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Eleições na Bulgária marcadas pelo regresso do nacionalismo

Os eleitores búlgaros regressam às urnas domingo para legislativas antecipadas, as terceiras em quatro anos, com as sondagens a indicaram competição cerrada entre conservadores e sociais-democratas num clima de ressurgimento do nacionalismo.

Eleições na Bulgária marcadas pelo regresso do nacionalismo
Notícias ao Minuto

17:42 - 24/03/17 por Lusa

Mundo Legislativas

A hipótese de um governo de coligação entre o centro-direita do partido Cidadãos para o Desenvolvimento Europeu da Bulgária (GERB) e os sociais-democratas do Partido Socialista Búlgaro (BSP), apesar de desmentido pelas duas formações durante a campanha, é um cenário admitido em Sófia, e quando todas as sondagens indicam que o próximo parlamento será muito instável.

Nenhuma sondagem prevê maioria absoluta para os dois principais partidos, mas todas as formações parecem partilhar o mesmo programa de grande dureza face aos migrantes, refugiados e população rom (cigana), incluindo o BSP (herdeiro do ex-Partido comunista) agora liderado pela advogada Kornelia Ninova.

O primeiro-ministro cessante, Boiko Borissov, o incontestado líder do GERB e que liderava um governo em aliança com a extrema-direita do Ataka de Volen Siderov, demitiu-se em novembro, dois anos antes do fim do seu mandato, após a derrota da sua candidata nas presidenciais.

O poder de compra, o combate à corrupção endémica, a emigração da população em busca de uma vida melhor e a ineficácia dos serviços públicos estão no centro das preocupações eleitorais, mesmo que tenham sido desvalorizados nos debates entre os candidatos.

Pelo contrário, a política externa impôs-se nesta campanha, com cada formação a assegurar a melhor posição na "defesa dos interesses da Bulgária", num regresso em força do nacionalismo a este país do leste dos Balcãs.

País eslavo e ortodoxo com 7,1 milhões de habitantes e membro da União Europeia (UE) e da NATO, a Bulgária mantém fortes laços com a Rússia, que também poderão ser reforçados após os resultados eleitorais.

As tensões com a vizinha Turquia, a questão do equilíbrio do país face à UE e a Moscovo, a presença de milhares de migrantes imobilizados neste país situado na fronteira exterior da União, alimentaram os debates.

Os últimos dias de campanha foram assinalados pelas acusações de ingerência nos assuntos nacionais por parte da Turquia. Ancara decidiu fornecer um apoio explícito a um novo partido pró-turco Democratas pela Responsabilidade, Solidariedade e Tolerância (DOST), influente na comunidade turca da Bulgária.

A minoria turca na Bulgária inclui cerca de 700.000 pessoas (entre 10% a 13% da população), uma herança da prolongada soberania otomana nos Balcãs. Perto de 200.000 turcófonos de origem búlgara e dupla nacionalidade vivem ainda na Turquia, e um terço participa regularmente nas eleições búlgaras.

O DOST ambiciona "destronar" o tradicional partido da minoria turca -- o Movimento dos Direitos e Liberdades (DPS) de Mustafa Karadaya, com uma atitude reservada fave ao Presidente turco Recep Tayyip Erdogan --, mas esta cisão do DPS não deverá passar barreira obrigatória dos 4% para garantir representação parlamentar.

A crise com a Turquia poderá ainda beneficiar a coligação ultranacionalista "Patriotas Unidos", que inclui o Ataka, e em vias de destronar o DPS da terceira posição.

Conservadores e sociais-democratas já excluíram a possibilidade de coligação com o DPS devido à suposta imprevisibilidade deste movimento, que fez cair dois governos que integrava.

Neste contexto, os "Patriotas Unidos" já admitiram aliar-se quer ao BPS quer ao GREB, desde que seja aplicada uma política firme face a refugiados e a minoria 'rom'. Um cenário possível, atendendo às medidas nacionalistas apresentadas pelos dois principais partidos.

A surpresa destas eleições poderá surgir de Vesseline Marechki, do movimento Volya (Vontade), que se autoproclama o "Donald Trump" da Bulgária e obteve 11,1% dos votos nas presidenciais de dezembro.

Proprietário de uma cadeia de farmácias com o seu nome, Marechki afirma liderar um "movimento do trabalho e das pessoas comuns" e não exclui qualquer coligação após as eleições, na condição de dirigir "todo um setor", de preferência a economia, para promover "mudanças revolucionárias".

O grande desafio destas eleições passa ainda pela formação de um executivo que contrarie o modelo de "governo oligárquico", na sequência das grandes manifestações de 2013 contra a pobreza e a corrupção endémica.

Mas caso se confirmem as sondagens, o próximo governo búlgaro será nacionalista e populista, independentemente do primeiro-ministro. E a instabilidade crónica que deverá manter-se poderá implicar novas eleições antecipadas.

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