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Massacre de Beslan: Os anos foram, a dor ficou e as respostas não vieram

Tudo correu mal na operação para libertar os reféns na escola de Beslan. A atuação das forças de segurança russas continua a ser criticada e não há respostas para muitas perguntas. Mais de 330 pessoas morreram, incluindo 186 crianças.

Notícias ao Minuto

08:03 - 03/09/17 por Notícias Ao Minuto

Mundo Tragédia

O dia 1 setembro de 2004 marcava o início do ano letivo na escola número um de Beslan, na Ossétia do Norte, na Rússia. Devia ser um dia normal de escola para mais de mil crianças, que iam rever os amigos depois das férias de verão. Ainda houve tempo para a breve felicidade do reencontro com os amigos. Mas a partir das 9h30 tudo mudou.

Uma camioneta de mercadorias coberta com uma lona entrou no pátio da escola. As crianças, os pais que as acompanhavam, os professores e os restantes funcionários não tiveram tempo de perceber o que se estava a passar. Um grupo de 32 militantes chechenos, de acordo com a versão oficial, saiu da camioneta. Estavam armados com armas automáticas e começaram logo a disparar de forma indiscriminada.

Conseguiram dessa forma agrupar as pessoas e levá-las na sua maioria para o ginásio do recinto escolar. Os restantes reféns foram levados para outras áreas. Poucos foram os que conseguiram escapar da escola durante aquela confusão inicial. Relatos iniciais davam conta de mais de 350 reféns. Mas posteriormente percebeu-se que esta estimativa estava longe do número real. No total, os terroristas chechenos fizeram mais de 1.100 reféns.

Para marcar uma posição e evitar uma revolta, os terroristas mataram logo 20 reféns no ginásio. O calor ali era sufocante e os terroristas recusaram dar água e comida aos reféns. Só as crianças podiam ir à casa de banho. Algumas aproveitavam para beber água nessa altura e outras levavam água na boca para dar aos seus pais.

As autoridades russas começaram então as negociações com os miliantes chechenos, que inicialmente não fizeram qualquer exigência. Algo que não tardaria a mudar. Mais tarde exigiriam a retirada das forças russas da República da Chechénia e a libertação de camaradas que tinham sido detidos pelos russos.

Ao segundo dia, as crianças já nem podiam ir à casa de banho. Como contou ao The Guardian uma das sobreviventes, Nadezhda Guriyeva, os militantes "partiram as pias e esmagaram os canos para que não pudéssemos beber água". As negociações pouco avançaram. Mas os militantes permitiram que o presidente da Inguchétia, uma das repúblicas que fazem parte da Rússia, entrasse no estabelecimento de ensino. Ruslan Aushev conseguiu convencer os terroristas a libertarem 26 reféns. Todos mulheres ou crianças.

No dia 3 de setembro, depois de mais de dois dias no inferno que se tinha tornado aquele ginásio, os reféns desesperavam por uma solução. Passava das 13h00 da tarde, horas locais, quando houve uma explosão no interior do ginásio. Segundo Nadezhda Guriyeva, algumas pessoas aproveitaram para fugir pelas janelas partidas. Outras foram abatidas por snipers que os terroristas tinham colocado no sótão do ginásio. Houve uma segunda explosão, que se revelou ainda mais letal para quem lá estava. O telhado caiu e a explosão deu origem a um incêndio.

Foi nesse momento que as forças de segurança russas decidiram avançar. Não se sabe quem disparou primeiro, mas houve um tiroteio entre autoridades russas e militantes chechenos. A troca de tiros durou até final da tarde e contribuiu para que o número de mortes subisse de forma significativa. O mundo assistia pela televisão ao pior cenário que se poderia ter imaginado. O balanço final foi perturbador: mais de 330 pessoas morreram, entre os quais perto de 320 reféns. Mais de 800 feridos. Morreram 186 crianças. Beslan passou a ficar associada à palavra massacre.

Apenas um dos terroristas sobreviveu à operação das forças de segurança russas. Nurpashi Kulayev foi detido. Foi julgado em maio de 2005 e condenado a prisão perpétua por oito crimes, que incluíram terrorismo, assassinato, sequestro e posse e uso ilegal de armas e explosivos.

Mantêm-se as perguntas e as respostas por dar

Ainda hoje, 13 anos após uma das maiores tragédias com reféns da história, há muitas perguntas sem resposta. As investigações subsequentes não esclareceram quem iniciou o tiroteio. O que parece indiscutível é que o desfecho poderia ter sido muito diferente. A atuação das forças de segurança russas foi questionada e criticada desde o primeiro momento e só muito recentemente o Kremlin foi penalizado pelas suas decisões naquele trágico dia.

Em abril, o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos condenou a Rússia a pagar quase três milhões de euros a mais de 400 queixosos, entre sobreviventes e familiares de vítimas. O tribunal considerou que a Rússia cometeu “falhas graves” durante a operação para libertar os reféns e que as autoridades russas já teriam conhecimento da possibilidade de um ataque terrorista contra uma escola na Ossétia do Norte. Mesmo assim não reforçaram a segurança e não alertaram ninguém. Mas Moscovo considerou esta sentença inaceitável.

Os sobreviventes e os familiares das vítimas ainda apresentam as cicatrizes psicológicas deixas pelo Massacre de Beslan. A escola, que ficou parcialmente destruída, foi preservada e tornou-se um memorial ao qual muitas pessoas vão prestar homenagem.

O silêncio e a tristeza que agora se destacam nos terrenos da escola número 1 de Beslan contrasta com as explosões e tiroteio ouvidos no dia 3 de setembro de 2004. Mas principalmente contrasta com os breves sons de alegria daquelas crianças no regresso à escola dois dias antes.

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