A conclusão é apontada no relatório "Índice Global de Pobreza Multidimensional (IPM) 2025", divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e a Iniciativa Pobreza e Humanidade (OPHI, na sigla em inglês), da Universidade de Oxford.
Os autores do documento destacaram que a crise climática está a remodelar a pobreza global, sendo que as duas regiões mais afetadas são a África subsariana (565 milhões de pessoas pobres) e o sul da Ásia (390 milhões), ambas altamente vulneráveis aos impactos de alterações climáticas como calor extremo, inundações, secas ou poluição atmosférica.
"Ninguém está isento dos impactos cada vez mais severos e frequentes das alterações climáticas (...), mas os mais pobres são os mais afetados", alertou o vice secretário-geral do PNUD, Xu Haoliang.
"Este relatório mostra onde a crise climática e a pobreza estão a convergir mais. Compreender onde o planeta está sob maior pressão e onde as pessoas enfrentam fardos adicionais criados pelos desafios climáticos é essencial para a criação de estratégias de desenvolvimento que se reforcem mutuamente e coloquem a humanidade no centro da ação climática", defendeu a coautora do relatório Sabina Alkire.
O índice, que abrange indicadores como a subnutrição e a mortalidade infantil, a falta de habitação adequada, os sistemas de saneamento, a eletricidade e o acesso à educação, refere que, no ano passado, 1,1 mil milhões de pessoas viviam em pobreza multidimensional, sendo que metade era menor de idade.
O relatório constatou ainda que, entre este total, "651 milhões de pessoas estavam expostos a dois ou mais riscos climáticos", enquanto "309 milhões enfrentavam três ou quatro riscos em simultâneo".
A exposição a riscos climáticos agrava os desafios diários enfrentados pelas pessoas que vivem na pobreza, reforçando e aprofundando as suas desvantagens, lembraram os investigadores.
Ao sobrepor dados sobre riscos climáticos com dados sobre pobreza multidimensional, os resultados mostraram um mundo onde a pobreza não é apenas uma questão socioeconómica isolada, mas um cenário profundamente interligada às pressões e instabilidades planetárias, adiantaram.
"A nossa nova investigação mostra que, para combater a pobreza global e criar um mundo mais estável para todos, precisamos de enfrentar os riscos climáticos que colocam em causa quase 900 milhões de pessoas pobres", defendeu Xu Haoliang.
"Quando os líderes mundiais se reunirem no Brasil, no próximo mês, para a Conferência do Clima (COP30), os seus compromissos climáticos nacionais deverão revitalizar o progresso estagnado do desenvolvimento que ameaça deixar para trás as pessoas mais pobres do mundo", sublinhou o responsável.
A poucas semanas da realização da COP30 no Brasil -- que decorre na Amazónia, de 10 a 21 de novembro -, o PNUD e o OPHI quiseram destacar "a sobreposição" entre esta pobreza e a exposição a quatro riscos ambientais: calor extremo (pelo menos 30 dias acima dos 35°C), seca, inundações e poluição do ar (concentração de partículas finas).
Individualmente, e de acordo com este documento, os riscos mais generalizados que afetam as pessoas pobres em todo o mundo são o calor intenso (608 milhões de pessoas) e a poluição atmosférica (577 milhões).
As regiões propensas a inundações albergam 465 milhões de pessoas pobres, enquanto 207 milhões vivem em zonas afetadas pela seca.
O PNUD e o OPHI publicam anualmente o Índice Global de Pobreza Multidimensional, que inclui dados de 109 países, num total de 6,3 mil milhões de pessoas.
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