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Ucranianos anseiam por eleições, mas "caem mil drones por noite"

O primeiro vice-presidente do parlamento da Ucrânia, Oleksandr Kornienko, afirma que os ucranianos anseiam por eleições, quase sete anos após a última votação, mas adverte que a organização de um escrutínio é incompatível com mil drones russos por noite.

Ucranianos anseiam por eleições, mas "caem mil drones por noite"

© Lusa

Lusa
18/10/2025 10:26 ‧ há 1 dia por Lusa

um dos principais rumores na Ucrânia: quando serão as eleições?", relata o número dois da Verkhovna Rada (parlamento), em entrevista à agência Lusa, dando conta de que os "ucranianos estão cansados" deste longo ciclo legislativo e desejam ser chamados às urnas logo que possível.

 

Kornienko, que foi líder entre 2019 e 2021 do partido maioritário Servo do Povo (do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky), esteve em Lisboa na sexta-feira, onde participou na conferencia internacional "Reconstrução da Ucrânia", promovida pelas representações de Kyiv e da Estónia em Portugal.

Sobre o momento politico na Ucrânia, conta como, na verdade, "é simples explicar" a ânsia de eleições, dando conta de um país que, desde a sua independência em 1991, teve numerosos ciclos legislativos interrompidos ao fim de um ano ou dois no máximo e "sete não é de todo habitual".

O responsável parlamentar de 41 anos descreve que muitos deputados apenas desejam terminar a nona e mais longa legislatura da democracia da Ucrânia e seguir outros percursos profissionais, antecedendo a convocatória para uma décima, que será "a mais difícil" da sua história.

"As pessoas já nos odeiam e nós odiamo-nos a nós próprios", declara Kornienko, lembrando o desconforto de ir ao supermercado e enfrentar outros clientes que perguntam "o que estão ainda ali a fazer?" ou das suas filhas que crescem sem assistir a uma renovação política, que, segundo defende, já pedia outro tipo de representação, como os veteranos das forças armadas.

Mais do que a lei marcial, em vigor desde a invasão russa em fevereiro de 2022, o vice-presidente da Verkhovna Rada assinala problemas técnicos e físicos que impedem a realização de uma votação em tempo de guerra.

Nesse sentido, questiona como é possível realizar eleições quando "caem mil [drones] shahed por noite" na Ucrânia, que tem cerca de 20% do seu território ocupado e que mobiliza centenas de milhares de militares nas zonas de combate, além de mais de cinco milhões de refugiados fora do país.

Kornienko acrescenta que a lei marcial prevê exceções aos direitos constitucionais, mas que "não são promovidas" pela Ucrânia, exemplificando com protestos constantes junto do parlamento de mães e familiares de prisioneiros de guerra e que não são dispersados, mesmo quando bloqueiam deputados, tal como as manifestações antigovernamentais em julho passado, quando Volodymyr Zelensky pretendia aprovar uma polémica reforma institucional na luta contra a corrupção.

"Eu fui um dos que acabou por votar a favor de uma boa decisão", recorda, a propósito da reversão da proposta presidencial, reconhecendo que a sua decisão foi reforçada pelos protestos daqueles "jovens brilhantes sem influências políticas" e que não foram reprimidos, do mesmo modo que destaca que a lei marcial não implicou a censura da comunicação social.

Dos 426 deputados em 2019, o responsável do parlamento refere que restam 395, dos quais três morreram entretanto, outros pertenciam a partidos pró-Kremlin ou tinham nacionalidade russa, havendo ainda um caso de um representante acusado de traição e que foi assassinado mais tarde em Moscovo, numa morte que vários media internacionais atribuíram aos serviços de informações de Kyiv.

Kornienko admite que já "é muito difícil motivar" uma parte dos deputados restantes a fazer mais do que as votações importantes em plenário, como o orçamento, a renovação da lei marcial a cada três meses, reformas militares no âmbito da cooperação com a NATO ou impostas pelo processo de adesão à União Europeia, apesar do bloqueio húngaro, mas que diz recolher 80% do apoio dos ucranianos.

Durante a sua visita a Lisboa, o vice-presidente da Verkhovna Rada viajou com deputados e autarcas sobretudo proveniente da região de Jitomir, na Ucrânia central, onde Portugal e Estónia apoiam projetos de reconstrução, salientando que alguns membros da delegação pertencem à oposição mas partilham "um consenso de responsabilidade".

Na essência, trata-se da recuperação de infraestruturas sociais, como escolas, hospitais, centros sociais, não só em resultado da destruição dos bombardeamentos russos, como da degradação de instalações da herança soviética, destacando um amplo projeto de abrigos antiaéreos nos estabelecimentos de ensino, "porque infelizmente precisam deles".

Na mesma linha, existem também iniciativas para dotar estas instalações civis com maior autonomia energética, "uma vez que há alertas e ataques aéreos a toda a hora".

"Só com a Unicef, equipámos mais de cem hospitais com painéis solares e armazéns, e faremos mais com os outros parceiros", observa, ao elogiar a cooperação com Portugal e Estónia em Jitomir e que prevê uma reforma educativa, tal como já tinha sido anunciado na primeira conferência sobre reconstrução da região, realizada no ano passado na cidade ucraniana.

A reconstrução da Ucrânia implica "muitos desafios" e não apenas provocados pela destruição, o que enquadra os atuais apoios em "caridade social" e não em investimento.

O político ucraniano assinala problemas colocados por "riscos de seguros de guerra", que está a merecer atenção das autoridades de Kyiv, mas que, mesmo para empresas internacionais experientes, "é algo novo" e sem paralelo em termos de escala com outros casos no passado, como o Iraque ou o Afeganistão.

Por outro lado, Kornienko lamenta que o seu país esteja a passar por falta de mão de obra, enquanto mantém uma "indústria agrícola brilhante, uma industria energética brilhante" e um PIB a crescer: "Não estamos a trabalhar mal em tempo de guerra".

Apesar do conflito, frisa que foi possível alcançar um grande acordo de investimento com os Estados Unidos, que pode ser útil na atração de novos investidores, embora reconheça que será mais fácil fazê-lo no oeste da Ucrânia e longe da linha de contacto com a invasão russa do que, por exemplo, na região de Kyiv, que é saturada por bombardeamentos persistentes.

"Temos de resolver a questão do seguro de risco e estamos a trabalhar nesse sentido com a Comissão Europeia e com os americanos", afirma, além de insistir na questão da falta de força de trabalho, em particular nas comunidades mais pequenas, e essa e uma das partes em que considera que o apoio português pode ser importante.

Kornienko elogia aliás a relação entre os dois países e o acolhimento de cerca de 40 mil ucranianos antes da guerra, a que somaram entretanto cerca de 60 mil refugiados, segundo dados da ONU, e o apoio constante a Kyiv desde o início da invasão russa: "Estamos sempre gratos a Portugal".

Leia Também: Ucrânia acusa Coreia do Norte de participar em operações de drones

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