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"Terrorismo low-cost" mantém ameaça "elevada" em França

O deputado francês e ex-chefe da polícia de elite que liderou o assalto ao Bataclan, Jean-Michel Fauvergue, disse à Lusa que a ameaça de atentados em França "continua elevada" e traduz-se no "terrorismo 'low cost'".

"Terrorismo low-cost" mantém ameaça "elevada" em França
Notícias ao Minuto

08:34 - 13/11/17 por Lusa

Mundo Polícia

O homem retratado no livro 'Patron du RAID - Face aux Attentats Terroristes' ['Patrão do RAID - Face aos Atentados Terroristas'] começou por explicar que "a ameaça continua elevada, ainda que tenha mudado de rosto" e que se "em 2015, por exemplo, com o Bataclan e as esplanadas era um terrorismo de rede" agora é um "terrorismo 'low cost'".

"Agora, enfrentamos um terrorismo endógeno, ou seja, pessoas que não foram para o exterior do nosso país para se formar, mas que se radicalizam dentro do país, bastante rapidamente, e depois cometem atentados com o que lhes aparece. É um terrorismo endógeno e um terrorismo que chamamos 'low cost' porque inclui atentados com camiões, com carros que atropelam as pessoas, com facas", descreveu.

Entre maio de 2013 e março de 2017, Jean-Michel Fauvergue foi o chefe da polícia de elite francesa - chamada RAID - e comandou, por exemplo, os assaltos antiterroristas ao Bataclan, a 13 de novembro de 2015, à mercearia judaica Hyper Cacher em janeiro de 2015, à igreja Saint-Etienne-du-Rouvray, a 26 de julho de 2016, e a Nice, a 14 de julho de 2016.

O agora deputado do partido La République en Marche afirmou que, "por enquanto", o "terrorismo de rede, estruturado, organizado, financiado" foi "dominado graças ao trabalho dos serviços de informações e dos serviços de investigação" e também "graças à cooperação e colaboração internacional", mas alertou que "o terrorismo é polimorfo" e os atentados "low cost" "podem ser terríveis".

"Basta olhar para Nice, com o atentado de 14 de julho de 2016 com um camião: 90 pessoas morreram em menos de cinco minutos e este atentado custou ao seu autor menos de 2.200 euros", afirmou o deputado que também trabalhou na nova lei antiterrorista que entrou em vigor a 31 de outubro para substituir o estado de emergência em França.

Questionado sobre como é que a França pode evitar mais atentados, Jean-Michel Fauvergue avançou que "desde o início do ano" foram desmantelados "quase 30 atentados", mas advertiu que, "tendo em conta o grau da ameaça e o facto de serem completamente imprevisíveis, é difícil pretender evitar todos os atentados".

"É difícil aqui [em França], mas também é difícil nos nossos vizinhos europeus. Sei que Portugal, ainda bem, não foi afetado por este tipo de atentados - e espero que isto dure -, mas foram afetados vários países europeus", constatou.

Quanto aos jihadistas franceses que foram combater para a Síria ou Iraque e regressam a França, Jean-Michel Fauvergue sublinhou que, "por enquanto, muito poucos voltaram.

"Estes jihadistas radicalizados estão à procura da morte" já que "na cabeça deles vão subir mais depressa ao paraíso" se morrerem em combate, explicou.

O antigo chefe da polícia defendeu que os jihadistas franceses prisioneiros, por exemplo, no Iraque, devem ser julgados no terreno pelos crimes aí cometidos e alertou que vai ser precisa uma "cooperação internacional e europeia" para "gerir" os filhos dos jihadistas.

"Além dos homens, temos também mulheres e crianças que chamamos os 'leõezinhos do Califado' que não combatem nem buscam a morte, mas será um problema a gerir, não apenas aqui, mas em todo o território europeu. Vai ser preciso gerir estas crianças. Estamos a trabalhar com células de desradicalização, mas por enquanto estamos numa fase balbuciante", continuou.

Dois anos depois dos atentados de Paris e de ter sido um dos primeiros a entrar no Bataclan após o ataque que fez 90 mortos, Jean-Michel Fauvergue admitiu que "pensa sempre" no que viu na sala de espetáculos e que "nunca se sai ileso" das operações antiterroristas.

"Os psicólogos dizem que os choques psicológicos, na sequência deste tipo de intervenções, são como um balde que se enche de água e nunca se esvazia. Claro que se enche de forma diferente em função da personalidade de cada um, mas nunca se sai ileso", testemunhou.

Nessa noite, viu "horrores" e disso "nunca se recupera completamente".

O polícia descreveu o atentado no livro 'Patron du RAID - Face aux Attentats Terroristes', lançado a 18 de outubro e que é constituído de várias entrevistas à jornalista Caroline de Juglart.

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