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Aparente força dos talibãs suscita interrogações

A notícia em 2015 da morte do mullah Omar, fundador e líder absoluto dos talibãs, abriu fraturas internas, que, não obstante, não se refletiram no campo de batalha, uma resistência que suscita interrogações no Afeganistão.

Aparente força dos talibãs suscita interrogações
Notícias ao Minuto

14:55 - 26/06/17 por Lusa

Mundo Paquistão

O governo afegão anunciou em julho de 2015 que o mullah Omar tinha morrido dois anos antes no Paquistão. A notícia, confirmada pelos talibãs, caiu como uma bomba e destruiu um incipiente processo de conversações entre o executivo afegão e os insurgentes.

Como sucessor de Omar, foi nomeado Akhtar Mansur, que era já o líder do grupo na sombra, mas vários comandantes rechaçaram a sua liderança, dando início a um processo de fragmentação, que se agravou depois da morte de Mansur na sequência de um ataque por um 'drone' [avião não tripulado), mais uma vez no Paquistão, em maio de 2016.

Alguns grupos decidiram unir-se ao grupo 'jihadista' Estado Islâmico afegão (EI-Khorasan), que emergiu em 2015, em outros continuaram como talibãs dissidentes, como foi o caso de Mahaz-i-Fedai, liderado pelo mullah Dadullah (ativo na província de Zabul), ou o caso do grupo liderado pelo mullah Rasul (ativo nas províncias afegãs de Helmand, Uruzgan, Farah, Herat e outras).

Estes últimos mantêm desde há dois anos uma guerra interna contra o principal grupo talibã, agora liderado pelo mullah Haibatullah, que provocou já a morte de centenas de mujahidines e parece ter entrado numa nova fase de violência.

Há doze dias, o grupo de Haibatullah perpetrou um ataque suicida com um carro-bomba contra seguidores do mullah Rasul em Helmand, no sul do Afeganistão.

Se já por si um atentado entre talibãs é pouco frequente, a resposta do mullah Rasul com a mesma moeda poucas horas depois constitui uma escalada sem precedentes do conflito entre os grupos de extremistas religiosos.

Para alguns analistas, é claro que Haibatullah, um clérigo sem experiência militar, não foi capaz de reconciliar os diferentes grupos de talibãs.

As forças de segurança afegãs acreditam que neste momento a rede Haqqani, uma fação que Cabul e Washington associam aos serviços secretos paquistaneses, é quem está a dirigir as operações militares e está a fazê-lo com o controlo interno dos talibãs.

"Os talibãs estão hoje mais fracos do que há um ano, perderam a sua liderança conjunta, e estão divididos", disse à agência Efe o analista político Muhammad Natiqi, que participou na primeira reunião de paz entre o Governo e os talibãs em 2015 no Paquistão.

Apesar dos problemas internos, no entanto, os resultados dos talibãs no terreno estão longe de ser os de um inimigo ferido.

Os talibãs foram conquistando território ao controlo do Estado desde que a NATO deu por terminada a sua missão de combate em 2015. O Governo afegão controla hoje apenas 57% do território, de acordo com o Congresso dos Estados Unidos.

"Isto leva à interrogação: quem é que está a liderar a máquina de guerra dos talibãs?", questiona Natiqi.

Para alguns analistas, o êxito militar talibã assenta apenas no efeito combinado da retirada das tropas aliadas do Afeganistão, das disputas internas no Governo afegão, na redução da ajuda da comunidade internacional e na violência entre grupos étnicos, a que outros acrescentam o apoio de outros países ao movimento insurgente.

"Os talibãs têm agora acesso a armamento moderno a que nem o Governo afegão consegue chegar e alguns países da região começaram a dar-lhes apoio", afirmou à Efe o analista Nazar Muhammad Mutmaeen.

Outros especialistas afirmam, em contrapartida, que as disputas internas debilitaram a maquinaria de guerra dos talibãs, que não avançaram significativamente este ano no este do país.

"um grande número de talibãs, antigos HIA (movimento insurgente Hezb-e-Islami que assinou com o Governo o acordo de paz no ano passado) deixaram de combater por Haibatullah por causa da crise de liderança", disse à Efe Safiullah Mullahkhil, membro do centro de investigação Rana.

A maior perda no campo de batalha, porém, pode ter sido a perda de Tora-Bora, o complexo de grutas por debaixo das montanhas com o mesmo em que se escondeu Osama Bin Laden depois dos atentados de 2001 e que os 'jihadistas' do grupo Estado Islâmico tomou aos talibãs em combate.

"Isto mostra que as capacidades dos talibãs estão a cair e que os seus comandantes já não se ajudam uns aos outros", afirmou Mullahkhil.

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