"Curdos estão a lutar contra Daesh em nome de toda a humanidade"
Arif Gull trabalha a poucos quilómetros da frente de batalha de Mossul, no Curdistão Iraquiano, e acredita que os jovens curdos estão a lutar "em nome de toda a humanidade" contra o "mais feio poder do Mundo": o Estado Islâmico.
© Reuters
Mundo Arif Gull
"Em todo o Curdistão cada família tem pelo menos uma pessoa no campo de batalha. Por isso toda a gente tem os olhos nas televisões, os ouvidos na rádio, cada família a tentar perceber se alguma coisa aconteceu ao seu filho. Mas estão muito orgulhosos pelos seus filhos, pelos combatentes, porque estão a lutar contra o mais feio poder do Mundo. Acreditam que os seus filhos estão a lutar em nome de toda a humanidade contra este poder negro", declarou Arif Gull ao telefone com a agência Lusa.
Gull, de 54 anos, trabalha como Diretor Logístico da sucursal iraquiana da empresa portuguesa Intervega, contratada para fazer marcação de estradas e outros projetos de segurança rodoviária no Curdistão Iraquiano.
As exigências do serviço obrigam-nos a passar perto, muito perto dos locais onde a luta é mais encarniçada entre as forças governamentais iraquianas - apoiadas, pelo menos materialmente, pelos Estados Unidos - e os terroristas do Estado Islâmico, que tentam defender o seu maior e derradeiro grande bastião no Iraque, a cidade de Mossul.
"Estamos agora envolvidos num grande projeto em Erbil, a cerca de 40 quilómetros da frente de combate. Mas não paramos de trabalhar
A nossa gente está a trabalhar e não vai parar", conta Arif Gull, relatando que "há combates intensos em três grandes linhas de ataque" a Mossul.
Erbil fica a cerca de 80 quilómetros da "capital" do Curdistão iraquiano. As forças iraquianas anunciaram na manhã de sexta-feira que tomaram a localidade de Bartila, a pouco mais de 20 quilómetros de Mossul.
"O Estado Islâmico está a defender ferozmente as suas posições. Estão a mandar carros e carrinhas armadilhados, todo o tipo de veículos à sua disposição contra as forças [governamentais iraquianas]. Lançam bombistas suicidas contra as nossas tropas, uns são destruídos pela aviação e outros pelas forças terrestres", realçou Arif Gull.
O diretor logístico da Intervega Iraq antevê dificuldades na luta contra o Estado Ilsâmico em Mossul, relatando que os terroristas estão bem entrincheirados na cidade.
Temos de limpar aldeia a aldeia, cidade a cidade, vale a vale, até chegarmos ao centro de Mossul. Eles estão a escavar - têm uma cidade por debaixo da cidade - e as tropas encontraram um túnel com 800 a 900 metros de comprimento, no qual até podiam circular um carro", contou à agência Lusa.
Sobre o moral das populações do Curdistão face à nova ofensiva, Arif Gull diz que as pessoas "acham que este será o fim do Estado Islâmico".
"Têm confiança nos seus Peshmergas, confiam que estes as vão proteger. Acham que este será o fim do EI. Mas também acreditam que de todos estes Peshmerga que foram para a frente, nem todos regressarão vivos da guerra", ressalva.
Dezenas de milhares de militares iraquianos, apoiados pelos Estados Unidos e Peshmergas curdos, iniciaram na segunda-feira uma ofensiva contra Mossul, a segunda cidade mais importante do Iraque, e bastião do Estado Islâmico no país.
As estimativas dos militares apontam para 3.500 a 5.000 combatentes jihadistas do EI entrincheirados em Mossul.
Nos primeiros dias da ofensiva, o general norte-americano que comando o braço terrestre da ofensiva alertou que vários altos responsáveis do Estado Islâmico estariam a abandonar os seus combatentes, pondo-se em fuga de Mossul. Também estimou que na defesa final da cidade estariam sobretudo jihadistas estrangeiros
Na sexta-feira, a ONU confirmou que os jihadistas estão a forçar pessoas das localidades perto de Mossul a irem para a cidade, para servirem de escudos humanos na fase final da batalha.
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