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Crise dos refugiados do Mediterrâneo é "o novo Holocausto" europeu

O fenómeno dos refugiados do Mediterrâneo é "o novo Holocausto" europeu, considera Pietro Bartolo, médico na ilha de Lampedusa e co-autor, juntamente com a jornalista Lídia Tilotta, do livro "Lágrimas de Sal", que é apresentado hoje em Lisboa.

Crise dos refugiados do Mediterrâneo é "o novo Holocausto" europeu
Notícias ao Minuto

07:39 - 30/03/17 por Lusa

Mundo Médicos

Natural de Lampedusa, onde serviu como médico durante 26 anos, Bartolo prestou os primeiros cuidados médicos - e muitas vezes os últimos, limitando-se a certificar a morte - a muitos milhares de refugiados que chegaram à ilha italiana que serve de porta de entrada para a Europa.

De acordo com os dados mais recentes da Organização Internacional para as Migrações (OIM), pelo menos 481 migrantes ou refugiados morreram ou desapareceram ao tentar fazer a rota do Mediterrâneo Central (entre a Líbia e a Itália) este ano, um número mais de três vezes superior aos 159 do mesmo período do ano passado.

Já foram resgatados mais de 20 mil migrantes nesta rota desde o início do ano.

"As medidas que a Europa tomou para evitar as mortes destas pessoas no Mediterrâneo, evidentemente, não foram suficientes. Na verdade, até ações louváveis - como a Mare Nostrum, a Triton ou a Frontex - tornaram-se numa vantagem para os traficantes de homens, que em vez de comprar barcos duráveis, como faziam antes, começaram a usar barcos de borracha baratos que se afundam facilmente, aumentando assim os naufrágios e as mortes", disse à agência Lusa Pietro Bartolo.

O médico - que narra no seu livro as histórias cruéis contadas pelos muitos refugiados que tratou - considera que os líderes europeus "devem tomar medidas imediatas" para travar este fenómeno, até como forma "evitarem ser acusados, no futuro próximo, de ser responsáveis por este novo Holocausto".

Apesar de o fenómeno das mortes de refugiados no Mediterrâneo entrar pelas casas dos europeus adentro, ciclicamente, nos noticiários das televisão e através dos jornais e da Internet, os autores consideram que o formato do livro ajuda a contar a história com um maior fôlego.

A jornalista Lidia Tillota sublinha que os autores decidiram "contar as [várias] histórias para contar 'a história'" global", escolhendo "testemunhos concretos". "Escolhemos não embelezar nada", disse Tillota, acrescentando que se trata de uma narrativa "que não traz qualquer honra à Europa".

Pietro Bartolo e Lidia Tillota consideram que "Lágrimas de Sal" é um livro "pensado e escrito para contar a verdade sobre o que acontece com aqueles que são forçados a deixar o seu país para escapar à guerra e à fome". E ambos têm a esperança de que este possa "servir para agitar a consciência daqueles que ainda hoje, apesar de terem o poder de intervir, não o fazem".

"O nosso objetivo é 'infetar' tantas pessoas quantas for possível com os 'vírus' do acolhimento e da solidariedade. Gostamos de dizer que este é um livro 'político' e, de facto, é isso que ele é", afirmam os autores.

O livro "Lágrimas de Sal" é apresentado hoje às 19:00 em Lisboa, no espaço Nimas, com a presença dos dois autores e de Rita Sacramento Monteiro, da Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR).

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