Durante uma conferência de imprensa, na quinta-feira, Mulino afirmou, sem apresentar provas, que "alguém na embaixada dos EUA está a ameaçar retirar vistos", o que considerou "incoerente com a boa relação que aspiro manter com os Estados Unidos". O chefe de Estado não identificou o alegado responsável.
Em resposta, o embaixador dos EUA no Panamá, Kevin Marino Cabrera, afirmou que "um visto é um privilégio, não um direito" e sublinhou que os vistos são concedidos ou revogados "de acordo com as leis e regulamentos dos EUA, independentemente da profissão ou cargo da pessoa no Governo".
O diplomata citou uma política, anunciada em setembro, pelo Departamento de Estado, que prevê restrições de vistos para cidadãos da América Central que atuem em nome do Partido Comunista Chinês, com o objetivo de minar o Estado de direito na região.
Em setembro, o Departamento de Estado reiterou que os EUA estão empenhados em contrariar a influência chinesa na América Central e que restringiriam vistos a pessoas com ligações ao Partido Comunista Chinês ou envolvidas em ações contra a democracia em nome da China.
Esta semana, a administração do presidente Donald Trump revogou os vistos de seis cidadãos estrangeiros que, segundo as autoridades norte-americanas, fizeram comentários depreciativos ou minimizaram o assassínio do ativista conservador Charlie Kirk, em setembro.
Casos semelhantes surgiram recentemente na região. Em abril, o ex-presidente da Costa Rica e Nobel da Paz em 1987 Óscar Arias afirmou que os EUA cancelaram o seu visto. Em julho, a vice-presidente do Congresso da Costa Rica, Vanessa Castro, revelou que a embaixada norte-americana lhe comunicou a revogação do visto, alegadamente devido a contactos com o Partido Comunista Chinês.
O Panamá tem sido especialmente sensível às tensões entre os EUA e a China devido à importância estratégica do Canal do Panamá. Em fevereiro, o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, visitou o país e pediu a redução imediata da influência chinesa sobre o canal.
Apesar de negar qualquer influência chinesa, o Panamá acedeu à pressão norte-americana para que uma empresa de Hong Kong, que opera portos em ambas as extremidades da infraestrutura, venda a concessão a um consórcio dos EUA.
O presidente do Panamá reiterou na quinta-feira que o país manterá a neutralidade do canal.
"Eles são livres de dar e retirar vistos a quem quiserem, mas não de ameaçar dizendo que se não fizeres algo, tiro-te o visto", afirmou José Raúl Mulino. "O conflito entre os EUA e a China não envolve o Panamá", concluiu.
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