Anis Amri é o suspeito do ataque ao um mercado de Natal de Berlim. Foi abatido pela polícia italiana, em Milão, cerca de uma semana após o atentado, após ter disparado sobre as autoridades. Mas antes de o seu nome surgir houve um outro homem detido, em Berlim, de forma errada.
Naveed Baloch, um paquistanês de 23 anos, foi detido em Berlim na noite do atentado e foi apontado como o primeiro suspeito do atentado. A polícia alemã acabaria por libertá-lo cerca de dois dias depois, reconhecendo que não tinha relação com o ataque. Mas o regresso à vida normal não tem sido fácil para Naveed.
Em entrevista ao The Guardian, Naveed fala do medo que sente agora, mas também da detenção e das horas em que esteve algemado e vendado. Foi despido e fotografado. Naveed acusa ainda a polícia de o ter pisado e esbofeteado e um polícia em particular de lhe ter apertado o pescoço.
Atualmente, Naveed vive escondido, tendo optado por falar ao jornal britânico porque tanto ele como a família (que mesmo no Paquistão tem vindo a receber ameaças) concordaram que seria “mais seguro falar” antes do que tarde sobre o que aconteceu.
Ao final da tarde de 19 de dezembro, altura em que o ataque decorreu, Naveed estaria a atravessar a estrada. Tinha saído momentos antes da casa de um amigo. Viu um carro a vir na sua direção e acelerou o passo. Só então se terá apercebido que era a polícia, a quem acabou por mostrar a identificação, afirma.
A primeira vez que reagiu ao que se estava a passar foi quando o despiram para o fotografar. “Quando resisti, começaram a esbofetear-me”.
No início, conta, nem sabia o que se tinha passado. A polícia acusou-o de ser ele o homem ao volante do camião. “Disse-lhes calmamente que não sabia conduzir. Nem sabia ligar um carro”. Disse-lhes também que havia “morte e guerra” no seu país, razão pela qual fugiu para a Alemanha.
Falando pouco de alemão, o primeiro tradutor que lhe arranjaram falava Punjabi e Urdu mas não a sua língua nativa, Balochi. Teve dificuldade em explicar-se mas adianta que chegou a dizer à polícia que a Alemanha era “como uma mãe” para ele.
“Vocês na Alemanha dão-me comida, saúde e segurança. São como a minha mãe. Se descobrissem que eu estava a fazer estas coisas ao vosso país, não deviam dar-me uma morte fácil, deviam cortar-me devagar”, revela ter dito. A comunicação, no entanto, não era fácil.
Durante o tempo em que esteve detido só terá recebido biscoitos e chá, queixa-se. Quando foi libertado, foi levado para um hotel. A polícia disse-lhe que já não estava sob suspeita, mas aconselharam-no a ficar em casa pois a sua vida podia estar em risco.