Catalunha: Madrid aprova hoje medidas para repor legalidade e normalidade
O Conselho de Ministros espanhol vai aprovar hoje, em Madrid, as medidas concretas para "restaurar a legalidade" na Catalunha, com uma intervenção direta prevista nas áreas da segurança, das finanças e em domínios exclusivos do presidente da região.
© Reuters
Mundo Tensão
Todas essas medidas foram já negociadas com o segundo maior partido, o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), que lidera a oposição ao Partido Popular (PP), minoritário, do Governo de Mariano Rajoy.
Os cidadãos (centro), o quarto maior partido no parlamento em Madrid, também apoia a decisão que irá permitir o regresso à ordem constitucional daquela região espanhola.
"O Conselho de Ministros irá aprovar as medidas necessárias para recuperar a legalidade e a normalidade constitucional" na Catalunha, realçou na sexta-feira em Bruxelas, no final de uma cimeira europeia, o primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy.
A decisão irá permitir uma intervenção direta no funcionamento do Governo regional (Generalitat), principalmente nas áreas da segurança, das finanças e em domínio exclusivos do presidente da Catalunha, Carles Puigdemont, que poderá manter-se no lugar, mas sem as suas principais competências.
A autonomia da Catalunha não será suspensa, mas Madrid passa a controlar a gestão corrente da Generalitat, de acordo com fontes do Governo.
Segundo o PSOE, já há mesmo um acordo entre este partido, Cidadãos e o Governo espanhol para serem convocadas eleições autonómicas na Catalunha em janeiro próximo.
Entretanto, em Barcelona, os partidos separatistas que apoiam o Governo regional consideram que, se Madrid avançar, como se prevê, na aplicação do artigo 155.º da Constituição, estarão livres para declarar formalmente a independência da região.
À margem da Cimeira Europeia de Bruxelas, na quinta e sexta-feira, vários chefes de Estado e de Governo comunitários, entre eles a chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, Emmanuel Macron, voltaram a dar o seu apoio a Madrid para defender a legalidade e a unidade de Espanha.
O primeiro-ministro português, António Costa, já tinha na semana passada avançado que Lisboa defende uma solução que respeite a Constituição de Espanha e que assegure a unidade do Estado espanhol, frisando que se trata de "um país irmão", parceiro na União Europeia e da NATO.
O artigo 155.º da lei fundamental espanhola prevê que, "se uma comunidade autónoma não cumpre as obrigações que a Constituição ou outras leis lhe imponham, ou atue de forma que atente contra o interesse geral de Espanha, o Governo [...] poderá adotar as medidas necessárias para obrigar aquela [região] ao cumprimento forçoso das ditas obrigações ou para proteger do mencionado interesse geral".
Esta cláusula nunca foi utilizada desde a aprovação da Constituição em 1978, tendo Madrid apenas uma vez, em 1989, com o socialista Felipe González como primeiro-ministro, iniciado a sua aplicação, que foi interrompida a meio do processo quando as Canárias acabaram por voltar à legalidade defendida pelo Governo central numa questão relacionada com a redução unilateral dos direitos aduaneiros.
Na quinta-feira, o PSOE voltou a afirmar que apoiava o Governo na aplicação do artigo 155.º da Constituição para "repor a legalidade" na Catalunha, mas esperava que as medidas fossem "muito, muito limitadas".
Por outro lado, fontes parlamentares citadas pela agência EFE asseguraram que o senado espanhol (câmara alta) irá tentar aprovar na sexta-feira 27 de outubro, daqui a menos de uma semana, as medidas que o governo irá propor hoje.
A mesa do Senado reúne-se logo a seguir ao Conselho de Ministros extraordinário e espera-se que chegue a acordo para criar uma comissão mista com 27 senadores das comissões Geral das Comunidades Autónomas e Constitucional.
Essa comissão será encarregada de tramitar a proposta do Governo antes de esta chegar à sessão plenária prevista para daqui a uma semana.
Na próxima semana estão previstas reuniões plenárias do Senado, terça e quarta-feira, o que condiciona o calendário para tratar das medidas do Governo até à sua aprovação na sexta-feira.
O regulamento do Senado não prevê um prazo concreto para que Carles Puigdemont possa contestar a proposta de Madrid, tendo a comissão mista de tomar essa decisão.
O presidente do executivo autónomo poderá enviar a documentação necessária que estime ser conveniente, ir pessoalmente ao Senado ou enviar um representante.
A Generalitat organizou e realizou em 01 de outubro último um referendo de autodeterminação, que foi considerado ilegal pelo Tribunal Constitucional, que também recusou todo o processo que levou à consulta popular.
Segundo o Governo regional, o "sim" à independência ganhou com 90% dos votos dos 43% dos eleitores que foram votar, tendo aqueles que não concordam com a independência da região boicotado a ida às urnas.
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