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Moços improvisam nas ruas de Luanda 'clínicas' de unhas

São "moços" que trabalharam nos mercados, cantinas ou nas obras, que aprenderam o ofício com amigos e que hoje ganham o suficiente para sustentar a casa: tratam das unhas de homens e mulheres nas ruas de Luanda e clientes não faltam.

Moços improvisam nas ruas de Luanda 'clínicas' de unhas
Notícias ao Minuto

09:32 - 18/09/16 por Lusa

Mundo Reportagem

Improvisam o atendimento no passeio e por ali montam, todos os dias, verdadeiros salões de beleza ao ar livre, onde além de pintar e tratar, até unhas de gel colocam às clientes, entre outros serviços. Chegam a atender mais de 10 clientes por dia, incluindo homens, até porque o preço na rua é substancialmente mais baixo do que a concorrência, o que também conta em tempo de crise.

É o caso de José Gamela, que aprendeu a tratar das unhas com um amigo, depois de deixar a venda no mercado, já lá vão mais de três anos. Monta agora a sua 'clínica' de manicura e pedicura junto a um banco da capital, tirando partido do interesse crescente dos angolanos pela imagem.

"Num bom dia tenho 10 clientes. Há clientes que chegam com 500 kwanzas [2,60 euros], mas se tiver 300 kwanzas [1,60 euros] também pode deixar. Por dia posso fazer uns 4.000 kwanzas [21,5 euros], é bom", conta à Lusa.

Assume que ganha o suficiente para pagar as contas da casa e da escola dos filhos, mas sobretudo para não ter de "roubar na rua".

Todos os dias coloca unhas de gel ou faz pinturas mais artísticas e retocadas a mulheres, mesmo que em termos de material, como para secar, não consiga competir com os salões, nomeadamente de chineses.

"No salão é mais caro. Quem não tem possibilidade, vem aqui", atira, recordando que para pôr unhas de gel chega a cobrar 1.500 kwanzas (oito euros), preço que varia conforme a cliente. Ainda assim, menos de metade do que é cobrado nos salões.

O serviço é também mais rápido e sem marcações, o que também atrai clientes, sejam mulheres ou homens.

"Não venho arduamente, mas quando tenho valores venho fazer as unhas. No salão é mais caro", admite Agostinho Silva, um dos clientes destes moços de rua e que normalmente gasta 500 kwanzas na manicura.

Mais cara é a fatura que paga todos os meses Alga Cunha. Chega a gastar 1.500 kwanzas e prefere a rua: "Aqui é mais barato, não tem dinheiro. No salão é caro", diz, reconhecendo que a qualidade do serviço é praticamente a mesma.

De lima entre os dedos, como o faz há dez anos pelas ruas de Luanda, Augusto Gabriel conta à Lusa que aprendeu o ofício de manicura e pedicura na tenda do irmão, no antigo mercado do Roque Santeiro.

"Ia vendo os catálogos das unhas e fui aprendendo com ele, sempre que podia, aos poucos", recorda.

Hoje faz de tudo um pouco na manicura e até se especializou em pintar unhas no estilo brasileiro. "Sextas e sábados posso tratar mais de 20 pessoas e até casamentos faço. Num dia bom posso levar uns 9.000 kwanzas [48 euros]", explica.

Por uma noiva pode cobrar, para tratar das unhas dos pés e das mãos, mais de 6.000 kwanzas (32 euros), mas sair da rua está para já fora de questão.

"O dinheiro não chega para ir para um salão, aqui na rua está bom", garante.

Apesar de o trabalho ser feito em pleno passeio, na habitual agitação e caos de Luanda, estes verdadeiros profissionais de manicura de rua garantem que por cada cliente é utilizada uma lima e que todos os utensílios são desinfetados previamente.

"É na rua, mas temos segurança no que fazemos", remata Augusto.

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