Comunidades do interior de Moçambique recebem alfabetização via rádio
Mais de 45 mil adultos na província de Manica, centro de Moçambique, estão a ser alfabetizados através de programas em cinco rádios locais, divulgaram os promotores do projeto.
© Reuters
Mundo Manica
Os programas são desenvolvidos na Alfa Rádio, Profasa, Promac, Alfaliti e Regular pelo setor de Educação e Desenvolvimento Humano (EDH) em Manica, que tem centenas de centros de escuta e também aulas presenciais.
Sentada num tronco de um embondeiro, Ana Paera, uma curandeira de 53 anos, recomenda por telemóvel a um cliente doses de raízes e ervas para ferver, na cura de um mal de amor em Guro.
"Os números comecei a manejar agora que sou adulta através do programa de alfabetização via rádio. Um cliente deu-me este celular e hoje consigo ligar e receber chamadas", disse à Lusa Ana Paera, acrescentando que uma consulta à distância era impossível antes de se inscrever no projeto.
Dantes, a curandeira via o telemóvel como o objeto mais estranho" que tinha sido feito", mas agora usa-o com à vontade, enquanto recebe as aulas de alfabetização através de um rádio recarregável à manivela.
Ana Paera é um dos 45.812 alunos inscritos este ano em várias iniciativas de habilidade de vida, introduzidas nos cinco programas de alfabetização e educação de adultos.
A meta é submeter mais de 55 mil alunos este ano a este tipo de ensino, que visa erradicar o analfabetismo e combater a pobreza, dirigido sobretudo a mulheres.
"Já sei ler cartas e mensagens enviadas no celular", disse á Lusa Xadreque Paulo, um padeiro que aumentou lucros depois de ter passado a ser mais rigoroso nas quantidades de fermentos e peso da massa.
Os programas de educação de adultos também envolvem cursos de curta duração de medicina verde, horta orgânica, construção, cestaria, olaria, poupança e gestão de pequenos negócios, e facilitando que os alunos acedam a fundos de desenvolvimento.
"Esses vários programas não só ensinam o abc como dão todas as técnicas e conhecimentos que ajudam as comunidades a melhorarem seus campos de produção, ensinam a prevenir algumas doenças, e até como curar algumas", afirma Estêvão Rupela, diretor provincial de EDH de Manica.
O responsável disse que a população mudou a forma de olhar para este tipo de ensino e agora até já se tornou empreendedora.
"A alfabetização neste contexto está a trazer um impacto muito forte na vida das comunidades", frisou Estêvão Rupela, salientando a mudança de mentalidade da população, que deixou de pensar que os programas fossem apenas dirigidos a pessoas atrasadas na educação formal.
Ana Paera, ensaia a lápis a caligrafia, ainda com o desafio de acertar nas linhas do papel, e acredita que um dia vai escrever uma carta para a sua filha em Chimoio, a cerca de 250 quilómetros de distância e agradecer-lhe o incentivo de se ter inscrito no programa há dois anos.
Este ano, a semana internacional de alfabetização, que decorre até o próximo dia 08 de setembro é celebrado sob o lema "Cinquenta anos de alfabetização no mundo: ler o passado para escrever o futuro."
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