Croácia em crise tenta resolver instabilidade com eleições antecipadas
A Croácia celebra no domingo eleições legislativas antecipadas num clima de grande instabilidade política e persistente crise económica e com os dois principais partidos, conservador e social-democrata, a tentarem uma improvável maioria que permita governar sem coligações.
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Mundo Legislativas
O escrutínio, o segundo em um ano, foi convocado após o colapso em 16 de junho do governo de coligação dirigido por uma fação radical de direita da conservadora União Democrática Croata (HDZ), que não sobreviveu a um voto de desconfiança parlamentar.
Liderado por Tihomir Oreskovic, o executivo manteve-se apenas cinco meses no poder, minado por disputas internas e conflitos de interesses que enfraqueceram a HDZ e implicaram a demissão do líder conservador e então vice-primeiro-ministro, Tomislav Karamarko.
As sondagens indicam que os eleitores croatas vão manter as intenções de voto das eleições de novembro de 2015, quando o Partido Social Democrata (SDP, centro-esquerda) e aliados garantiram 34%, seguido da coligação liderada pela HDZ com 27 por cento.
Caso se confirmem as projeções, as duas principais formações vão permanecer dependentes de outros partidos minoritários -- o movimento "cidadão" Most (Ponte), muito próximo da Igreja católica, foi a surpresa das legislativas de novembro e coligou-se com os conservadores --, para chegar ao poder.
A queda de Karamarko, um antigo ex-chefe dos serviços secretos croatas, e a eleição em 17 de julho do novo chefe da HDZ, Andrej Plenkovic, um eurodeputado definido como moderado, fez no entanto diminuir a crispação interna.
A campanha eleitoral, onde voltaram a predominar promessas económicas irreais num país atingido pela crise económica, foi menos agressiva que a anterior, então caracterizada por duras acusações entre esquerda e direita e que remontaram à Segunda Guerra Mundial.
No escrutínio de domingo, a HDZ de Plenkovic volta a concorrer sozinho, enquanto em novembro de 2015 encabeçou a "Coligação patriótica" que incluía partidos da direita radical e inclusive pró-ustashas, simpatizantes do regime croata que se aliou à Alemanha nazi.
Já os sociais-democratas do ex-primeiro-ministro Zoran Milanovic lideram a "Coligação popular", que integra diversas formações minoritárias. O líder social-democrata considera que o discurso moderado de Plenkovic esconde o nacionalismo conservador da HDZ e que um governo de novo liderado pelos seus rivais seria instável, ineficaz e intolerante.
À semelhança do que sucedeu em novembro, o movimento Most poderá voltar a assumir a função de "partido charneira", caso os pequenos partidos como o movimento "anti-sistema" Zivi Zid de Ivan Vilibor Sincic, ou o novo partido progressista "Pametno" não surjam como as surpresas eleitorais de domingo.
A campanha decorreu ainda num contexto regional de grande tensão, com a contínua degradação das relações com a vizinha Sérvia, numa comprovação do regresso dos espetros nacionalistas.
Para tentar "conquistar" alguns votos à direita, Zoran Milanovic emitiu declarações surpreendentes para um dirigente social-democrata ao definir os sérvios como "miseráveis", provocando uma nova crise nas relações bilaterais entre Zagreb e Belgrado, sob pressão desde o início do verão.
E a propósito da crise política na também vizinha Bósnia-Herzegovina, outra antiga república da ex-Jugoslávia, antecipou um cenário no caso de fragmentação do país, na prática ainda dividido por linhas étnicas: "Deixaríamos os croatas [bósnios] com os bosníacos [muçulmanos bósnios]? Certamente que não!".
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