Depois de o ministro da Defesa israelita ameaçar na quarta-feira retomar os combates na Faixa de Gaza, caso o Hamas não respeite o acordo mediado pelo Presidente Donald Trump, a Casa Branca organizou uma conferência de imprensa telefónica com dois altos funcionários que, sob anonimato, se afastaram da interpretação de incumprimento por parte do movimento islamita palestiniano.
Em vez de sancionar o Hamas, afirmaram, a administração Trump está a trabalhar ativamente com mediadores internacionais para fornecer apoio logístico e informações para localizar os corpos que continuam desaparecidos, muitos deles possivelmente soterrados pelos escombros da guerra que devastou a Faixa de Gaza nos últimos dois anos.
As fontes explicaram que receberam garantias do Hamas, transmitidas por intermediários externos, de que fará todos os possíveis para localizar e devolver os restos mortais dos antigos reféns, cumprindo assim os seus compromissos internacionais.
Lembraram ainda que o governo norte-americano está a acompanhar de perto o processo, sublinhando a importância da cooperação humanitária para garantir o regresso dos corpos e a transparência no cumprimento do acordo diplomático.
De acordo com as autoridades, vários países, incluindo a Turquia, ofereceram-se para disponibilizar equipas especializadas para a recuperação de corpos, a maioria delas com experiência em catástrofes.
Uma das autoridades manifestou consideração pelo Hamas, salientando que o prazo de 72 horas estipulado para localizar e recuperar todos os corpos era muito difícil de cumprir.
Antes, o ministro da Defesa israelita, Israel Katz, ameaçou voltar à ofensiva perante a afirmação do movimento palestiniano de que tinha entregado todos os restos mortais de reféns mantidos em Gaza a que teve acesso.
Para o governante, esta é uma violação do acordo, que estipula que "o Hamas é obrigado a devolver todos os reféns mortos que mantém em seu poder".
"Se o Hamas se recusar a respeitar o acordo, Israel, em coordenação com os Estados Unidos, retomará os combates e trabalhará para a derrota total do Hamas", afirmou Katz em comunicado.
O gabinete do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, confirmou na quarta-feira que os caixões de dois reféns foram entregues pela Cruz Vermelha às forças israelitas na Faixa de Gaza.
O Exército israelita também divulgou que os caixões estavam em território israelita e "a caminho do Instituto Nacional de Medicina Legal para identificação", de acordo com um comunicado.
A entrega destes dois corpos junta-se aos sete corpos de reféns entregues anteriormente pelo Hamas, depois de um instituto forense israelita ter afirmado que um oitavo corpo não correspondia a nenhum dos 28 reféns mortos.
O Hamas afirmou, por sua vez, ter cumprido o seu "compromisso com o acordo" e disse que já entregou todos os "prisioneiros israelitas vivos sob a sua custódia, bem como os corpos a que teve acesso".
"Quanto aos restantes corpos, são necessários grandes esforços e equipamento especial para a sua recuperação e extração", acrescentou o Hamas num comunicado divulgado nos seus canais oficiais.
Há ainda 19 corpos de reféns israelitas por entregar, em troca de pelo menos 360 corpos de residentes de Gaza mortos durante a ofensiva, 90 dos quais já foram devolvidos a Gaza pelo Exército de Israel, conforme estipulado no acordo.
O cessar-fogo previa a entrega de todos os reféns, vivos e mortos, até à data limite, que expirou na segunda-feira.
Mas, segundo o acordo, se tal não acontecesse, o Hamas deveria partilhar informações sobre os reféns falecidos e tentar entregá-los o mais rapidamente possível.
Em troca dos reféns devolvidos pelo Hamas, 1.968 prisioneiros palestinianos foram também libertados na segunda-feira, incluindo muitos condenados por ataques mortais contra Israel, bem como 1.700 palestinianos presos por alegadas "razões de segurança", desde o início da guerra, em outubro de 2023.
O Presidente dos Estados Unidos também exigiu ao Hamas a devolução dos corpos dos reféns, após ter sido o principal impulsionador do acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza, negociado ao longo de vários dias em Sharm el-Sheikh, no Egito, com a mediação de delegações egípcias, cataris e turcas.
Nesta fase, foi acordado o cessar-fogo na Faixa de Gaza, a retirada gradual das forças israelitas, a entrada em massa de ajuda humanitária no enclave palestiniano e a troca de reféns por prisioneiros.
A segunda fase vai abordar a reconstrução, bem como o desarmamento do Hamas e a governação do enclave.
A guerra na Faixa de Gaza foi desencadeada pelos ataques liderados pelo Hamas em 07 de outubro de 2023 no sul de Israel, nos quais morreram cerca de 1.200 pessoas e 251 foram feitas reféns.
Em retaliação, Israel lançou uma operação militar em grande escala na Faixa de Gaza, que provocou mais de 67 mil mortos, segundo as autoridades locais controladas pelo Hamas, a destruição de quase todas as infraestruturas do território e a deslocação forçada de centenas de milhares de pessoas.
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