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Daesh continua a ser ameaça global mesmo somando derrotas no terreno

A queda de Raqa é a mais recente derrota do Estado Islâmico, que já perdeu 87% do território tomado em 2014 na Síria e no Iraque, mas a organização jihadista continua a ser a maior ameaça terrorista global.

Daesh continua a ser ameaça global mesmo somando derrotas no terreno
Notícias ao Minuto

18:57 - 17/10/17 por Lusa

Mundo Especialista

Três anos depois de ter conquistado um território da dimensão de Itália, o grupo terrorista Estado Islâmico (EI) - responsável por atrocidades na Síria, no Iraque e múltiplos atentados no Ocidente, África e Médio Oriente - viu o seu autoproclamado "califado" reduzir-se em 87%, na sequência de várias ofensivas conjugadas.

A última grande derrota do grupo surgiu hoje com a queda de Raqa (o reduto de Mossul, no Iraque, tinha caído em julho), às mãos de uma aliança de milícias curdas e árabes - as Forças Democráticas Sírias - apoiada pelos Estados Unidos.

Acossados, os combatentes jihadistas do EI deslocam-se agora para territórios na fronteira síria-iraquiana: em torno da localidade de Boukamal, na província de Deir Ezzor (Leste da Síria), com uma outra bolsa de resistência na localidade de Al-Qaim, na província de Al-Anbar (Oeste do Iraque).

"No seu apogeu, em 2014, o autoproclamado califado do EI controlava um território de Aleppo até à fronteira iraquiana. Agora está confinado a um setor na província de Deir Ezzor", explicou o especialista Nicholas Heras, do Center for a New American Security, em Washington.

No entanto, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), o Estado Islâmico perdeu em dois meses quase metade da província de Deir Ezzor (região rica em petróleo, às portas do Iraque). O grupo foi alvo de duas ofensivas diferentes: uma por parte das forças convencionais do regime sírio, apoiadas por aviação russa, e outra das Forças Democráticas Sírias.

Ainda assim, Deir Ezzor "será o centro de gravidade do EI na Síria, mesmo que controle pequenas bolsas noutros locais", salientou Nicholas Heras, para quem os jihadistas sempre planearam reservar esta zona para "último bastião do califado".

Este setor, disse, "fica longe de Damasco [a 470 quilómetros] e de Bagdad [a 520 quilómetros] e para chegar até ele, a partir de todas as direções, é preciso atravessar um deserto complicado".

"Os governos iraquianos e sírio vão ter trabalho para recuperar toda a fronteira", considerou, por outro lado, Aymenn Jawad al-Tamimi, especialista em movimentações dos jihadistas, citado pela agência France Presse.

No entanto, apesar das consecutivas derrotas na guerra convencional, a ameaça do Estado Islâmico mantém-se hoje, tal como no passado.

"A terrível verdade é que o EI será tão mortífero como rede de insurreição terrorista como quando era um quase-Estado", alertou Nicholas Heras.

Na Síria e no Iraque, realçou, "o Estado Islâmico tem como estratégia a utilização de jovens combatentes radicalizados, inseridos nas populações locais".

Aymenn Jawad al-Tamimi alerta, por seu turno, para as "células adormecidas, para os ataques, para os suicidas", aos quais o Estado Islâmico ainda pode recorrer.

"Os ataques na Europa vão continuar por mais algum tempo. A derrota do projeto de Estado do EI vai retirar-lhes poder de atração, mas o grupo vai continuar a ter partidários durante um longo período".

O analista Charlie Winter, do Centro Internacional de Estudos sobre a Radicalização e a Violência Política, do King's College de Londres, concorda.

"Aos olhos daqueles que lutam pelo Estado Islâmico, a organização conseguiu declarar um califado e mantê-lo. Isto não tem precedentes na história moderna do 'jihadismo' salafista (...) e terá um impacto em todo o 'jihadismo' durante anos e anos", sublinhou o especialista.

Numa conferência recente em Lisboa, o especialista em contra-terrorismo israelita Boaz Ganor considerava que os serviços de informações têm um novo desafio associado à derrota no terreno do Estado Islâmico: perceber o novo processo de tomada de decisões (baseado no risco-benefício) de uma organização em fuga.

"Não tenham dúvidas: o Estado Islâmico não deixará de reivindicar a maioria dos ataques dos 'lobos solitários'" na Europa e Médio Oriente, disse. Mesmo que a sua participação nesses ataques não tenha passado da inspiração ou da divulgação de mensagens jihadistas na Internet.

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