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Manifestação no Brasil é "tentativa de golpe parlamentar"
O sociólogo Boaventura Sousa Santos considerou hoje que as manifestações de domingo, que juntaram centenas de milhar pessoas contra o governo de Dilma Roussef, constitui "uma destabilização perigosa e configura um golpe parlamentar".
© Reuters
Mundo Sociólogo
"O que estamos a assistir no Brasil é uma destabilização perigosa que não está a acontecer apenas no Brasil, mas que tem no Brasil uma violência muito especial e que no meu entender neste momento configura um golpe parlamentar", adiantou o sociólogo à agência Lusa, salientando que a intenção é provocar a saída de Dilma Roussef do governo.
No entender de Boaventura Sousa Santos, e de acordo com a constituição brasileira, Dilma Roussef só pode ser impedida de governar "se cometer um ato criminoso durante o seu mandato e, até agora isso não aconteceu".
De acordo com o responsável, na origem dos protestos está a "inconformidade das forças da oposição por terem perdido as eleições, facto que não aceitaram democraticamente".
"50 anos depois do golpe militar de 1964 em que houve uma forte intervenção estrangeira na destabilização do Brasil, eu suspeito que neste momento voltamos (...) a ter a ajuda de uma intervenção estrangeira, que está também presente na Argentina e Venezuela, refiro-me à interferência dos Estados Unidos", disse.
Na opinião de Boaventura Sousa Santos, os Estado Unidos "têm mostrado interesse em que a presidente Dilma deixe de estar à frente do Governo por razões que não têm nada a ver com a questão das políticas públicas, mas com as grandes reservas de petróleo do mar profundo não terem sido privatizadas".
"Esta destabilização tem muito a ver com o facto de Lula da Silva ter mostrado a vontade de se candidatar em 2018. Ele é um dos políticos mais queridos do povo brasileiro, das classes populares. As oligarquias não se conformaram com a ideia e procuraram cortar o mal pela raiz, isto é: destrui-lo politicamente", frisou.
Boaventura Sousa Santos disse estar "muito preocupado" com a situação no Brasil, destacando que a manifestação pode ser uma "divisão de águas".
"Agora o protesto popular já é um protesto das classes, que querem o poder nas próximas eleições. Há aqui uma mudança qualitativa, que no meu entender pode conduzir a um golpe parlamentar", disse.
No país, os números preliminares das autoridades policiais estimam que três milhões de pessoas saíram às ruas domingo para se posicionar contra a corrupção e para pedir a destituição do governo da presidente Dilma Rousseff.
Num comunicado divulgado após os protestos, o governo brasileiro informou que os protestos são uma prova de que a liberdade de manifestação é própria das democracias e por todos deve ser respeitada.
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