A explosão, ocorrida na noite de quinta-feira diante da casa de Sigfrido Ranucci, em Pomezia, cerca de 20 quilómetros a sul de Roma, não causou vítimas, mas destruiu o carro do jornalista da televisão pública italiana RAI e danificou a viatura da filha, bem como a fachada de uma casa próxima.
Ranucci, apresentador do popular programa de investigação Report na televisão pública, que apresentou formalmente queixa na polícia, adiantou já ter sido alvo de diversas ameaças no passado, com balas deixadas à porta de casa, mas admitiu agora a "subida de nível" de ameaça
A explosão foi tão potente que "podia ter matado qualquer pessoa que passasse na zona naquele momento", sublinhou.
O jornalista, de 64, anos apresenta o programa de investigação Report desde 2017, tendo sido colocado sob proteção policial em 2021, na sequência de ameaças da 'Ndrangheta, máfia sediada na Calábria (sul).
Tanto o Governo como várias figuras políticas do país condenaram estes acontecimentos, classificando-os como uma ameaça à liberdade de imprensa e de expressão, com a primeira-ministra, Giorgia Meloni, a manifestar "total solidariedade" com o jornalista e a condenar o que classificou como um "grave ato de intimidação".
"A liberdade e a independência da informação são valores inalienáveis das nossas democracias que continuaremos a defender", garantiu, em comunicado.
Além de Meloni, vários ministros também tomaram posições públicas, na sequência deste incidente, casos dos ministros da Justiça, Carlos Nordio, da Defesa, Guido Crosetto, e dos Negócios Estrangeiros e vice-primeiro-ministro, Antonio Tajani, que afirmou: "não há motivo que justifique essa violência".
Igualmente o Presidente italiano, Sergio Mattarella, já expressou solidariedade ao jornalista e a "severa condenação" do "ato de intimidação" de que Ranucci foi alvo, de acordo com o palácio presidencial.
Também figuras populares do jornalismo e da cultura condenaram o sucedido, com o jornalista e escritor Roberto Saviano, sob proteção há muitos anos devido aos livros sobre a máfia, a observar que "quando se decide que um jornalista pode ser um alvo, significa que alguém quer estabelecer que certos assuntos não devem ser tocados".
Por seu lado, a líder do principal partido da oposição, Elly Schlein, secretária-geral do Partido Democrático (centro-esquerda), classificou a explosão da bomba no carro do jornalista como "um ataque à democracia e à liberdade de informação".
"Os responsáveis e o motivo deste grave ataque devem ser encontrados", pois não se pode "aceitar intimidações contra o jornalismo de investigação", afirmou.
Também a Comissão Europeia já reagiu, com um porta-voz do executivo comunitário a condenar, durante a conferência de imprensa diária em Bruxelas, o ataque e a sustentar que "a intimidação e o assédio contra jornalistas não têm lugar na Europa", onde os profissionais da comunicação social "devem poder realizar um trabalho essencial em segurança, livres de ameaças e ataques".
Do mesmo modo, a presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, manifestou solidariedade com Ranucci, numa mensagem na rede social X, e "alívio por ele e a filha terem saído ilesos deste terrível ataque".
Metsola destacou que "a liberdade de imprensa é o cerne da democracia" e "a Europa nunca dará um passo atrás" na sua defesa.
Desconhecendo-se ainda o autor e o motivo da explosão, o caso está a ser investigado também pelos promotores antimáfia de Roma, que consideraram o crime de danos com agravante de método mafioso, informaram os meios de comunicação italianos.
Na classificação da Liberdade de Imprensa da organização não-governamental Repórteres Sem Fronteiras (RSF), Itália caiu este ano para a 49.ª posição na tabela, três posições abaixo relativamente ao ano passado, situando-se como o pior país para o exercício do jornalismo na Europa Ocidental.
A RSF "condenou veementemente" o que considerou ser "uma tentativa violenta de intimidar o jornalista de investigação Sigfrido Ranucci", sublinhando tratar-se do "ataque mais grave contra um jornalista italiano nos últimos anos".
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