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Fotografias de jornalista Mário Cruz mudam vidas de crianças talibés

Crianças que eram escravizadas em falsas escolas corânicas no Senegal estão a ser resgatadas por influência da denúncia, em fotografia, do jornalista Mário Cruz, que hoje apresentou em Lisboa o resultado, em livro, desse trabalho.

Fotografias de jornalista Mário Cruz mudam vidas de crianças talibés
Notícias ao Minuto

20:53 - 01/10/16 por Lusa

Mundo Livros

Mário Cruz, fotojornalista da Agência Lusa, fez um trabalho sobre as crianças talibés do Senegal que lhe valeu já vários prémios, um deles do World Press Photo.

As fotografias que denunciam a situação em que vivem as crianças estão a partir de agora também em livro, "Talibes - Modern Day Slaves", apresentado numa cerimónia com o Presidente da República.

Marcelo Rebelo de Sousa, entre elogios ao jornalista, salientou o facto de a denúncia que fez através do trabalho ter produzido resultados, tornando felizes muitas crianças e as suas famílias.

Nas ruas das cidades do Senegal, nas contas de Mário Cruz, estarão a mendigar 50 mil crianças, que "são agredidas e violadas diariamente" por falsos professores de falsas escolas.

Na apresentação do livro, o jornalista explicou as dificuldades por que passou para ter acesso às supostas escolas, onde viu crianças acorrentadas e chicoteadas, e disse que após a divulgação do prémio World Press Photo, na categoria Assuntos Contemporâneos, 28 crianças foram logo resgatadas.

O Presidente do Senegal, acrescentou Mário Cruz, ordenou que todas as crianças apanhadas a mendigar fossem ajudadas e as falsas escolas corânicas sinalizadas como ilegais.

Nas ruas de Dacar, salientou, as autoridades distribuem panfletos, alguns com fotografias suas, para chamar a atenção para a causa e até agora já foram resgatadas mais de 500 crianças.

A questão das crianças talibés, muitas delas provenientes da Guiné-Bissau, é por vezes noticiada mas como disse na apresentação do livro o jornalista Fernando Alves nunca como o foi com as fotografias de Mário Cruz.

Até agora, disse, era "uma realidade da qual se tinha um conhecimento apenas difuso", porque "não havia imagens que comprovassem a escala do terror que permite manter uma poderosa máquina de enriquecimento sustentada na escravatura infantil".

Até agora, disse também, apenas um jornalista senegalês tinha conseguido fotografar, com um telemóvel, o interior de uma destas "ditas escolas", mas assinou a reportagem e cortaram-lhe as mãos (foi identificado).

Mário admitiu que houve riscos no seu trabalho, que começou em 2015, mas salientou que o livro é agora uma prova física, em quatro línguas, uma ferramenta para quem trabalha na defesa das crianças e uma forma de pressão para os que podem tomar decisões.

"Acredito que a mudança só acontece se estivermos informados", haveria de dizer ainda Mário Cruz na apresentação do livro, um depoimento emocionado ouvido por um Presidente da República que acredita e defende jornalismo de causas.

Esta que tem a ver com crianças, "que podem ser resgatadas devido ao seu contributo", salientou Marcelo Rebelo de Sousa, um Presidente com uma "honra enorme" por haver portugueses como o fotojornalista, que merecem prémios como os que já recebeu.

E que "chamam a atenção para problemas dramáticos do nosso tempo, de crianças exploradas, escravizadas", cujos direitos fundamentais estão "sacrificados", disse Marcelo.

Os talibés são normalmente crianças do sexo masculino que estudam o Corão em escolas chamadas Daara (ou Madrasa). Essas crianças deixam as famílias e vivem durante anos na Daara. A adulteração deste princípio, transformando essas crianças em escravas dos tempos modernos, foi o que fotografou, e denunciou, Mário Cruz.

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