos governamentais, que normalmente estariam informados sobre mudanças nas políticas dos EUA relativas ao armamento dos curdos sírios, garantiram, sob anonimato, que desconheciam a existência de mudanças.
Relações entre os EUA e a Turquia, aliados na NATO, agravaram-se recentemente devido a vários casos, incluindo o apoio dos EUA aos combatentes cursos sírios.
Cavusoglu citou Trump como tendo dito que deu instruções aos generais norte-americanos e ao conselheiro de Segurança Nacional, H. R. McMaster, para que "nenhuma arma seja fornecida".
O comentário do ministro turco foi esclarecedor: "Claro que estamos muito felizes com isto".
Apesar de desagradar claramente aos curdos, ignora-se o real impacto no terreno.
Os EUA têm armado os curdos na sua luta contra o grupo designado por Estado Islâmico, através de um grupo conhecido como Forças Democráticas Sírias (FDS), que é integrada por curso, mas também por árabes.
Mas a retração daquele grupo, que perdeu praticamente todo o território que controlava na Síria, alterou a dinâmica na região e um dirigente da área da defesa dos EUA afirmou que desconhecia qualquer programação de envio de armas para os curdos, mesmo antes do anúncio turco.
Na semana passada, o porta-voz da coligação que combate o Estado Islâmico no Iraque e na Síria, coronel Ryan Dillon, afirmou que ainda tinha de haver uma redução no número de conselheiros militares norte-americanos que trabalham com o FDS.
Os seus comentários pareceram sugerir que a possibilidade de as mudanças no nível e no tipo de apoio militar dos EUA aos curdos sírios poderem estar para breve.
Mas o anúncio feito hoje pelo ministro turco -- se confirmado pelos EUA -- seria o golpe mais recente sofrido pelos curdos. Tanto na Síria como no Iraque, os EUA dependeram dos combatentes curdos para fazerem muito do combate contra o grupo Estado Islâmico, mas estes esforços ainda não conduziram à realização das aspirações mais gerais dos curdos, designadamente um Estado independente.
O apoio de Washington aos curdos sírios, em particular, tem sido um espinho nas relações turco-norte-americanas desde há anos, dadas as preocupações de Ancara com as aspirações territoriais curdas.
A Turquia receia, em particular, o estabelecimento de um cantão curdo no norte da Síria, contíguo à sua fronteira.
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