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Para especialistas internacionais, Guterres é homem certo para desafios

Especialistas internacionais ouvidos pela Lusa acreditam que António Guterres, quinta-feira confirmado pelo Conselho de Segurança como próximo secretário-geral da ONU, tem o perfil certo para enfrentar os desafios da organização.

Para especialistas internacionais, Guterres é homem certo para desafios
Notícias ao Minuto

19:44 - 07/10/16 por Lusa

Mundo ONU

Uma organização paralisada por burocracia, mudanças climáticas, Coreia do Norte com poder nuclear, conflitos na Síria e noutros países africanos, a ameaça transnacional do terrorismo e uma crise sem precedentes de refugiados são os temas que marcarão os anos do português à frente da ONU.

"Guterres já provou ser o líder eloquente, com princípios e credível de que o mundo precisa nestes tempos exigentes", disse à Lusa o antigo conselheiro de Ban Ki-moon Edward Luck.

Ban Ki-moon, que abandona o cargo no final do ano, é elogiado pelo seu trabalho no combate às mudanças climáticas e pelo seu temperamento, mas os diplomatas ouvidos pela Lusa dizem que a organização precisa de um líder mais resoluto.

Edward Luck, que é professor universitário e especialista na ONU, diz que "a unanimidade da escolha é muito boa notícia, porque representa as qualidades que Guterres traz para o cargo e mostra os países unidos no desejo de ter um líder forte e ativo, apesar de estarem divididos em muitos assuntos geopolíticos."

Nos 70 anos de história da ONU, António Guterres é o primeiro antigo chefe de governo eleito para o cargo. É, também, o oitavo homem, o que desilude as dezenas de países que reivindicavam ser altura de uma mulher liderar a organização pela primeira vez.

Jean Krasno, a presidente da campanha que procurava eleger uma mulher, disse à Lusa que o primeiro passo é simples e tem de acontecer em breve: nomear uma mulher para o cargo de vice-secretário-geral.

"Isso resolveria muita da frustração criada. Gostaríamos que fosse uma das candidatas que estava na corrida, talvez alguém da Europa de Leste. Não há motivo para ir buscar alguém obscuro quando tantas mulheres competentes estavam na corrida e são reconhecidas pelas pessoas", disse Krasno.

Professora nas universidades de Columbia e Yale, Krasno diz que Guterres precisa depois de preparar uma lista com todas as mulheres que vai nomear para cargos seniores na organização.

"Neste momento, as mulheres ocupam apenas 21% dos cargos. Ele prometeu paridade. Guterres é uma pessoa formidável e vai ser um excelente secretário-geral, mas nós estamos aqui para ajudar, podemos auxiliar com sugestões", explicou a americana.

Além das questões de género, o português terá de agilizar uma máquina burocrática que impede muitas vezes uma ação efetiva e atempada nos vários conflitos à volta do globo.

"Guterres terá de facilitar a procura de pontos em comum em crises perigosas na Síria, Médio Oriente, Norte de África ou Leste asiático, em que os grandes poderes têm visões divergentes", disse Edward Luck, explicando que "será uma tarefa intimidatória manter a confiança de todos os lados nesses conflitos e, ao mesmo tempo, ser uma voz moral para os mais vulneráveis e desfavorecidos."

A questão mais urgente é a do conflito sírio, em que os Estados Unidos e a Rússia abandonaram o diálogo para alcançar um cessar-fogo.

"É preciso que aproveite bem esta onda de unidade dos membros do Conselho de Segurança para trazer soluções a este problema. Precisa trazer à mesa de negociações todos os atores e estabelecer como única condição trazer a paz para aquela religião", disse o embaixador de Angola junto da ONU, Ismael Martins, à Lusa.

Além dos grandes conflitos e dos objetivos de desenvolvimento, a ONU tem a reputação manchada por escândalos que envolvem abusos sexuais dos seus capacetes azuis e a possibilidade de terem sido os seus funcionários a levar a cólera para o Haiti, onde a doença já matou milhares de pessoas.

A experiência do português como Alto-Comissário para os Refugiados, onde cortou o custo com pessoal de 41% do orçamento para 22% e reduziu o peso relativo das despesas com a sede para apostar no terreno, é vista como um bom indicador para a reforma burocrática que precisa acontecer na organização.

Edward Luck acredita também que "com números recorde de pessoas a fugirem das suas casas devido a conflitos violentos, o próximo secretário-geral terá de tornar a proteção humana uma prioridade de topo."

Nesse tema, a experiência como Alto-Comissário para os Refugiados será uma vez mais um trunfo.

"A década que Guterres passou enquanto líder do Alto Comissariado para os Refugiados torna-o especialmente apto para lidar com as necessidades dos deslocados e outras populações ameaçadas pela violência e intolerância, seja por grupos armados ou governos", explicou o especialista.

A embaixadora dos EUA junto da ONU, Samantha Powell, resumiu o que está em causa se o próximo secretário-geral não estiver à altura dos desafios.

"Se não tivermos alguém ao leme que consiga mobilizar coligações, que consiga colocar os instrumentos desta instituição a trabalhar para as pessoas, isso vai causar mais dor, sofrimento e disfunção na vida das pessoas do que podemos permitir", disse a diplomata.

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