Ainda sem representação parlamentar em Espanha (o Podemos tem apenas cinco eurodeputados), o partido de Pablo Iglesias construiu uma oportunidade de responder ao debate sobre o Estado da Nação, que hoje terminou no Congresso dos Deputados, organizando um 'meeting' no Teatro Fernando de Rojas, no Círculo de Bellas Artes de Madrid.

Num auditório à antiga, com plateia e dois balcões, completamente cheio, o líder do Podemos foi saudado ao som de "Pablo presidente, Pablo presidente" dos seus apoiantes.

Após a exibição de um vídeo com as principais declarações do presidente do Governo espanhol, Mariano Rajoy, no debate do Congresso, Pablo Iglesias começou a sua intervenção declarando que o Podemos é "a" oposição que o PP não tem tido.

"Já fazia falta a oposição responder a Rajoy. [...] Vim aqui debater com Rajoy porque ele ainda não o fez com a oposição", sublinhou Pablo Iglesias, que dirige um partido que as sondagens colocam como a segunda - e algumas, a primeira - força política de Espanha.

Além disso, o líder do Podemos desafiou mesmo Mariano Rajoy a um debate cara-a-cara, "quando quiser e onde quiser". "Oxalá o façamos rapidamente, e na televisão", atirou.

Na sua intervenção inicial no debate sobre o Estado da Nação, o chefe do Governo apresentou Espanha como um país que está a sair da crise, que criou emprego em 2014 - pela primeira vez em sete anos - e que vai crescer 2,4% este ano. Rajoy disse mesmo que Espanha "está a sair do pesadelo".

Pablo Iglesias contrapôs hoje que "o pesadelo é uma realidade", que existem "7,7 milhões de trabalhadores espanhóis que ganham menos de mil euros".

"O pesadelo é que é a realidade. Com 600 euros uma família não consegue viver", realçou.

Por isso mesmo disse que Espanha "tem de impulsionar outra política de criação de emprego. Crescimento económico com inovação e tecnologia, com formação, meio ambiente e políticas ativas de emprego", disse Iglesias, sem concretizar.

Sobre a questão da dívida espanhola - o Podemos defende uma linha semelhante ao que defendia o Siryza na Grécia - Pablo Iglesias afirmou que "Espanha vai pagar 100 milhões de euros por dia em dívida", porque a dívida externa espanhola chegou a 100% do PIB.

"É necessário reestruturar a dívida, é o que pedem os peritos e os prémios Nobel", sublinhou Iglesias, acrescentando que "não quer que Espanha seja uma colónia da Alemanha".

Iglesias também deixou uma proposta: introduzir um imposto sobre a riqueza.

"Temos um exemplo em França, onde o imposto sobre as grandes fortunas arrecada 0,23% do PIB. Sei que os ricos fazem falta para que funcione a economia de mercado, mas fazem falta ricos responsáveis", disse.

A intervenção terminou com uma ovação de pé, com os apoiantes a gritarem "Si, se puede" ("Sim, pode-se [ou podemos]").