"Nós também recebemos o vídeo", disse o porta-voz do Conselho de Ministros, Inocêncio Impissa, questionado pelos jornalistas sobre a publicação, que se tornou viral nos últimos dias, com os alegados terroristas a surgiram no interior da mesquita, de cara tapada, durante um período de oração, ameaçando os fiéis no interior, repetindo um episódio idêntico nos dias anteriores.
"Nesta fase, o trabalho de peritagem é perceber onde, com quem, para ver se é possível identificar. E aí contámos com as nossas comunidades", disse o governante, acrescentando que "há um trabalho de inteligência que está a ser feito".
O caso aconteceu por volta das 19:00 locais (menos uma hora em Lisboa) de 07 de outubro, na mesquita do bairro Kumilamba, perto do porto local de Mocímboa da Praia.
"Estávamos a fazer o último swalate [reza] quando um grupo de por aí nove homens estranhos disseram para rezarmos o Islão para salvação", disse então uma fonte a partir de Mocímboa da Praia, relatando os contornos da invasão do templo.
Acrescentou que a incursão deixou os crentes em pânico, mas que continuaram no interior por receio, até que ao fim de 30 minutos os rebeldes deixaram a vila.
"Não abandonámos porque tínhamos medo, todos tinham armas de fogo", disse a fonte.
Não há registo de mortes nesta incursão, mas o pânico gerado entre moradores reforçou a pretensão de abandono da vila, face aos vários ataques no último mês.
A província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, rica em gás, é alvo de ataques terroristas há oito anos, com o primeiro ataque registado em 05 de outubro de 2017, no distrito da Mocímboa da Praia.
Oito anos após o primeiro ataque, o Governo afirma que continua a fazer esforços para garantir a segurança às populações e bens para que estas comunidades permaneçam nos seus lugares de origem em paz.
O Presidente de Moçambique, Daniel Chapo, considerou em 06 de outubro, como "atos bárbaros" e contra a "dignidade humana" os ataques terroristas que se registam em Cabo Delgado, província do norte do país.
O Projeto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED) contabiliza 6.257 mortos ao fim de oito anos de ataques terroristas em Cabo Delgado, alertando para a instabilidade atual, com o recrudescimento da violência.
"A situação é bastante instável. Em setembro, o Estado Islâmico de Moçambique (ISM) estava ativo em 11 distritos de Cabo Delgado e também cruzou para Nampula no final do mês", disse à Lusa Peter Bofin, investigador da ACLED, a propósito dos oito anos de insurgência armada na região.
Segundo Peter Bofin, investigador sénior desta organização que reúne e analisa dados sobre conflitos violentos e protestos em todo o mundo, desde outubro de 2017 foram registados em Cabo Delgado pelo menos "2.209 eventos de violência", com "6.257 mortes relatadas", sendo pelo menos 2.631 civis.
Quase 40 mil pessoas fugiram de seis distritos de Cabo Delgado, e ainda da província vizinha de Nampula, devido ao recrudescimento dos ataques terroristas no norte de Moçambique, segundo dados deste mês da Organização Internacional para as Migrações (OIM).
De acordo com o mais recente relatório do terreno daquela agência das Nações Unidas, entre 22 de setembro e 06 de outubro, a escalada de ataques e a insegurança provocada por grupos armados" levou a "novos deslocamentos" - num total de 39.643, equivalente a 12.335 famílias - essencialmente nos distritos de Balama, Mocímboa da Praia, Montepuez e Chiúre, Cabo Delgado, mas também em Memba, província de Nampula.
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