Meteorologia

  • 18 ABRIL 2024
Tempo
17º
MIN 16º MÁX 25º

TAM: Avião colidiu ao aterrar há dez anos. Fez 199 mortos e zero culpados

Assinalam-se esta segunda-feira dez anos passados desde o desastre aéreo mais mortífero em terras brasileiras. Tribunal declarou os três réus inocentes pela segunda vez. Associação dos Familiares e Amigos das Vítimas do Voo pede que se acabe com a "impunidade".

Notícias ao Minuto

08:30 - 16/07/17 por Anabela de Sousa Dantas

Mundo Brasil

No dia 17 de julho de 2007, um Airbus A320 da TAM Linhas Aéreas saiu do aeroporto internacional de Porto Alegre com destino ao aeroporto de Congonhas. Ao pousar na pista 35L do aeroporto não conseguiu travar, saiu da pista, atravessou a Avenida Washington Luís e foi embater no edifício da TAM Express, do outro lado da rua.

Morreram todas as 187 pessoas a bordo e mais 12 que se encontravam no solo.

Dario Scott, presidente da Associação dos Familiares e Amigos das Vítimas do Voo TAMJJ3054 (AFAVITAM), é uma das pessoas afetadas pela tragédia.

Entre as 199 vítimas estava a sua filha Thaís, de 14 anos de idade, que seguia no avião para São Paulo para passar férias com avós. Dario falou com o Notícias ao Minuto sobre o acidente e sobre as responsabilidades que parecem nunca encontrar dono.

"Esse acidente ocorreu, na minha opinião, por irresponsabilidade"

Foram discutidas várias causas que terão levado ao acidente, não existindo, porém, uma que seja apontada de forma categórica. O relatório final do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA), divulgado dois anos depois do acidente, determinou que um dos manetes (acelerador do motor do avião) do aparelho estava em posição de aceleração quando devia estar em posição de pouso, não sendo claro se esta falha foi mecânica ou humana.

No entanto, foram apontados outros agravantes: falha no controlo da potência do motor (que terá causado a falha no manete); o piloto poderá ter realizado uma manobra diferente do previsto no manual tendo configurados os manetes de forma errada; havia chuvas intensas naquele dia e a pista ainda não tinha groovings (‘ranhuras’ que proporcionam um maior escoamento de água, permitindo maior aderência entre avião e pista e que diminui o risco de aquaplanagem).

Notícias ao Minuto

“Acompanhei de perto toda a investigação, tanto da Polícia Civil de São Paulo, como da CENIPA. (…) Apresentaram um relatório final com 78 recomendações para a TAM, para a Airbus, para a ANAC, para Infraer, e o que vemos é que a essas recomendações são feitas mas ninguém cobra para saber se foi seguido ou não”, afirmou Dario Scott, acrescentando que a falta de responsabilização perpetua este tipo de falhas.

Esse acidente ocorreu, na minha opinião, por irresponsabilidade tanto dos órgãos públicos quanto da companhia aérea, no sentido em que o aeroporto foi aberto sem estarem as obras concluídas. Por exemplo, existia a questão de se colocar aquelas ‘ranhuras’ da pista, para ajudar na questão da frenagem (travagem). Estávamos a passar pelos Jogos Pan-Americanos e era muito importante abrir o aeroporto, e acabou por acontecer a tragédia

Três réus considerados inocentes duas vezes

O Tribunal Regional Federal decidiu, em junho, manter decisão que inocentou os três acusados do acidente com o avião da TAM: o diretor de segurança de voo da companhia aérea, Marco Aurélio dos Santos de Miranda e Castro, o então vice-presidente de operações da TAM, Alberto Fajerman, e Denise Abreu, que na época era diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC).

“Esses três réus são os mais evidentes, mais há mais”, sublinhou Dario Scott, explicando que vão voltar a recorrer da decisão.

“Eles já tinham sido absolvidos em primeira instância, e nós entrámos com um apelo, foram absolvidos novamente e isso deixa-nos com uma sensação de que o problema é a impunidade. Se certas pessoas tivessem sido punidas, nós teríamos mais responsabilidade em relação à abertura de pistas e às condições da aeronave”, afirmou.

"A minha filha morreu e não precisava de ter acontecido"

Dario Scott perdeu aquela que, na altura, era a sua única filha, Thaís Volpi Scott. A menina de 14 anos ia acompanhada de uma amiga, Rebecca Haddad, também de 14 anos. As duas morreram.

A minha filha, na época do acidente, minha filha única, faleceu de uma forma que realmente não precisava de ter acontecido. Se existisse uma maior responsabilidade das pessoas esse avião não teria sido dirigido para lá, tinha ido para outro aeroporto. Aliás, nenhum avião deveria ter ido para esse aeroporto enquanto não estivesse 100% operacional”, lamentou.

Dario e a sua mulher, Ana, são agora pais de um casal de gémeos, mas em Congonhas ficou perdida uma grande parte das suas vidas, e pedem a punição suficiente para que não se volte a repetir. Para que nenhum pai ou mãe fique para sempre pela metade – como o caso do empresário de 57 anos, Roberto Silva, que perdeu também uma filha no TAM3054 e que todas as semanas ia ao aeroporto cuidar do memorial dedicado ao fatídico voo e esperar o regresso da filha que já não volta.

Recomendados para si

;
Campo obrigatório