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Erdogan visita Rússia e volta a aproximar-se de Putin

O Presidente da Turquia efetua hoje uma visita oficial a São Petersburgo para tentar confirmar a reaproximação com o seu homólogo russo Vladimir Putin e após o aumento das tensões com o Ocidente na sequência do fracassado golpe militar.

Erdogan visita Rússia e volta a aproximar-se de Putin
Notícias ao Minuto

06:24 - 09/08/16 por Lusa

Mundo Turquia

Esta visita, a primeira ao estrangeiro de Recep Tayyip Erdogan desde a dramática noite de 15 de julho, é resultado da reconciliação que se seguiu às desculpas do líder de Ancara pelo derrube em novembro de um bombardeiro russo pela aviação turca na zona de fronteira com a Síria.

Este incidente originou uma grave crise político-diplomática entre os dois países, mas a rapidez com que Moscovo aceitou as justificações turcas -- que de forma velada admitiu que o avião russo não violou o seu espaço aéreo, o motivo para o derrube e a morte de um dos pilotos -- não deixou de surpreender.

Erdogan apreciou a reação russa à abortada intentona militar de 15 de julho: Putin foi um dos primeiros dirigentes estrangeiros e telefonar-lhe para condenar o golpe, e sem surpresa não manifestou as reticências dos líderes europeus sobre a repressão que se seguiu e que não atingiram apenas os supostos seguidores do clérigo Fethullah Gülen, exilado nos Estados Unidos e acusado de mentor do golpe.

"A reação russa contrasta fortemente com a dos aliados ocidentais da Turquia", considera Jeffrey Mankoff, do Center for Strategic and International Studies (CSIS), com sede em Nova Iorque, citado pela agência noticiosa France-Presse (AFP).

As relações entre a Turquia e a Rússia, dois países que disputam a sua influência nas regiões estratégicas do Mar Negro e Médio Oriente, nunca foram fáceis.

No entanto, antes do derrube do bombardeiro russo, os dois países tinham promovido um "acordo tácito" face às delicadas questões da Síria e Ucrânia, para se concentrarem na cooperação estratégica: gasoduto TurkStream em direção à Europa, construção de uma central nuclear russa na Turquia, ou alcançar o objetivo de 100 mil milhões de dólares (90 mil milhões de euros) no comércio bilateral.

A aliança Putin-Erdogan foi construída na base de uma amizade entre os dois combativos dirigentes sexagenários, que conseguiram restaurar a dignidade dos seus países após duras crises económicas e contenciosos geopolíticos em particular com o Ocidente, mesmo que internamente à custa de uma degradação da situação dos direitos humanos.

E após Erdogan ter manifestado o seu sentimento de abandono pelos Estados Unidos e a União Europeia, Moscovo não deixou de aproveitar de imediato essa oportunidade.

"Mesmo que [estas] relações conheçam as suas próprias incertezas, a deterioração das relações com as potências ocidentais poderá acelerar uma reaproximação", sugere um analista do European Council on Foreign Relations, também citado pela AFP.

A Turquia pretende resolver com urgência os nefastos efeitos das sanções russas em particular na sua agricultura, construção civil e turismo.

Os números do Kremlin indicam que as trocas comerciais recuaram 43% para 5,5 mil milhões de euros entre janeiro e maio, enquanto as chegadas de turistas caíram 93% entre junho de 2015 e junho de 2016.

Desde então o turismo começou a recuperar, enquanto o projeto de gasoduto TurkStream, que deverá fornecer por ano à Turquia 31,5 mil milhões de metros cúbicos, e a central nuclear de Akkuyu, deverão ser retomados em breve.

Para o conselheiro de política externa de Putin, Yuri Ouchkalov, o facto de Erdogan se ter deslocado à Rússia tão rapidamente após o fracassado golpe militar demonstra a importância que Ancara concede às suas relações com Moscovo.

Em declarações à agência noticiosa russa Tass, reproduzidas na segunda-feira pelos 'media' turcos, Erdogan considerou que a sua visita vai abrir "uma nova página".

Num gesto de boa vontade, o portal na Internet de informação oficial russo Sputnik, bloqueado desde abril, voltou a estar acessível aos turcos.

No entanto, e após uma crise muito aguda, será necessário tempo para reparar todos os danos. Moscovo está em posição de força face a uma Turquia que ainda importa da Rússia mais de metade do gás que consome.

A Rússia, a mais poderosa aliada do Presidente sírio Bashar al-Assad, um inimigo de Erdogan, também alterou as relações de força ao intervir militarmente na Síria desde setembro, uma decisão que colidiu com os planos de Ergodan face ao seu vizinho árabe.

"A única pessoa que Erdogan teme chama-se Vladimir Putin", assinala Steven Cook, do European Council on Foreign Relations.

E para Jeffrey Mankoff, do CSIS, as tensões entre a Turquia e o Ocidente suscitaram "uma ocasião de ouro para que Ancara se virasse na direção da Rússia".

"O que vamos observar será uma relação mais duradoura mas de uma forma mais pragmática, que não será construída através de relação pessoal ou ideológica mas em torno de interesses práticos comuns", prevê por sua vez Alexander Baunov, do Centre Carnegie de Moscovo.

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