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Diplomacia cultural "nunca foi tão necessária"

A importância da diplomacia cultural em tempos de desconfiança foi hoje destacada pela embaixadora marroquina Assia Bensalah Alaoui, que defendeu que "ela nunca foi tão necessária", na 5.ª edição da conferência internacional Diálogos Atlânticos, em Marraquexe.

Diplomacia cultural "nunca foi tão necessária"
Notícias ao Minuto

11:29 - 16/12/16 por Lusa

Mundo Diplomata

"Como disciplina, é muito recente -- existe um instituto em Berlim onde pode ser estudada -, mas historicamente, tem uma longa tradição nas relações entre Estados, através de embaixadores informais", disse a diplomata, em declarações à Lusa.

O que a distingue da diplomacia institucional, indicou, é precisamente "o facto de tanto poder ser exercida pelos Estados como por qualquer pessoa ou grupo sem um mandato específico, e é muito importante, embora por vezes uma tarefa algo ingrata, porque nem sempre os esforços feitos são visíveis e nem sempre esses esforços produzem resultados assinaláveis".

Sobre que papel pode a diplomacia cultural representar na política externa, normalmente levada a cabo pelos Governos, Assia Bensalah Alaoui explicou que tal depende da forma de atuação dos seus protagonistas.

"Os atores informais da diplomacia cultural são muito difíceis de controlar, o que não é muito apreciado pelos Estados, porque tanto pode ter resultados positivos, como ir completamente contra os interesses políticos de um país", referiu, acrescentando que, contudo, "esse é um risco que tem de se correr, porque abre novos caminhos de cooperação entre países".

Quando produz resultados positivos, "os Estados veem-se obrigados a reconhecer tais atores como legítimos e a relacionar-se com eles", porque "não é possível haver diplomacia cultural eficaz por si só, ela tem de ser feita em coordenação com o Governo, para aumentar a credibilidade de um país, que também se constrói a partir de relações de confiança e competência em diversas áreas", frisou.

Segundo a embaixadora marroquina, este tipo de diplomacia "nunca foi tão necessário como agora -- mas que os dirigentes políticos estejam dispostos a ouvir, é outra questão".

"É preciso paciência e tempo: ter muita paciência, persistir, e também saber ouvir, ouvir muito", sublinhou.

"E é aqui que entra o papel das redes sociais, que é um pau de dois gumes, porque elas dão visibilidade não só a grupos cujos objetivos e ação são benéficos, mas também a outros grupos que escolhem ser marginais e que se tornam, por essa via, muito influentes", alertou.

De acordo com a diplomata, "a diplomacia cultural foi subestimada e subutilizada até há pouco tempo, mas agora os Estados estão a tentar apoiar os atores informais que projetam a imagem do país".

Em Marrocos, por exemplo, "esses grupos refletem uma imagem de moderação do Islão - em contraste com o que está a acontecer no resto do mundo, que está a tomar o caminho contrário --, e isso é muito positivo, porque mostra que os países islâmicos podem ser moderados", salientou.

Como exemplo flagrante, falou de uma associação criada por quatro mães judias cujos filhos foram mortos na guerra israelo-palestiniana, no início da década de 1990, com o objetivo de pôr termo ao ódio entre os dois povos e tentar aproximá-los, fazendo-os sentar-se à mesma mesa.

"Após muitos esforços, foram bem-sucedidas e os resultados foram compensadores, porque daí nasceram diversas ações no sentido da paz -- isto, antes do histórico aperto de mãos do primeiro-ministro israelita Yitzhak Rabin e do líder da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), Yasser Arafat, que selou o acordo de paz de 1993. Foi diplomacia cultural no seu melhor", observou.

Os atores informais evidenciam igualmente "a existência de solidariedade por parte dos Estados, que passam a apoiar entidades e iniciativas culturais relevantes", prosseguiu, "como o Festival de Música Sacra de Fez, que já atingiu fama internacional".

"É claro que estas coisas começam pequenas, mas quando o Estado percebe a sua importância e os benefícios que delas pode colher, começa a apoiá-las -- e elas também ganham outra dimensão", comentou.

Aquilo a que agora se assiste, sobretudo na Europa, é que "os próprios Estados, que não querem investir muito dinheiro nesta área, procuram fazer parcerias entre si e com terceiros para organizar eventos, ou obter patrocínios de empresas e bancos. É isso o 'smart power'", concluiu.

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