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"Internacional Islâmica é fruto de humilhações ao Médio Oriente"

O politólogo Jaime Nogueira Pinto defendeu hoje que o surgimento da "Internacional Islâmica", uma comunidade com valores políticos -- e não éticos - comuns, se deveu a humilhações infligidas pelo Ocidente ao Médio Oriente, que resultaram na sua fragmentação.

"Internacional Islâmica é fruto de humilhações ao Médio Oriente"
Notícias ao Minuto

10:26 - 21/11/15 por Lusa

Mundo Politólogo

Nogueira Pinto falava na sessão inaugural da segunda edição do Diáspora - Festival Literário de Belmonte -- que decorre até domingo -, num painel realizado na Igreja Matriz, moderado pelo padre Carlos Lourenço e que contou igualmente com a participação do escritor Pedro Mexia e do jornalista Nuno Tiago Pinto.

A igreja estava cheia para ouvir os oradores debaterem o que tem a humanidade feito, ao longo dos tempos, "Em Nome de Deus", um tema tanto mais atual e pertinente quanto a necessidade de deter grupos extremistas como o autodenominado Estado Islâmico, que matou 129 pessoas em vários atentados simultâneos em Paris, a 13 de novembro, e a Al-Qaida, que na sexta-feira fez 27 mortos no Mali.

Começando por uma resumida aula de história sobre as três religiões monoteístas - Cristianismo, Islamismo e Judaísmo -- na igreja católica da vila que é a única comunidade reconhecida como herdeira legítima da presença histórica dos judeus sefarditas na Península Ibérica, o politólogo sustentou que o Islão tinha inicialmente "um histórico de tolerância em relação a outros cultos religiosos" que desapareceu com a humilhação a que foram sujeitos pelas potências coloniais.

"Eça de Queirós, num livro intitulado 'O Egipto', tem páginas extraordinárias sobre essa profunda humilhação quer cultural, quer civilizacional, quer económica que as potências europeias infligiram aos países do norte de África, explorando-os", referiu.

A essa humilhação somou-se a derrota do Império Otomano na Primeira Guerra Mundial e o surgimento, após a Segunda Guerra, de "uma série de movimentos independentistas em Estados de maioria muçulmana -- o mais conhecido dos quais é o 'Nasserismo', no Egito --, com a ânsia de formar novos Estados inspirados no nacionalismo laico, por vezes socializante, com características de autoritarismo (...), em que os exércitos aparecem não só como elementos de legitimação do poder político como de modernização", explicou.

Em reação aos acontecimentos de 1979, prosseguiu, "um ano decisivo, marcado pela tomada do poder no Irão pela minoria xiita, a tomada da segunda mesquita de Meca, em revolta contra a família real saudita, e a invasão soviética do Afeganistão, vai surgir uma fortíssima identidade religiosa do Islão personificada por Usama bin Laden".

"O internacionalismo ideológico que tinha existido na guerra civil de Espanha regressa na guerra do Afeganistão, na luta contra os soviéticos -- e foram os americanos e os ingleses que canalizaram todos os recursos para essa Internacional Islâmica", frisou.

Os atentados de 11 de Setembro inserem-se nessa estratégia de Bin Laden de derrubar o inimigo distante, os Estados Unidos, para dessa forma derrubar o inimigo próximo, a família real saudita, que Washington apoiava.

"A grande tragédia do Médio Oriente hoje é que, fruto de intervenções americanas mal pensadas e mal acabadas, se encontra totalmente fragmentado, porque nesses países as autoridades são tribais, e regressou a uma espécie de 'estado de natureza' como o descreveu Thomas Hobbes, uma situação de guerra de todos contra todos", observou Nogueira Pinto.

Foi desta fragmentação do Médio Oriente "que surgiu o autodenominado Estado Islâmico, que nos atormenta a todos", comentou o investigador, que há poucos meses publicou um livro intitulado "O Islão e o Ocidente", advertindo: "E isto não é um problema que se vá resolver, é um problema com que vamos ter de aprender a viver porque vai durar, e temos de nos preparar para isso".

A seguir, sublinhou que "não há uma tradição suicida no Islão, é uma coisa relativamente nova", e citou Maquiavel, num relatório que escreveu enquanto secretário do governo de Florença: "O problema é que eles nos odeiam tanto que querem mais a nossa morte do que a vida deles".

"Portanto, o suicídio é também um ato político, de destruição e de protesto", concluiu.

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