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Jovens apoiantes de Le Pen em campanha junto do eleitorado "cansado"

Eric Barbosa é um dos jovens militantes que tem intensificado ações de campanha, em Paris, para conquistar votos em favor de Marine Le Pen perante um eleitorado que se mostra "cansado" da política francesa.

Jovens apoiantes de Le Pen em campanha junto do eleitorado "cansado"
Notícias ao Minuto

09:18 - 30/04/17 por Lusa

Mundo Reportagem

"Bonjour madame! Aqui está o programa de Marine Le Pen!", apregoa o lusodescendente de 20 anos à entrada da feira Auguste Blanqui, no décimo terceiro bairro de Paris, distribuindo panfletos, lançando um "merci" a quem não estende a mão aos papéis e falando com várias pessoas, como Nicole Marchand, de 73 anos, que ainda não sabe em quem vai votar.

"Estou cansada. Pior, estou devastada com a política em França. Há 40 anos que os políticos afundam o país e tenho medo pelos meus netos! Ainda não sei se vou votar em branco ou se vou votar em Marine Le Pen. O Macron vai-nos afundar ainda mais", considerou a reformada parisiense que votou em Nicolas Sarkozy em 2012 e "quando era jovem" votava em Arlette Laguiller, "a candidata trotskista".

Eric Barbosa é atualmente secretário distrital de Paris da Juventude da Frente Nacional e só entrou na FN há dois anos depois de se ter "interessado pela extrema-esquerda" do Novo Partido Anticapitalista, mas as ações dos militantes "burgueses boémios, a fumar erva e a tocar tambor" deixaram-no "muito desiludido porque não era a ideia que tinha de um militante político".

O pasteleiro conhece bem as receitas dos pastéis de nata e do arroz doce que o avô lhe ensinou, mas diz que "uma parte de sangue português" não faz dele um português, defendendo uma política de redução de imigração em França "porque a situação económica e social não permite acolher mais imigração" e considerando que os portugueses em França deveriam pedir a nacionalidade francesa se quiserem usufruir da "prioridade nacional" no caso de Marine Le Pen ser eleita.

"Os portugueses podem pedir a naturalização. Vocês têm esse direito. Podem ser franceses e usufruir de todas as vantagens deste belo país. Convido-os a fazê-lo. A lei permite que vivam em França sem serem franceses mas com Marine Le Pen eleita haveria uma política mais nacional e seria implementada a prioridade nacional segundo a qual os franceses têm vantagens no seu país", explicou o jovem.

Eric Barbosa disse acreditar que se "vai conquistar o melhor resultado de sempre da FN" mas não o suficiente para vencer a segunda volta das presidenciais de 07 de maio.

"A vitória vai ser difícil porque o sistema está a coligar-se, mas se a Marine não for eleita, os próximos cinco anos vão ser um horror com o ultraliberalismo. Vai haver manifestações e vai ser a guerra civil. Há mais possibilidades de um clima de medo e de perigo com Macron do que com Marine porque ela não defende uma política de austeridade e de neoliberalismo", considerou o jovem.

A passar discretamente com o cesto de compras, Kadougha Belkassem, de 68 anos, declinou o convite para ler o programa de Marine Le Pen e, em voz baixa, afirmou à Lusa que "Marine é contra os imigrantes".

"Não seria bom para mim, mas não tenho medo que ela seja eleita porque a França e a Argélia têm uma história comum. O meu avô lutou pela França na primeira guerra mundial, o meu pai lutou na segunda guerra e foi feito prisioneiro pelos alemães", lembrou a argelina que vive há 17 anos em França e não tem dupla nacionalidade.

Já Josiane Goarnisson, de 67 anos, mostrou-se decidida a votar na FN, defendendo logo que não é "racista" e apresentando como justificação o facto de ser casada com um bósnio muçulmano e de ter sempre trabalhado com estrangeiros, sendo católica e votando tradicionalmente à direita.

"Ganho 980 euros de reforma ao fim de 51 anos de trabalho. Comecei a trabalhar aos 16 anos, parei aos 57. Tudo para ganhar uma miséria, enquanto um estrangeiro chega aqui e sem trabalhar tem logo 780 euros, mais subsídio para o alojamento e segurança social. Eu não tenho nada", criticou a antiga costureira sublinhando que a sua pensão nem atinge o salário mínimo francês (cerca de 1200 euros líquidos).

Manon Bouquin também distribui o programa da candidata FN e acredita que a sua vitória é possível, à imagem do que se passou nos Estados Unidos em que as sondagens apontavam Hillary Clinton como vencedora mas foi Donald Trump quem chegou à Casa Branca.

"São países diferentes mas há semelhanças. Hillary também era a candidata dos bancos, dos media, do 'showbizz', de Hollywood. Trump era um movimento mais popular, era uma aspiração ao proteccionismo económico, era o regresso à nação e ao orgulho nacional", comparou a estudante de História que logo após a eleição norte-americana felicitou o "monsieur Trump" na sua página twitter colocando um chapéu com o slogan "Make America Great Again".

A filmar os jovens militantes para uma reportagem no canal norte-americano PBS, a jornalista norte-americana Deborah Gouffran disse à Lusa que "eles estão muito motivados pela vitória de Trump, do Brexit, por esta vaga nacionalista e identificam-se neste movimento de povos que tende a fechar-se".

"Marine Le Pen reivindica claramente a herança de Trump, mas a diferença é que ele era realmente um 'outsider', nunca tinha feito política. Ela é uma herdeira política e está lá dentro há muito tempo", analisou a jornalista, considerando que a segunda volta "vai ser mais apertada do que parece".

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