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Mudança de embaixadores gera polémica em Cabo Verde

A nomeação de novos embaixadores está a gerar muito debate em Cabo Verde, com os partidos da oposição e ex-primeiro-ministro a criticarem o que consideram ser "nomeações políticas", e o Governo a garantir que os nomeados têm perfil adequado.

Mudança de embaixadores gera polémica em Cabo Verde
Notícias ao Minuto

23:33 - 22/07/16 por Lusa

Mundo Ulisses Correia

O primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, anunciou quarta-feira a substituição dos embaixadores em Portugal, Bélgica e Estados Unidos, com destaque para o antigo primeiro-ministro do MpD, partido atualmente no poder, Carlos Veiga, que vai chefiar a missão diplomática do país em Washington, em substituição do ex-secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros José Luís Rocha.

Ulisses Correia e Silva confirmou também a nomeação do ex-deputado Eurico Monteiro para a embaixada de Cabo Verde em Portugal, substituindo Madalena Neves, e o deputado do MpD José Filomeno para a Bélgica, no lugar do ex-ministro Jorge Borges.

Os nomes escolhidos foram enviados ao Presidente da República, Jorge Carlos Fonseca, e aguarda-se a sua confirmação, depois de terem já sido publicadas no Boletim Oficial as exonerações dos anteriores, num processo que tem gerado um intenso debate no país, com críticas dos partidos da oposição ao que dizem ser "nomeações políticas".

Para o vice-presidente do Partido Africano da Independência de Cabo Verde, Rui Semedo, o primeiro-ministro está a desvalorizar os compromissos de despartidarização do Estado assumidos durante a campanha que deu a vitória ao Movimento para a Democracia (MpD) nas legislativas de 20 de março último.

Em declarações à Rádio de Cabo Verde (RCV), o presidente da União Cabo-verdiana, Independente e Democrática (UCID), António Monteiro, sublinhou que o que está em causa não é a capacidade técnica e política dos nomeados, mas sim a forma como o processo está a ser conduzido.

"As nomeações são políticas e devemos assumi-las como tal, porque outrora aconteceu, está a acontecer agora, apesar de o partido que ganhou as eleições a 20 de março passado dizer que na função pública e nas instituições iríamos ter a despartidarização", referiu António Monteiro.

Tanto o vice-presidente do PAICV como o líder da UCID chamaram atenção do primeiro-ministro e apelaram ao Presidente da República para que analise "de forma clara" a situação e ponha em primeiro plano os interesses de Cabo Verde e não os interesses partidários.

O assunto provocou ainda uma troca de mensagens na rede social Facebook entre Eurico Monteiro e o ex-primeiro-ministro José Maria Neves, que notou que alguns diplomatas seniores são "presumidos políticos", apelando ao Presidente da República a não enveredar por esse "caminho tortuoso" de aceitar os nomes.

"Desde a Independência foram nomeados embaixadores políticos, aliás em 1975 nem carreira diplomática tínhamos. Todavia, a partir de 2011, quando o Presidente da República recusou a nomeação de Mário Matos, cuja escolha tinha sido aprovada pelo Presidente Pedro Pires, pois já tinha 'agrément' do Governo espanhol, por razões que todos sabemos, deixamos de propor Embaixadores Políticos, restando, em 2016, apenas Madalena Neves", lembrou.

Eurico Monteiro escreveu na sua página na rede social que José Maria Neves se sente triste por ele ter sido convidado para o cargo de embaixador de Cabo Verde em Lisboa e recordou várias nomeações que o ex-chefe do Governo fez durante os 15 anos que governou o país e que considera também que foram políticas.

Em declarações à RCV, o analista, académico e embaixador jubilado cabo-verdiano Corsino Tolentino pediu ponderação ao Presidente da República, considerando ser normal o Governo nomear embaixadores políticos, mas disse que isso só deve acontecer se estiverem esgotadas as opções dentro dos quadros de carreira diplomática do Ministério dos Negócios Estrangeiros.

"Só depois de esgotar todas as possibilidades dentro da carreira é que devíamos recorrer aos embaixadores políticos, uma vez que já vamos com 41 anos de independência e já houve tempo de desenvolver essa carreira", sustentou Corsino Tolentino, que recomendou mais diálogo a Ulisses Correia e Silva nas decisões que toma.

Ulisses Correia e Silva disse na quarta-feira que as mudanças são "opções de Governo" e que os postos em que ocorreram são representações diplomáticas muito importantes e prioritárias para Cabo Verde, pelo que o Executivo quis ter pessoas com perfis adequados à importância das embaixadas.

Questionado sobre as críticas da oposição cabo-verdiana de que as nomeações dos embaixadores são políticas, Ulisses Correia e Silva disse apenas que a maioria está a governar.

"Sempre critiquei embaixadores que fazem política, sendo embaixadores de carreira ou não, devem estar restritos à missão de representar o Estado de Cabo Verde e não representar qualquer interesse política partidária", salientou Correia e Silva.

Os atuais embaixadores manter-se-ão nos postos até à sua substituição, que deverá ocorrer até finais do mês de agosto.

RYPE // EL

Lusa/fim

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